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De R$ 50 a R$ 0,40. Veja como a internet reduziu o custo do voto no DF

Candidatos se dividiram em dois grupos: os que apostaram na criatividade das redes sociais e os que preferiram a tradição nas ruas

atualizado

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1 de 1 Facebook and WhatsApp applications - Foto: iStock/Foto ilustrativa

O novo formato das bancadas do DF na Câmara dos Deputados e na Câmara Legislativa revela que nem sempre o investimento financeiro é garantia de vitória nas eleições. Para assegurar uma das cadeiras nos dois parlamentos, há candidato que investiu R$ 50,64 por cada voto; outro, mais econômico, gastou R$ 0,40 por eleitor. É o que aponta levantamento feito pelo Metrópoles com base na prestação de contas dos concorrentes no pleito de 2018 ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

A convite da reportagem, especialistas analisaram os números e apontaram dois fatores marcantes nas eleições proporcionais de 2018: os aspirantes a cargos públicos que decidiram seguir o modelo tradicional de campanha, e naturalmente mais dispendioso, com cabos eleitorais nas ruas; e os postulantes que apostaram conquistar o público pelas redes sociais, via internet.

Entre aqueles com despesas pequenas registradas na Justiça Eleitoral, estão os deputados federais Bia Kicis (PRP) e Luis Miranda (DEM). Além de se valerem da força das redes sociais para conquistar uma das oito vagas na Casa, os dois são defensores ferrenhos do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL). Com pouco tempo nos programas de rádio e televisão, a dupla recorreu às plataformas digitais para se aproximar do eleitor.

Os campeões de gasto por voto foram a deputada federal eleita Celina Leão (PP) e o deputado distrital reeleito Robério Negreiros (PSD), com custo de R$ 50,64 e R$ 42,70 por sufrágio, respectivamente. Os dois recorreram ao estilo tradicional de impressos e de reuniões com apoiadores para conquistarem a preferência do brasiliense (veja abaixo).

Na Câmara Legislativa, o vice-campeão de gastos por voto foi o deputado distrital eleito Eduardo Pedrosa (PTC), sobrinho da ex-buritizável Eliana Pedrosa (Pros). De família proprietária de empresas,  o novo parlamentar desembolsou R$ 37,11 por cada um dos 12.806 sufrágios recebidos no domingo retrasado (7/10). Para a Câmara dos Deputados, a deputada eleita Paula Belmonte (PPS), também empresária, foi a segunda que mais empenhou recursos por eleitor conquistado. Foram R$ 1.424.375,48 divididos por 46.069 votos recebidos, num total de R$ 30,92 por cada admirador.

Há ainda aqueles candidatos que apostaram pesado e, apesar disso, não foram escolhidos como representes da população da capital do país. É o caso do ex-vice-governador Tadeu Filippelli (MDB), que tentava uma cadeira na Câmara dos Deputados. Com currículo manchado de operações policiais e até mesmo a prisão no âmbito da Operação Panatenaico, o emedebista ficou de fora do Congresso Nacional. Para os 27.917 sufrágios recebidos, o ex-vice-governador teve um dispêndio de R$ 1.103.053,30, média de R$ 39,51 por voto.

O montante é calculado pelas despesas declaradas na terça-feira (15) à Justiça Eleitoral. Como o prazo para os postulantes quitarem as declarações ao TSE é novembro, pode haver alteração até a data-limite estipulada por lei. Há ainda o fator PTB-DF, já que candidatos da sigla tiveram a candidatura impugnada e, por estarem sub judice, os votos dados à agremiação não foram contabilizados até o julgamento da ação.

Para Paula Belmonte, o investimento é justificável, visto que, de todos os postulantes eleitos à Câmara dos Deputados, ela seria a menos conhecida pela população. “Não existe quem tenha trabalhado nesta campanha mais do que eu. Saía de casa às 4h e chegava às 2h da manhã. Alguns candidatos nunca foram eleitos, mas quem desses quatro era completamente desconhecido pelo público em geral? Era eu e tive de me apresentar para cada um”, disse.

