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Bandidos lavavam dinheiro das explosões de caixas no DF em baile funk

A Polícia Civil do DF estima que a quadrilha comandada por Thiago Alves Simões, que está foragido, lucrou ao menos R$ 1 milhão

atualizado

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Andre Borges/Esp. Metrópoles
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1 de 1 capa23 - Foto: Andre Borges/Esp. Metrópoles

Apontado como líder da organização criminosa acusada de roubar e explodir cinco caixas eletrônicos no DF, Thiago Alves Simões, 28 anos, tinha uma empresa chamada Feroz Produções de Eventos, responsável por organizar a festa de funk Baile dos Chefes em Ceilândia e no Entorno do DF. De acordo com os investigadores, após os crimes, o suspeito costumava fazer grandes eventos para supostamente lavar o dinheiro arrecadado com os assaltos. A polícia estima que a quadrilha comandada por ele lucrou ao menos R$ 1 milhão com os roubos.

Thiago nasceu em Minas Gerais, morou em Ceilândia e atualmente residia em Valparaíso (GO). Considerado um criminoso articulado e de altíssima periculosidade, era conhecido pela comunidade de Ceilândia e costumava publicar fotos em carros importados e de suas viagens nas redes sociais. Thiago também está envolvido com o tráfico de drogas e é considerado foragido.

Conforme revelou o Metrópoles nesta segunda-feira (13/05/2019), a quadrilha, que agia desde 2016, era estruturada, com hierarquia definida e arsenal à disposição, e começou a ser desmantelada pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF).

Além das cinco maiores explosões em caixas eletrônicos nos últimos 12 meses na capital, incluindo as ações no Anexo do Palácio do Buriti, no Shopping Pier 21, no Centro Comercial Gilberto Salomão, na Associação dos Servidores do Senado Federal (Assefe) e no Hotel Golden Tulip, próximo ao Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência da República, o bando teria roubado dois bancos no Entorno do DF.

Ao todo, nove integrantes da quadrilha foram identificados, sendo que cinco deles já estão presos – quatro preventivamente e dois temporariamente. As apurações, conduzidas pela Delegacia de Repressão a Furtos (DRF), vinculada à Coordenação de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Corpatri), intensificaram-se depois da ação audaciosa no Golden Tulip, na qual cerca de R$ 470 mil foram levados dos caixas.

As novas linhas de investigação chegaram a dois suspeitos que tinham como responsabilidade “guardar” os carros usados na fuga da quadrilha após as explosões. Andrevaldo Ferreira de Souza, 27, e Fernando Barbosa Alves, 26, confessaram a participação nas ações. As armas usadas por eles, como fuzil, escopeta e pistolas com seletor de rajadas, eram alugadas.

Os investigadores da DRF identificaram o “piloto” da quadrilha, escolhido para empreender fuga após os crimes. Mikael Mafra Dantas, 25, também está preso e recebia cerca de R$ 4 mil, pagos com dinheiro furtado dos caixas, para dar fuga aos criminosos.

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Padrão de atuação
As investigações conseguiram identificar o modus operandi da quadrilha. Os integrantes do grupo sempre planejavam os ataques depois de acompanharem, durante dias, a rotina dos locais que seriam alvo das explosões. Para despistar os investigadores, eles usavam telefones falsos, balaclavas, luvas e máscaras. Os carros utilizados nas investidas criminosas eram roubados e ficavam “esfriando” por mais de 30 dias em uma residência.

A organização criminosa agia durante a madrugada, fortemente armada e amparada por dois veículos. Um dos carros sempre era incendiado após a ação e os criminosos fugiam no outro, apelidado de “segundinha”.

Além do “piloto”, que tinha a responsabilidade de sair do local com os integrantes da quadrilha após as explosões, havia os homens que escondiam os veículos em local discreto. Na linha de frente do bando, os “explosivistas” tinham a missão de abrir buracos nos caixas eletrônicos.

Outros dois indivíduos fortemente armados tinham como atribuição garantir um perímetro de segurança e render vigias e seguranças, além de amarrá-los em algum local, como salas e banheiros. Os dois responsáveis eram, justamente, os líderes da quadrilha, Thiago Alves Simões e Jaisson Alves de Jesus, 27.

Segundo o diretor-geral da PCDF, Robson Cândido, os criminosos eram ousados e escolhiam roubar caixas da área central de Brasília por saber que eles acumulam mais dinheiro. “O trabalho conjunto da polícia permitiu a prisão dessa quadrilha. As investigações continuam”, ressaltou, em coletiva de imprensa nesta segunda-feira (13/05/2019).

Foragidos
Thiago é apontado pela polícia como o mentor intelectual das explosões. Além de ser um dos braços armados da quadrilha, o criminoso organiza toda a logística, o posicionamento e a cronologia das explosões. Conhecido como TH, o suspeito – que está com a prisão preventiva decretada – também era o responsável pela partilha do dinheiro retirado dos caixas eletrônicos.

