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A física está no cotidiano e o Enem está de olho nisso

A mecânica clássica é o tópico da física de maior relevância e recorrência nas provas

atualizado

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1 de 1 enem2 - Foto: Fotografierende, Unsplash

Em linhas gerais, a redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e as questões das provas objetivas de ciências da natureza, de ciências humanas, de linguagens e de matemática exigem que o candidato resolva problemas.

Essas devem ser as atitudes de cada candidato no dia do exame: encontrar soluções para problemas, enfrentar as mais diversas situações do cotidiano e tomar decisões. Para elaborar as questões do Enem são utilizados 5 eixos cognitivos:

  • Dominar linguagens;
  • Compreender fenômenos;
  • Enfrentar situações-problemas;
  • Construir argumentações;
  • Elaborar proposta de intervenção.

As questões objetivas do Enem deixam muito claro no enunciado o problema que deve ser resolvido. Entender situações-problema significa selecionar, organizar, relacionar, interpretar dados e informações representadas de diferentes formas para tomar decisões e resolver o problema apresentado.

A habilidade mais avaliada nas provas é a de leitura e interpretação do enunciado. Percebeu? Disse de leitura e de interpretação do enunciado, não do texto. Óbvio que o texto é importante, mas ele está ali muito mais como um fator motivador e de contextualização da situação-problema do enunciado.

Outra característica marcante das questões do Enem é relacionar as competências (conteúdos) de cada área com problemas do dia a dia. Em outras palavras, meu conhecimento em química, matemática, biologia me auxilia na compreensão e na resolução dos meus problemas cotidianos.

Verifica-se, assim, a aplicabilidade dos conceitos formais de cada área na resolução de problemas diários. Espera-se que o candidato use o conhecimento das diferentes áreas de forma combinada para entender os acontecimentos do mundo que o cerca e resolvê-los. Sendo assim, quanto maior for o repertório do candidato, quanto mais amplo for esse conhecimento de mundo, quanto mais instrução, mais cultura, mais conhecimento armazenado tenha o candidato, mais argumentos terá para selecionar a alternativa que melhor resolva a situação-problema.

O professor de redação Rafael Riemma (@rriemma) tem uma frase da qual gosto muito: “Redação é prova de leitura, não de escrita.” Ou seja, uma boa redação depende, basicamente, do nível de repertório do candidato. Na verdade, repertório não é importante somente para a prova de redação. As situações-problema de cada questão objetiva pedem também uma bela bagagem de repertório para que sejam solucionadas. Estudar para a redação é estudar para as provas objetivas de linguagens, de humanidades, de ciências da natureza e de matemática.

Observamos aqui que não vale muito ter fórmulas decoradas ou ter um simples acúmulo de conceitos. As palavras-chave do Enem são: aplicabilidade, função, finalidade, utilidade. Sendo assim, convidei o especialista e professor de Física, Gustavo Cunha, para detalhar e relacionar para nós o que a prova do Enem de física espera do candidato.

A física em análise está na garrafa térmica, na escolha das cores das vestimentas que vamos usar em dias de calor e sol. Conhecer conceitos de física pode auxiliar o indivíduo na secagem de uma calça jeans, por exemplo. Isso sem falar na relação entre física e veículos, na física para esfriar um barril de bebida, ou fazer gelo.

A mecânica clássica é o tópico da física de maior relevância e recorrência nas provas do Enem. E o professor Gustavo alerta que assuntos dessa área da disciplina podem ser abordados, por exemplo, no impacto que um vendaval pode causar na construção de uma casa. “A casa é considerada um corpo extenso, o que implica que, para estar em equilíbrio, o somatório das forças e o somatório dos torques devem ser nulos. O vento realiza uma força na casa, mas, além da força do vento, o próprio concreto do solo em que está presa realizará uma força em sentido contrário, compensando a força do vento e seu torque. Logo, a casa continuará em equilíbrio a não ser que esta força consiga romper o concreto.”

Além disso, a calorimetria, uma das frentes da Termologia, explica porque nosso cafezinho matinal esfria em pouco tempo. Temperatura é uma medição indireta do grau de agitação das moléculas. Uma vez que o líquido está em contato direto com o ar e com o copo, a energia se propaga via condução, saindo energia da bebida e levando para o meio externo. O significado físico disso, explica o professor, é uma diminuição do grau de agitação de cada molécula presente no líquido quente, diminuindo, assim a temperatura.

A física também explica a utilização do famoso rejunte (aquela massa colocada entre duas peças de azulejo da cozinha, por exemplo). Muito se estuda, dentro da engenharia, os conceitos de dilatação térmica. O rejunte serve para deixar que as duas peças de azulejo se dilatem em dias quentes. Vidro e pirex são materiais distintos. O coeficiente de dilatação térmica do pirex é pequeno, fazendo com que se dilate menos quando comparado com o vidro. Por isso o pirex é o material escolhido para levar alimentos ao forno.

Já entrando nos aspectos físicos dentro da óptica, temos um universo infinito de aplicabilidade da física. Um indivíduo míope produz uma imagem antes da retina. Para os míopes, utiliza-se uma lente divergente, que faz com que os raios se focalizem na própria retina, fazendo o cérebro identificar a imagem com mais nitidez. Já para o hipermétrope, indivíduo que tem a hipermetropia, a imagem é produzida atrás da retina. Para correção, deve-se utilizar as lentes convergentes.

Dentro do assunto lentes, pode-se constatar os conceitos de refração da lente, reflexão total, lentes de óculos escuros e polarização.

A Física está em tudo. Ela nasceu para estudar os fenômenos naturais e é assim que é cobrada no Enem. “O matemático está envolvido num jogo do qual ele mesmo escreve as regras, enquanto o físico joga com as regras fornecidas pela natureza”, disse Paul Dirac.

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