metropoles.com

TCE mira contrato sem licitação de amigo de Doria com agência de SP

Empresa de Marcos Arbaitman, amigo de João Doria, foi contratada por R$ 3 milhões para levar missão empresarial à China em 2019

atualizado

Compartilhar notícia

Reprodução
fotos_drmarcosjoaodoria
1 de 1 fotos_drmarcosjoaodoria - Foto: Reprodução

O Tribunal de Contas do Estado (TCE) de São Paulo investiga por que a Agência Paulista de Promoção de Investimentos e Competitividade – Investe São Paulo (InvestSP) não fez pesquisa de preços ao decidir contratar, sem licitação, o serviço do empresário Marcos Arbaitman, amigo do então governador, João Doria, para levar uma comitiva de executivos à China em 2019.

A Central de Eventos Consultoria e Gestão Ltda, empresa em que Arbaitman é sócio com a filha, Marjorie, firmou com a InvestSP, responsável por atrair investimentos para o estado, contrato de R$ 3 milhões para prestar “serviços de logística, produção e apoio à missão empresarial” que visitou a China entre 2 e 11 de agosto de 2019.

Segundo a fiscalização do TCE, a InvestSP não fez pesquisa prévia de preços, tampouco apresentou os motivos que a levaram a abrir mão do processo de licitação. A fiscalização apontou que a demonstração é necessária porque as receitas da agência são provenientes de recursos públicos.

A fiscalização do TCE, em ofício datado de 10 de junho de 2020, disse que a agência descumpriu os princípios da publicidade, da isonomia, da impessoalidade, da economicidade e do julgamento objetivo. O documento afirmou que houve irregularidade na dispensa da licitação e no contrato decorrente.

Durante missão à China, Doria participou de um seminário em Pequim promovido pela InvestSP e pelo Bank of China

A InvestSP é uma organização social ligada à Secretaria de Fazenda e Planejamento de São Paulo e mantém contrato de gestão com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico. Arbaitman tem amizade de 44 anos com João Doria, que, na época do contrato, era governador de São Paulo. O tucano deixou o cargo no mês passado para concorrer à Presidência.

Arbaitman é proprietário das companhias Maringá Turismo e Lemontech e preside o Conselho de Administração da SPTuris, a empresa de turismo e de eventos da cidade de São Paulo. Ele entrou para o conselho da SPTuris em abril de 2017 e assumiu a presidência em junho daquele mesmo ano. Na ocasião, Doria era o prefeito da capital paulista.

Em entrevista à jornalista Joana Cunha, em abril deste ano, Arbaitman contou que conheceu Doria por intermédio de Mário Covas, então prefeito de São Paulo. Doria, à época, era secretário municipal de Turismo e chefiava a Paulistur, como era chamada a empresa municipal de turismo. Na entrevista, Arbaitman classificou Doria como um “irmão”.

O empresário foi um dos patrocinadores da candidatura de Doria em 2016, quando o tucano decidiu ingressar na política para disputar a Prefeitura de São Paulo. Arbaitman doou R$ 5 mil para a campanha e organizou um jantar em sua mansão no Jardim Europa, bairro nobre da cidade, para Doria conversar com o empresariado paulista.

No dia 31 de março deste ano, Arbaitman voltou a abrir sua mansão para oferecer um jantar em homenagem a Doria. O evento foi organizado para marcar a renúncia do tucano ao governo de São Paulo, mas Doria, ao discursar no local, deu sinais de que permaneceria no cargo e abriu uma crise no PSDB. O então governador recuou no dia seguinte e manteve a candidatura ao Planalto.

Doria discursou no seminário em Pequim promovido pela InvestSP e pelo Bank of China

A InvestSP, em resposta aos pontos levantados pela fiscalização, disse que a pesquisa de preços era inviável e que as particularidades da China fizeram com que a agência contratasse uma empresa de serviço altamente especializado. A InvestSP destacou que não havia necessidade de justificar a vantagem da contratação sem licitação e pediu que o TCE julgasse a operação regular.

Em fevereiro do ano passado, novo parecer da assessoria técnica elencou impropriedades no contrato firmado com a empresa. Segundo o documento, uma pesquisa na internet mostra que diversas empresas poderiam prestar o serviço requisitado, o que contraria a justificativa da InvestSP. Ainda de acordo com a análise técnica, a agência poderia ter consultado o orçamento de outras companhias para se certificar de que a Central de Eventos era a melhor opção.

Entre outros problemas, o TCE identificou que o detalhamento dos custos só aparecia em planilhas feitas após a contratação da empresa e que os comprovantes de pagamentos apresentados não correspondiam ao total do valor contratado. A área técnica pedia que a InvestSP informasse se foram constatadas diferenças pagas à empresa ou se houve saldo remanescente devolvido à agência.

A InvestSP enviou novos arquivos para serem analisados pelo TCE em janeiro deste ano, mas o tribunal só pediu para a assessoria técnica se manifestar em abril. A avaliação dos documentos costuma demorar para ser concluída.

Procurado, Marcos Arbaitman informou, por meio de sua secretária, que está em Nova York e que retorna ao Brasil no dia 18 deste mês. O empresário não se manifestou sobre os questionamentos da coluna. A assessoria de João Doria afirmou que a InvestSP enviaria as respostas às perguntas feitas pela coluna.

No seminário, o então governador paulista teve encontros com investidores chineses.

A InvestSP declarou que as missões no exterior trouxeram “investimentos de bilhões para o Estado de São Paulo”. Sobre a contratação da empresa Central de Eventos, a InvestSP diz que “seguiu seu regulamento, instrumento da agência para seleção e contratação de obras e serviços, compras e alienações, seguindo os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, economicidade e eficiência” e que “consultas ao mercado demonstraram que o serviço de alta complexidade demandava a contratação de empresa de grande especialização”.

“O regulamento da InvestSP prevê, quando há a contratação de serviços no exterior, a dispensa de licitação. O valor contratado por esta agência durante a missão China foi de R$ 627.354,71, para custeio das despesas relacionadas aos eventos promovidos pela InvestSP durante a missão e para abertura de seu escritório na China”, declarou a agência.

A InvestSP afirmou que “demais despesas relativas aos empresários participantes nas missões foram efetivadas pelos próprios empresários” e que “as despesas de representantes do Estado foram realizadas diretamente pelo governo estadual, sem qualquer vínculo com esta agência”.

“Por fim, destaca-se que todas as contas da InvestSP são auditadas e submetidas ao Tribunal de Contas do Estado de São Paulo”, concluiu a agência, na nota.

Já leu todas as notas e reportagens da coluna hoje? Clique aqui.

Siga a coluna no Twitter e no Instagram para não perder nada.

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comGuilherme Amado

Você quer ficar por dentro da coluna Guilherme Amado e receber notificações em tempo real?