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Conselheiro evangélico de Sergio Moro: “Bolsonaro sucumbiu ao pecado”

Em entrevista, Uziel Santana, chefe do núcleo evangélico da campanha de Sergio Moro, diz que setor se sente “órfão” de Jair Bolsonaro

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Uziel Santana
1 de 1 Uziel Santana - Foto: Reprodução

O chefe do núcleo evangélico da campanha de Sergio Moro, Uziel Santana, afirmou que Jair Bolsonaro “sucumbiu aos próprios pecados” e abandonou a verdade, palavra constantemente repetida pelo presidente em um versículo bíblico desde a eleição de 2018. Em entrevista à coluna, Santana disse que os evangélicos, ele incluído, têm grande dificuldade de votar novamente em Bolsonaro.

“Bolsonaro sucumbiu aos próprios pecados. Quando se deparou com situações em que deveria ficar do lado da verdade, acabou sucumbindo para proteger a família e amigos. Abandonou totalmente a pauta de combate à corrupção. É um sentimento de orfandade em relação a Bolsonaro”, afirmou Santana, que comandou a Associação Nacional de Juristas Evangélicos (Anajure).

Fiel da Igreja Presbiteriana, Santana fez um apelo para os evangélicos não compartilharem fake news na eleição, contou como conversa com bolsonaristas da bancada evangélica e resumiu a campanha de Moro em uma passagem da Bíblia que guarda semelhanças ao trecho usado pelo presidente.

Leia os principais trechos da entrevista:

Qual é o tamanho do eleitorado evangélico e com quais correntes Moro tem conversado?

O núcleo da campanha que cuida dos evangélicos tem informações detalhadas de como esse grupo se organiza em todo o país. Como fui presidente da Associação Nacional de Juristas Evangélicos (Anajure) e integrei a entidade por 15 anos, tenho dados que outros candidatos não têm. Todo mundo acha que o maior contingente de evangélicos é das igrejas neopentecostais. Não é. A fatia dos neopentecostais, que inclui a Universal e a Internacional da Graça, é de mais ou menos 9 milhões. É o mesmo número das igrejas históricas: batistas, presbiterianos, metodistas, congregacionais. O terceiro núcleo é o das Assembleia de Deus, que tem um contingente grande, de 36 milhões de fiéis. Moro começou forte no segmento das igrejas históricas. Elas não veem no Bolsonaro uma liderança de confiança. Ele traiu os evangélicos em vários pontos. Agora, temos avançado no núcleo neopentecostal. Viemos conversando com a Universal, já conversamos com a Internacional da Graça. Depois, vamos falar com as Assembleias de Deus.

O núcleo será ampliado durante a campanha?

Sim, teremos uma comissão em cada estado. Por causa da atuação nacional que tive pela Anajure, tenho pessoas de confiança em cada estado. A carta de princípios, que Moro divulgou no início do mês para o público evangélico, será impressa e enviada aos principais líderes evangélicos de cada estado.

Quais são as principais demandas dos evangélicos?

O segmento espera que o presidente seja um governante justo, que atenda as necessidades da população, sobretudo os mais vulneráveis, e combata firmemente a corrupção. A grande corrupção do ser humano é o pecado, que é contra ele mesmo e a sociedade. A ideia do combate à corrupção está dentro da teologia bíblica.

Por que o grupo evangélico tem demonstrado menos apoio a Bolsonaro do que em 2018?

É um sentimento de orfandade em relação ao Bolsonaro. Bolsonaro foi eleito em cima de antipetismo, pauta da Lava Jato e agenda de costumes. Mas quando foi eleito, ele abandonou totalmente a pauta de combate à corrupção e desmontou o que existia para investigar esses crimes.

Como Moro vai se comportar sobre os LGBTs? Bolsonaro já foi condenado por homofobia.

Não cabe ao presidente da República determinar relações privadas. Na carta, deixamos claro que pastores podem afirmar que a união homoafetiva é pecado segundo a religião, por meio da liberdade religiosa, desde que não incorram em discursos de ódio ou emprego de violência. O STF decidiu assim. Por outro lado, a orientação sexual das pessoas deve ser respeitada. Até ouvi reclamações de que isso não deveria estar na carta do Moro aos evangélicos. Claro que deveria estar. As pessoas não podem ser discriminadas por raça, religião ou orientação sexual. Moro é diferente de Lula, que em seu governo beneficiou politicamente o público LGBT, e diferente de Bolsonaro, que tem um comportamento discriminatório contra essas pessoas.

