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O teto do apocalipse

Guardiões das boas maneiras liberais que ativaram os alarmes contra o Auxílio Brasil não apareceram quando surgiu a bomba dos precatórios

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
Paulo Guedes
1 de 1 Paulo Guedes - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Apareceu uma falange combativa de liberais exigindo respeito ao teto. É uma instituição tão venerável que nem precisa mais da expressão completa – “teto de gastos”. É o teto. Respeitem o teto. Não furem o teto. Isso é muito bom.

Só é curioso que esses guardiões implacáveis das boas maneiras liberais, que ativaram todos os alarmes semana passada contra o anúncio de um auxílio de renda popular, não tenham sido vistos em campo quando surgiu a bomba dos precatórios. Vamos contar a eles com jeitinho para não provocar uma epidemia de infartos: o bom e velho STF resolveu, por um desses acidentes naturais, colocar no colo do companheiro Paulo Guedes uma conta de quase R$ 90 bilhões – à vista, claro, que o STF tem pressa.

Por que essa revoada de papagaios foi pousar logo agora, toda de uma vez só, no colo do ministro Paulo Guedes? Já explicamos: por um acidente natural, uma trapaça da sorte, enfim, coisas da vida. Todo mundo sabe que o STF está aí para ajudar.

E a falange vigilante dos liberais fiscalistas? O que ela disse diante desse espetinho de R$ 90 bi – quase quatro vezes superior ao gasto adicional com o tal auxílio de renda? Não disse nada. Nem murmurou? Se murmurou, foi bem baixinho, porque o mercado nem ouviu e não apareceu ninguém tocando fogo no parquinho da Bovespa. Mas e o teto?

Teto? Que teto? O que se viu foi esse mesmo Paulo Guedes supracitado indo sozinho pedir clemência ao STF – sim, esse mesmo STF que ama o governo ao qual o ministro da Economia serve. Esse mesmo STF que dá bom dia, boa tarde e boa noite ao Palácio do Planalto com um tacape nas mãos. Do STF o ministro saiu correndo para o Congresso Nacional – instituição que como todos sabem só pensa nos interesses do Brasil e no equilíbrio das contas públicas – implorar para que a bomba dos precatórios fosse desarmada.

E os vigilantes do teto? Onde estavam eles no momento desse périplo aflito do zelador do cofre pela Praça dos Três Poderes? Estavam em outra. A vida de um vigilante do teto é muito desgastante, e ele também precisa relaxar, que ninguém é de ferro. Enquanto Paulo Guedes tentava salvar a responsabilidade fiscal da irresponsabilidade política, a brigada do liberalismo imaculado estava dando palestra sobre as queimadas na Amazônia. Quem sabe ali até cairia bem um furo no teto para liberar a fumaça.

Não fique achando que esta é uma conversa sobre o governo atual – ou um tributo ao Posto Ipiranga. Quando o governo anterior estava na sua encruzilhada fiscal, com a emenda do teto de gastos sendo chamada de “PEC do Fim do Mundo” pelos saudosos do petismo, os gladiadores do liberalismo estavam com cara de paisagem. Mas eles não ficaram assim. Logo evoluíram para cara de nojo, quando a equipe econômica tentava desarmar a bomba da Previdência e os devotos do teto acharam mais proveitoso surfar no Fora Temer.

Vale assinalar que quando a equipe de Guedes assumiu recolocando em pauta a Reforma da Previdência, esses bravos zeladores do teto continuaram com cara de nojo. A reforma foi aprovada, projetando uma economia de R$ 1 trilhão em 10 anos, e eles não se comoveram. Não foram vistos celebrando nem louvando essa ultraproteção ao teto. Na ocasião, um desses eméritos economistas que influenciam bastante o mercado dava palestras e entrevistas dizendo que a democracia brasileira estava queimando na Amazônia. A economia não é nada diante da poesia.

Veio a pandemia, e a equipe de Guedes alocou cerca de R$ 1 trilhão em socorro a estados e municípios, empresas e informais. Uma ação emergencial cavalar contra o colapso social. O equivalente ao que a Reforma da Previdência economizaria em 10 anos. Traduzindo: um furacão arrancou o teto.

A pandemia transformou o Brasil num sem-teto. E o mundo também. Obra do vírus e dos humanos, que pela primeira vez na história tentaram fazer o mundo parar. Aparentemente, está se iniciando a reconstrução do teto – e ninguém sabe o tempo que isso vai levar. O que se sabe é que a economia brasileira é uma das que mantiveram os seus sinais vitais e mais amenizaram o tombo, conforme reconhecido por entidades, como o FMI, que projeta queda da dívida pública do país este ano.

O que também se sabe é que os liberaloides do teto imaginário vão continuar fofocando pelos cantos e tentando derrubar Paulo Guedes.

* Este texto representa as opiniões e ideias do autor.

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