Veja aqui quanto custou cada voto do seu candidato:

Custo do voto no DF by Metropoles on Scribd

Criatividade X Investimento
Para o mestre em comunicação política e governança pela George Washington University (EUA) Aurélio Maduro, as eleições deixaram claro que há dois grupos de vitoriosos: quem investiu financeiramente e quem aderiu a uma campanha alternativa. “Há aqueles que trabalharam da maneira tradicional: se gasta mais, mais voto se tem. Agora, com o novo modelo, de baixo custo, os candidatos precisaram inovar de forma criativa para convencer o eleitorado”, avalia.

Maduro aponta o caso do general Paulo Chagas (PRP) como um exemplo do efeito puxador de voto. Candidato ao Palácio do Buriti apoiado por Jair Bolsonaro, o militar da reserva conquistou o quarto lugar na corrida ao GDF. “Apesar de ser pouco conhecido, conquistou mais sufrágios até que políticos profissionais. É um nome ativo nas redes sociais e sempre exaltou o presidenciável. O retorno foi uma surpresa”, completou.

A opinião é comungada pelo professor emérito do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB) David Fleischer. Segundo ele, a decisão de investir na internet deve estar respaldada na confiança do aspirante ao cargo público em realmente ter segurança se a mensagem chegará ao eleitor.

“É claro que o fator rede social é importante, mas depende de quem realmente sabe operar todos os métodos tecnológicos. Teve candidato que preferiu não arriscar apenas na internet e seguiu paralelamente a campanha tradicional, nas ruas. Por outro lado, há aqueles que se garantiram com a força nas plataformas digitais”, disse.

O especialista aponta o caso Bolsonaro como o mais emblemático. “Ele não tinha dinheiro para nada, mas acabou ocupando um espaço das plataformas digitais e deixou o Partido dos Trabalhadores para trás. A força foi tão grande que, sem tempo de TV, conseguiu eleger uma das maiores bancadas do Congresso Nacional, inclusive com nomes eleitos pelo DF”, acrescentou.

“Voto eficiente”
Para o docente do Instituto de Ciência Política da UnB Ricardo Caldas, o fator determinante foi o chamado “voto eficiente”, aquela estratégia de saber utilizar corretamente os recursos com um retorno garantido.

Havia candidatos com o planejamento de campanha pronto antes mesmo do início oficial da corrida por votos. Outros preferiram apostar na conquista apenas em cima da hora. É claro que estes saíram prejudicados

Ricardo Caldas, cientista político da UnB

Segundo Caldas, não basta, por exemplo, o postulante se dispor a gastar menos — como em redes sociais — se não houve um histórico de engajamentos e de trabalho nas plataformas digitais. “Como exemplo, cito os presidenciáveis Henrique Meirelles (MDB) e João Amoedo (Novo). O emedebista gastou recursos próprios e teve um desempenho pífio. Já o Amoedo recorreu às vaquinhas virtuais e doações de aliados, fazendo com que o dispêndio pessoal fosse mínimo e o desempenho, melhor”, comparou.

Quando traz o cenário para o Distrito Federal, o cientista é ainda mais categórico. “Estas eleições foram completamente incomuns. Percebemos a intenção do eleitorado de sair em busca de propostas alternativas para o voto. Muitos diziam que as campanhas de rádio e TV seriam determinantes, mas não é essa a minha avaliação. Se querem candidatos alternativos, não vão procurar nos meios tradicionais. Por isso, houve a força das redes sociais. Esse fenômeno também atingiu a campanha majoritária ao GDF e mostrou um fenômeno: os eleitores querem algo novo”, avaliou.


Veja o ranking dos votos mais caros por candidato:

Arte/Metrópoles

Fator Bolsonaro
Por coincidência, parte dos candidatos que tiveram o menor gasto por voto nas últimas eleições são engajados nas redes sociais e defensores do capitão da reserva. Autoconclamada “a federal do Bolsonaro”, Bia Kicis fez uma campanha basicamente focada nas redes sociais. Com mais de 300 mil seguidores no Facebook, a ex-procuradora federal colou sua imagem ao do presidenciável do PSL e manteve engajamentos praticamente orgânicos nas redes. A decisão foi estimulada pelo pouco tempo de TV disponibilizado ao partido dela, o PRP.