A exemplo de Bolsonaro, Moro indicaria um ministro “terrivelmente evangélico” ao Supremo?

Moro defende que os ministros do Supremo tenham os requisitos funcionais: reputação ilibada e notório saber jurídico. Também espera que combatam firmemente a corrupção e tenham o compromisso de não flexibilizar a pauta do aborto. A Anajure apoiou o ministro André Mendonça não porque ele era evangélico, mas porque atendia os requisitos funcionais. A religião não é critério de acesso ao Supremo.

Na Anajure, o senhor conviveu com Damares Alves, ministra dos Direitos Humanos. Como avalia a ministra?

A Damares foi uma entusiasta da Anajure, apesar de nunca ter feito parte da associação. Ela é minha amiga particular há muitos anos. Tenho respeito e carinho muito grandes por ela. Mas estamos em campos políticos diferentes. Ela segue o bolsonarismo à risca e nisso não tenho como deixar de criticá-la. Como evangélicos, sabemos que nosso messias não é o Jair Messias Bolsonaro, mas Cristo. A pauta de liberdade religiosa, um direito fundamental, foi abandonada no Ministério dos Direitos Humanos. Até no governo Dilma havia esforços para promover a liberdade religiosa. Já fiz essa crítica a Damares pessoalmente.

Sergio Moro e Uziel Santana

Hoje, há boas chances de o segundo turno ser entre Lula e Bolsonaro. O senhor votaria novamente em Bolsonaro?

O que posso afirmar hoje é que tenho imensa dificuldade em votar no Bolsonaro no segundo turno, se ele chegar lá. Creio piamente que Moro tem grandes possibilidades de ir ao segundo turno. O governo Bolsonaro se mete em confusões o tempo todo. Agora, é na guerra da Rússia contra a Ucrânia. O mundo todo critica a invasão, enquanto Bolsonaro se alia à China e à Venezuela e diz que é solidário à Rússia. O que ele fez na pandemia, a desmontagem do combate à corrupção… Não só eu, mas muitos evangélicos têm imensa dificuldade em votar em Bolsonaro.

Como será o contato da campanha com a bancada evangélica, alinhada a Bolsonaro?

Muitos deputados da bancada evangélica são meus amigos pessoais de muitos anos. Não vou citar nomes para não haver ciúmes. Já tenho falado com os deputados. O sentimento geral é que eles não podem depender de uma única via. E Moro seria uma opção por ser um conservador democrático e ponderado. Claro que há figuras histriônicas na bancada. Mas no geral temos boa relação. A bancada evangélica busca lutar por princípios e valores do Reino [de Deus]. A bancada não tem um Messias Bolsonaro. Luta pelo Messias que é Jesus Cristo. E isso está bem claro.

Que versículo bíblico define o núcleo evangélico da campanha de Moro?

Moro e eu temos a convicção do mandamento bíblico de não usar o nome de Deus em vão ou usar um versículo bíblico para um projeto pessoal e político. É melhor dizer assim, como está escrito na Bíblia: “Nada podemos contra a verdade, senão a favor da verdade”. Ou seja, existe a verdade de Deus para o ser humano. E todos nós, de qualquer espectro político, devemos e podemos estar junto a essa verdade. Aliás, neste ano, os evangélicos poderão ter a oportunidade de deixar registrado que não são perpetuadores de fake news. Precisamos, como povo do livro, povo da verdade, lutar para que a verdade seja o diapasão das eleições de 2022, e não as fake news.

Mas esta verdade não é a mesma da pregada por Bolsonaro no mote bíblico “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”, certo?

Acredito que o Bolsonaro teve a intenção genuína de ter isso como um mote da campanha e na Presidência, mas ele sucumbiu aos próprios pecados. Quando se deparou com situações em que deveria ficar do lado da verdade, acabou sucumbindo para proteger a família e amigos.

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