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Registro de novas armas cresce 252% no Brasil. No DF, alta foi de 1.114%

A Polícia Federal registrou 48,3 mil novas armas para pessoas físicas no Brasil nos primeiros 4 meses de 2020. Só no DF foram 2.307

atualizado

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Daniel Ferreira/Metrópoles
treinamento de tiro com armas em brasilia
1 de 1 treinamento de tiro com armas em brasilia - Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles

“É escancarar a questão do armamento aqui. Eu quero todo mundo armado!”, disse um irritado presidente Jair Bolsonaro na célebre reunião ministerial de 22 de abril deste ano, tornada pública após as acusações do ex-ministro Sergio Moro virarem processo na Justiça. Bolsonaro cobrava sua equipe para avançar em um compromisso central com seus apoiadores, que tem enfrentado forte oposição legislativa e judiciária. Mesmo assim, mexendo em regulações e editando decretos, o governo tem conseguido ampliar substancialmente o número de armas nas mãos de cidadãos.

Nos quatro primeiros meses deste ano, a Polícia Federal concedeu 48,3 mil novos registros para armas de pessoas físicas em todo o país, um número 252,3% maior do que os 13,7 mil registros de 2019, quando Bolsonaro já governava e já havia tendência de alta.

O total geral de registros expedidos, que inclui armas de agentes de segurança públicos e privados, além de renovações de registros, cresceu 9,7% entre os quatro primeiros meses de 2019 e o mesmo período neste ano, passando de 61.710 em 2019 para 67.695 em 2020.

Os números são os mais recentes disponíveis segundo a PF e foram obtidos por meio de um pedido via Lei de Acesso à Informação.

A análise do (M)Dados, núcleo de jornalismo de dados do Metrópoles, nessas informações indicou ainda que nenhuma unidade da federação registrou redução no registro de novas armas para cidadãos entre 2019 e 2020 no período analisado.

Há estados com aumentos expressivos no número de novos pedidos de registros, como o Rio de Janeiro, onde o número saltou de 346 nos primeiros quatro meses de 2019 para 4.687 no mesmo período deste ano – 1.254% a mais.

Outro caso que chama muito a atenção é o do DF, onde a PF acatou 190 pedidos no começo do ano passado e 2.307 no começo deste, uma alta de 1.114%.

Em números absolutos, a Bahia é o estado que mais registrou novas armas para cidadãos em 2020. Foram 5.447 entre janeiro e abril deste ano, uma alta de 978% em relação aos primeiros quatro meses do ano passado, quando 505 armas foram para as mãos de cidadãos no estado.

Veja os dados de todos os estados e do DF:

Os caminhos do aumento
Números tão expressivos são possíveis porque, apesar de ter precisado recuar em quatro dos sete decretos que editou facilitando o acesso a armas, Bolsonaro conseguiu avançar em termos regulatórios. E portarias do Comando Logístico do Exército que visavam ajudar na identificação de armas e cartuchos desviados, mas aumentavam a burocracia, foram revogadas em abril.

Hoje, civis têm acesso a armas que eram de uso militar ou policial exclusivo, como pistolas 9mm, .40 e .45. Para atiradores, o limite de compra de armas foi de 16 para 60 por ano.

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Apesar disso, o público mais interessado ainda considera os avanços tímidos e cobra Bolsonaro por mais acesso a armas, para que a legalidade deixe de ser um “privilégio da elite”.

“Avançou na gestão de Bolsonaro, até por ser uma pauta histórica dele, mas a aquisição continua muito cara e extremamente burocrática. É preciso R$ 6 mil a R$ 7 mil para ter a autorização e comprar uma arma para ter em casa, a posse”, avalia o analista de segurança Bene Barbosa, que goza de influência junto ao entorno do presidente e busca ajudar nos aspectos técnicos, mas admite que as dificuldades são grandes.

“Bolsonaro tem encontrado obstáculos muito grandes tanto no Congresso quanto no Judiciário, e até mesmo dentro das Forças Armadas, onde existem pessoas com enorme preconceito contra a ampliação do acesso às armas para a população”, avalia ele, que defende o armamento como um direito. Sem a passagem pelo Poder Legislativo, porém, é difícil avançar na questão do porte, por exemplo.

Para Barbosa, no entanto, ainda há caminhos que podem ser percorridos fora do Congresso para que Bolsonaro dê mais passos no cumprimento de sua promessa. “Como uma portaria interministerial pra firmar convênio entre PF e secretarias de Segurança Pública estaduais e agilizar o processo de autorização para a aquisição de armas de fogo que hoje só é feito na PF”, conclui.

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