Jaisson, outro foragido apontado como figura de destaque na quadrilha, tinha uma função fundamental nas ações. Com habilidades em marcenaria, o suspeito produzia os próprios explosivos usados nas ações. O bando comprava rojões em lojas de fogos de artifício para retirar a pólvora.

Em seguida, Jaisson produzia recipientes de um material chamado “metalon”, espécie de tubo metálico galvanizado. Os explosivos eram moldados artesanalmente e usados nos ataques.

Segundo o coordenador da Coordenação de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Corpatri), delegado André Leite, não existe qualquer ligação entre a quadrilha e facções criminosas, como se chegou a cogitar. A investigação complexa envolveu diversos setores da Polícia Civil. A primeira prisão ocorreu 12 dias depois do ataque aos caixas no Royal Tulip, no dia 28 de abril deste ano. Os policiais contaram até mesmo com acordos de colaboração premiada para chegar até todos os envolvidos. Os presos confessaram os crimes.

“São criminosos do DF e do Entorno que chegaram a um nível de organização capaz de realizar esses ataques. Com novas linhas de investigação, tivemos sucesso em identificar todos e prender metade do bando. É questão de tempo até que todos estejam atrás das grades”, afirmou o delegado.

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De acordo com o delegado da Delegacia de Repressão a Furtos, Fernando Cocito, que apura o caso, novas prisões devem ocorrer nos próximos dias. “É importante ressaltar que conseguimos provas irrefutáveis da participação dessa organização criminosa em todos os grandes casos de explosões a caixas eletrônicos que estavam sem autoria. A partir daí, foi possível localizar parte do bando e evitar novos ataques. Os outros autores estão sendo procurados”, disse.

 

Memória
O primeiro crime foi cometido pelo bando em 24 de julho de 2018, no Anexo do Palácio do Buriti. A explosão ocorreu por volta de 3h40. Os equipamentos estavam instalados na área do restaurante dos servidores. De acordo com a Polícia Militar, os suspeitos estavam fortemente armados e fugiram em um Palio branco. Durante a ação, os bandidos efetuaram de dois a quatro disparos no local.

Viaturas da PM e um helicóptero da Polícia Civil realizaram buscas e, minutos depois, um veículo foi encontrado em chamas nas proximidades do Estádio Nacional Mané Garrincha e do Colégio Militar de Brasília.

Após verificação, os policiais confirmaram que se tratava do automóvel envolvido no crime. No local da explosão, foram encontradas cápsulas de munição 5.56mm. Cerca de R$ 6 mil ficaram espalhados pelo chão.

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Veja vídeo do momento em que os dispositivos explodem no Anexo do Buriti:

 

O segundo ataque foi no Shopping Pier 21, em 22 de outubro do ano passado. Novamente portando armas de calibre restrito e até mesmo fuzil, os criminosos explodiram dois caixas eletrônicos. O grupo amarrou os vigilantes que faziam a segurança do centro comercial. Durante a fuga, trocaram tiros com policiais militares. Um dos carros utilizados foi abandonado no acesso da L4 Sul para a L2 Sul.

O grupo disparou pelo menos oito vezes contra os PMs, que revidaram. Cinco bandidos vestidos com balaclavas – para tapar os rostos – chegaram em um Mitsubishi Pajero e um deles permaneceu no veículo. Enquanto isso, os outros quatro entraram por trás do shopping e montaram os explosivos.

De acordo com a PM, um dos bandidos se feriu na explosão. Quando um comparsa foi socorrê-lo, um dos seguranças conseguiu escapar. Durante a fuga, o grupo lançou objetos pontiagudos de metal na pista, com objetivo de furar os pneus das viaturas da PM e, assim, dificultar a perseguição.

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Em 13 de dezembro passado, a quadrilha explodiu dois caixas eletrônicos em um supermercado que funciona no Centro Comercial Gilberto Salomão, no Lago Sul. De acordo com a PM, os caixas ficaram completamente destruídos.

O bando teria usado um carro branco na fuga, que foi abandonado na Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Epia), na altura da floricultura próximo à Octogonal. No local, os bandidos renderam um motorista e levaram seu veículo.

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Veja a ação da quadrilha:

 

A investida mais recente dos criminosos foi no hotel de luxo Golden Tulip Brasília Alvorada, localizado no SHTN, em 28 de março deste ano. Quatro bandidos explodiram três caixas eletrônicos. Os assaltantes estavam fortemente armados e renderam os funcionários do hotel, conhecido por hospedar empresários, artistas e autoridades que visitam a capital do país.

De acordo com as imagens de câmeras de segurança, enquanto um criminoso armado rendia um dos funcionários, outros dois comparsas forçaram a abertura dos equipamentos com auxílio de uma barra de ferro. Os caixas ficam ao lado das escadas que dão acesso ao restaurante do hotel. Só tem acesso ao local quem passa pela guarita.

Os homens colocaram explosivos no local e detonaram os artefatos. Toda a ação durou cerca de dois minutos. Um dos carros usados na fuga dos bandidos foi encontrado pela polícia na Asa Norte.

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