Segundo mais econômico, o democrata Luis Miranda é um famoso digital influencer com mais de 3 milhões de usuários no Facebook. É, também, desde o início da campanha, militante em defesa da vitória de Bolsonaro. Com muitos seguidores que pensam da mesma forma, o empresário foi eleito, mesmo com residência fixa em Miami, nos Estados Unidos.

“Algumas pessoas menosprezaram as redes sociais, mas para tantos outros foi fundamental. Bolsonaro é a prova disso e comigo não foi diferente. Não recebi dinheiro do partido, não tive nenhum doador, foi apenas com os meus recursos. E mesmo diante de todas as dificuldades, conseguimos vencer”, disse o federal eleito.

Miranda relata ter chegado no Brasil em 12 de setembro e “trabalhar 20 horas por dia e participar de cerca de 15 reuniões. “Mas, sem dúvida, foram as redes que facilitaram todo o processo. As pessoas conheciam meu trabalho e sabiam quais eram meus ideais e projetos para resgatar a economia do Brasil”, frisou.

Sem a força da onda militar, Celina Leão e Paula Belmonte tiveram de recorrer à campanha de rua para fazer com que as bandeiras fossem conhecidas pela população. “São dois fatores que reduziram o custo desses votos: a força nas redes sociais e a força de Bolsonaro nestas eleições”, concorda a federal eleita Celina Leão. Paula Belmonte acompanha a linha de raciocínio da futura colega na Câmara e reconhece a força virtual de Bolsonaro neste pleito.

Da mesma forma, o reeleito Robério Negreiros avalia que a campanha foi mais dispendiosa para quem teve de enfrentar o eleitorado cara a cara. “Tivemos uma atuação presencial nas 31 cidades do DF. Tanto que tivemos votos em todas as cidades, sem exceção. O gasto foi feito dentro da previsão inicial e do limite imposto pela Lei Eleitoral”, explicou ele ao Metrópoles.

As diferenças entre estilos de campanha são apontadas como determinantes no resultado das urnas. Entre os campeões de gastos por eleitor, há os candidatos ligados a empresas e com alto poder econômico. Há, ainda, os que optaram por modelos alternativos.

Outro caso conhecido de criatividade foi o do deputado distrital eleito João Cardoso (Avante). Auditor de carreira, ele optou por pedir votos durante os extensos engarrafamentos na BR-020, na região entre Sobradinho e o Plano Piloto. A forma pouco usual de chamar atenção dos possíveis eleitores fez com que registrasse uma das mais baixas relações custo por voto: tirou do bolso R$ 0,80 por cada eleitor.

“Tivemos de optar por uma campanha barata e criativa. Não tínhamos dinheiro e foi a única forma que conseguimos fazer com que nossa mensagem chegasse aos eleitores. Foi uma experiência muito especial conhecer tantas histórias e momentos diferentes”, disse o novo deputado.

Voto milionário
Apesar de não ter sido eleita, a candidata à Câmara Legislativa Viviane (Podemos) teve apenas 24 votos nas eleições do dia 7 de outubro. Apesar disso, ela gastou R$ 34.996,20 na campanha, segundo a Justiça Eleitoral, o que faz dela a campeã de custo por eleitor nas Eleições 2018: R$ 1.458,18 por cada um deles.

Na mesma esteira de grandes desembolsos e pouco resultado, a também candidata à CLDF Mônica Álvares (PSDB) torrou R$ 38.759,75. No total, foram computados tímidos 103 votos, o que resultou uma média de R$ 376,31 por eleitor.

Há ainda o caso do candidato derrotado à Câmara Legislativa professor Celso (PSB). Com apenas R$ 4 depositados como investimento de campanha, ele obteve 2.832 votos. O número representa um custo zero por cada voto conquistado. Apesar disso, acabou na suplência para o Legislativo local.

Confira o valor por voto de cada distrital eleito para o próximo mandato:
Arte / Metrópoles

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