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Quase 500 anos de prisão: veja as condenações contra João de Deus

Análise de 17 ações penais que transitavam na primeira instância foi encerrada. Escândalo estourou há quase cinco anos, em dezembro de 2018

atualizado

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Filipe Cardoso/Especial para o Metrópoles
João de Deus
1 de 1 João de Deus - Foto: Filipe Cardoso/Especial para o Metrópoles

Quase cinco anos depois do escândalo de repercussão mundial, a Justiça de Goiás proferiu as últimas sentenças, em primeira instância, contra João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus. As decisões foram publicadas na sexta-feira (15/9) e somando os 17 processos que tramitaram na comarca de Abadiânia, interior de Goiás, João foi condenado a 489 anos e 4 meses de reclusão.

Nas últimas decisões, o juiz Marcos Boechat Lopes Filho condenou João Teixeira em três processos a 118 anos e seis meses de prisão por estupro, violação sexual mediante fraude e estupro de vulnerável. Os crimes relativos a esses processos foram praticados entre os anos de 2010 e 2017, envolvendo 18 pessoas. O juiz também fixou indenizações por danos morais que chegam a R$ 100 mil.

Até agora, a Justiça de Goiás já analisou seis apelações feitas pela defesa do suposto médium. Duas delas já foram encaminhadas ao Superior Tribunal de Justiça e ainda não foram julgadas.

Mesmo com as condenações, João de Deus está em prisão domiciliar, em uma mansão em Anápolis (cidade a 160 quilômetros de Brasília). Ele foi preso ainda em 2018, mas de lá para cá alternou entre a prisão domiciliar e a em regime fechado.

No início da pandemia da Covid-19, em 2020, ele foi para casa depois que a Justiça acolheu o pedido de defesa de que João de Deus era do grupo de risco. O Ministério Público de Goiás (MP-GO) chegou a recorrer, mas o judiciário demorou mais de um ano para analisar. Em agosto de 2021, ele voltou à cadeia, mas no mês seguinte recebeu autorização para retornar para casa.

Mesmo em prisão domiciliar, João de Deus se casou com uma advogada, em 2022. O fato foi, inclusive, usado pelo MP-GO para apontar que ele tinha condições físicas e mentais de cumprir a pena no presídio.

João sempre negou as acusações e disse que nunca abusou de nenhuma mulher.

As denúncias

As primeiras denúncias públicas de mulheres abusadas sexualmente por João de Deusa ocorreram no dia 8 de dezembro de 2018, durante o programa do Pedro Bial, da rede Globo. Na ocasião, o programa ouviu 10 mulheres que informaram terem sido abusadas.

O principal depoimento foi da coreógrafa holandesa Zahira Lienike Mous, que detalhou um caso de abuso. O relato de Zahira foi relevante principalmente por ter mostrado o modus operandi de João, que se repetia — algo que ficou comprovado com as outras centenas de denúncias.

João fazia atendimentos ao menos três vezes por semana na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia. No local, uma fila era formada para passar pelo suposto médium, que dizia estar incorporado por uma entidade. As denúncias depois mostraram que na fila, ele já escolhia as vítimas e dizia que a “entidade” gostaria de ver a mulher após o fim dos atendimentos. As mulheres esperavam em uma salinha logo ao lado, onde os abusos aconteciam.

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Zahira relatou no programa exatamente isso. Disse que foi levada à sala e que quando o médium chegou, ele a colocou de joelhos de frente para ele. “[João] abriu a calça, colocou a minha mão no pênis dele e começou a movimentar a minha mão”, disse.

No dia seguinte, autoridades de Goiás começaram a receber outras denúncias parecidas, de mulheres que haviam sido abusadas mas ficaram caladas. O volume de denúncias foi tão grande que na mesma semana a Justiça determinou a prisão de João de Deus.

O MP-GO criou uma força-tarefa e só nos primeiros 10 dias o órgão e a polícia receberam mais de 500 denúncias de abusos. O MP teve que filtrar os casos, visto que muitos os crimes já haviam prescritos. As autoridades coletaram informações de abusos ocorridos desde os anos 90.

O controle em Abadiânia

Apresentando-se como médium João de Deus, João Teixeira de Faria se tornou conhecido mundialmente graças às chamadas “cirurgias espirituais”. Sob os olhos atentos de fiéis e câmeras que registravam tudo, João usava facas e tesouras para supostamente remover tumores de pessoas que buscavam cura.

Ele recebia milhares de pessoas semanalmente em uma instituição criada por ele, a Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia, cidade de 17 mil habitantes. No local, uma sala repleta de fotos de João de Deus ao lado de figuras famosas, desde Oprah Winfrey e Xuxa a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), servia de lembrete a quem passasse por ali da força do homem que se dizia médium.

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Semanalmente, a Casa chegava a receber até 5 mil pessoas. A maioria dos atendimentos eram rápidos: ele fazia uma oração e passava ao fiel uma receita de passiflora, vendida no local por R$ 50 na época dos escândalos.

Abadiânia, que é dividida por uma rodovia, tinha um lado da cidade todo dedicado à Casa. Pousadas, casas de massagem, lojas de pedras, todas voltadas à Casa e funcionavam sob a “benção” da “entidade”, que era João.

Comércios vendiam roupas brancas, que era a cor permitida dentro da Casa, e até lanchonetes próximas à Casa tinham restrições — não podiam servir pimenta, pois o tempero era contraindicado por João para aqueles que faziam tratamentos espirituais.

O controle sobre a cidade era claro. João havia se instalado no local décadas antes, depois de ter tentado exercer a atividade de curandeiro em Anápolis, onde ele hoje vive, mas ter sido “expulso” por médicos que o acusaram de exercício ilegal da medicina.

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