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Lava Jato discutiu se desvincular de Bolsonaro após “eleger o Bozo”

Procuradora mostrou a Dallagnol preocupação com credibilidade da força-tarefa diante da conduta do presidente de “atropelar a democracia”

atualizado

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Andre Borges/Esp. Metrópoles
O procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol - Metrópoles
1 de 1 O procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol - Metrópoles - Foto: Andre Borges/Esp. Metrópoles

Mensagens apresentadas nesta segunda-feira (29/3) ao Supremo Tribunal Federal (STF) pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em uma nova petição apontam que os procuradores da força-tarefa da Lava Jato, em Curitiba (PR), discutiram uma forma de se desvincular da imagem do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para que a operação conseguisse recuperar sua credibilidade.

Em uma das conversas entre a procuradora Jerusa Viecili e o então coordenador da força-tarefa Lava Jato, Deltan Dallagnol, ela aponta para o fato de a operação ter ajudado a eleger o atual presidente.

“Delta, sobre a reaproximação com os jornalistas, minha opinião é de que precisamos nos desvincular do Bozo [Jair Bolsonaro], só assim os jornalistas vão novamente ver a credibilidade e apoiar a LJ [Lava Jato] “, diz a procuradora, no dia 28 de março de 2019.

“Temos que entender que a FT [força-tarefa] ajudou a eleger Bozo, e que, se ele atropelar a democracia, a LJ [Lava Jato] será lembrada como apoiadora. eu, pessoalmente, me preocupo muito com isso (vc sabe)”, prosseguiu a procuradora na avaliação feita em março de 2019.

A grafia foi mantida como nas mensagens apreendidas pela Operação Spoofing, da Polícia Federal, que investigou hackers que teriam interceptados as autoridades do Ministério Público Federal que compunham a força-tarefa.

A procuradora aponta que a operação teria se posicionado de forma mais forte em relação ao “caso Flávio” se “fosse qualquer outro político”, referindo-se ao senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente, investigado em um esquema de desvio de recursos públicos na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), conhecido como “rachadinhas”.

Ditadura

“Veja que, no passado, em pelo menos duas oportunidades poderíamos ter nos desvinculado um pouco do Bozo nas redes sociais. 1. caso Flavio (se fosse qualquer outro politico envolvido, nossa cobrança por apuração teria sido muito mais forte); 2. caso da lei de acesso à informação que o bozo, por decreto, ampliou rol de legitimados para decretar sigilo e depois a Camara derrubou o decreto. A TI fez nota técnica e tudo e nossa reação foi bem fraca (meros retweets). (ao lado do caso Flavio, o proprio caso de Onix Lorenzoni)”, criticou a procuradora no chat.

“Agora, com a ‘comemoração da ditadura’ (embora não tenha vinculação direta com o combate à corrupção), estamos em silêncio nas redes sociais. Não prezamos a democracia? concordamos, como os defensores de bozo, que ditadura foram os 13 anos de governo PT? a LJ teria se desenvolvido numa ditadura?”, critica a procuradora.

“Amigos do Gilmar”

Os novos diálogos apontam ainda que integrantes da Lava Jato tentavam investigar, de forma ilegal, ministros dos tribunais superiores.

Em uma conversa, procuradores teriam falado em “chegar aos amigos do Gilmar”, referind0-se ao ministro Gilmar Mendes, o mesmo que presidiu na semana passada a sessão da Segunda Turma do STF que julgou procedente a suspeição do ex-juiz e ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro.

A conversa, de acordo com os advogados do ex-presidente é de 17 de maio de 2016.

“O novo material confirma que a Lava Jato tinha alvos pré-definidos e que também buscava criar constrangimentos indevidos a membros dos tribunais superiores com o objetivo de que as decisões da primeira instância não fossem revistas”, diz a defesa de Lula.

Neles, a defesa do ex-presidente destacou uma conversa com do procurador Roberson Pozzobon, que integrava a Lava Jato, no dia 1º de março de 2015 com uma procuradora de Brasília. Ele teria teria apontado investigações contra “pessoas aí de cima”, referindo-se a pessoas com prerrogativa de foro, que somente poderiam ser investigadas e processadas pela Procuradoria-Geral da República.

Na conversa, Pozzobon se oferece para ajudar informalmente na investigação, já que sabia das limitações da força-tarefa em apurações de pessoas com foro privilegiado.

“Temos consciência da dificuldade de obter provas fortes em relação aos investigados aí de cima e estamos aqui para reforçar tudo o quanto for possível para a investigação e o processamento deles. Não temos como investigá-los diretamente, mas podemos (e temos feito) ajudar com provas comuns à 1ª instância e ao STF”.

Para os advogados de Lula, os novos diálogos comprovam ainda que o ex-juiz Sergio Moro mentiu e desobedeceu a decisão da Justiça da Suíça que proibia, desde 2016, o uso de dados bancários da Odebrecht naquele país em processos no Brasil.

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Segundo eles, as conversas mostram que a antiga direção da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) tramou com a Lava Jato ações contra a eleição de Lula e a perseguição de advogados que resistiam a fazer acordos de delação de seus clientes. Além disso, os advogados acusam Dallagnol de agir para quebrar ilegalmente o sigilo fiscal de Lula.

“Franco favorito”

Outro conjunto de mensagens aponta, de acordo com advogados do ex-presidente, a preocupação com o possível desempenho eleitoral de Lula em 2018.

No chat interceptado, de 28 de junho de 2015, o procurador José Robalinho Cavalcanti escreveu: “Lula eh franco favorito. Já disse. Enquanto não se discutir o meu nordeste será quase impossível derrotar o pt e praticamente impensável derrotar são Lula”.

Na época, Robalinho era presidente da ANPR.

Sua mensagem foi respondida pelo procurador Ailton Benedito: “Mas ver os vermes estrebuchando é interessante”. “Por isso aprecio o sofrimento dos eleitores de Lula, sem comiseração”.

Confira a íntegra da petição:

 

Manifestação e 13o. Relatório Unif by Lourenço Flores on Scribd

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