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Análise: Bolsonaro tem um acordo internacional para chamar de seu

Presidente esquece discurso contra o “globalismo” para assinar entendimento comercial entre Mercosul e União Europeia sacramentado no Japão

atualizado

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Foto: Igo Estrela/Metrópoles
Solenidade de Sanção da Lei de Combate às Fraudes Previdenciárias. Brasília(DF), 18/06/2019
1 de 1 Solenidade de Sanção da Lei de Combate às Fraudes Previdenciárias. Brasília(DF), 18/06/2019 - Foto: Foto: Igo Estrela/Metrópoles

O anúncio do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia deu ao presidente Jair Bolsonaro (PSL) um trunfo para comemorar os seis primeiros meses de mandato. Em um gesto surpreendente para quem acompanhava os movimentos dos governos nos dois continentes, os líderes do G20, reunidos no Japão, deram um passo decisivo para a integração dos dois mercados.

Pela dimensão histórica do feito, Bolsonaro tem a partir de agora um acordo internacional para chamar de seu. As conversas sobre a abertura comercial entre países dos dois lados do Atlântico se arrastavam havia duas décadas e chegaram a termo nesta sexta-feira (28/06/2019) em Osaka, cidade japonesa que sediou o encontro.

O acordo representou uma vitória e, ao mesmo tempo, evidenciou as contradições entre o discurso e a prática do governo brasileiro. A política externa implantada desde janeiro se pauta por ideias opostas ao multilateralismo posto em prática em Osaka.

Em direção contrária ao entendimento acertado no Japão, o chanceler Ernesto Araújo combateu nos últimos meses o “globalismo”, expressão pejorativa que traduz as relações coletivas entre blocos de países. Nesse sentido, por mais que o governo contorcione as palavras, a assinatura do acordo se choca com a narrativa oficial.

Na campanha de 2018, em um momento de bravata, Bolsonaro disse que, se fosse eleito presidente, retiraria o Brasil da Organização das Nações Unidas (ONU). Mesmo na véspera do encontro de Osaka, a postura de Bolsonaro e de alguns líderes europeus, como a primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, e o presidente da França, Emmanuel Macron, desaconselhavam previsões otimistas sobre a reunião.

As declarações públicas dos três expunham divergências em relação, principalmente, a questões ambientais. Merkel e Macron reclamavam de declarações contrárias ao Acordo de Paris feitas por Bolsonaro. A alemã enfatizava a devastação da Amazônia como um obstáculo para o avanço das negociações entre Mercosul e União Europeia.

Assinado em 2015 por 195 países – entre eles, o Brasil –, o Acordo de Paris prevê a redução da emissão de gases do efeito estufa. Apoiado pela bancada parlamentar ruralista, o presidente brasileiro frequentemente faz críticas às políticas ambientais e indigenistas implantadas pelos últimos governos e defendidas pelos líderes europeus.

De um momento para outro, os discursos mudaram e o documento multilateral foi sacramentado em Osaka. Pelas declarações dos envolvidos, houve um aparente recuo de Bolsonaro em relação a uma possível saída do Brasil do Acordo de Paris. O lado europeu cedeu ao aceitar rever as tarifas e estabelecer cotas para produtos agropecuários brasileiros.

Ainda é cedo para se fazer previsões sobre as consequências do entendimento entre a União Europeia e o Mercosul. A implantação das medidas formatadas no encontro de cúpula depende da ratificação dos parlamentos dos países signatários.

Depois de fechado o acordo, Macron e Bolsonaro emitiram sinais de que nem todas as divergências foram sanadas em Osaka. O presidente francês disse que o acerto final só foi possível depois que o governo brasileiro se comprometeu com o Acordo de Paris e com a biodiversidade.

Bolsonaro deu uma versão um pouco diferente. Afirmou que avisou Merkel de que nem a Alemanha nem o Brasil têm condições de cumprir o Acordo de Paris. Nessas circunstâncias, União Europeia e Mercosul iniciam a maior abertura comercial de suas histórias.

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