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Análise: que mistérios tem Carluxo Bolsonaro, o “inimputável”?

O comportamento do filho do presidente incomoda o primeiro escalão e intriga autoridades pela falta de controle de suas manifestações

atualizado

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Daniel Ferreira/Metrópoles
Bolsonaro e Carlos
1 de 1 Bolsonaro e Carlos - Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles

A língua solta do vereador carioca Carlos Bolsonaro (PSC) intriga os observadores da política. Afinal, como se explica a liberdade de falar e escrever o que vem à cabeça e, ainda, ter influência para derrubar ministros?

O fato de ser filho do presidente Jair Bolsonaro (PSL), por si só, não explica toda essa desenvoltura. Sem justificativas plausíveis, o comportamento agressivo e descontrolado de Carluxo – apelido de infância – envolve-se em mistérios.

Nas últimas interferências no governo, o vereador, de 36 anos, insurgiu-se contra a segurança das autoridades federais. Nessa quinta-feira (04/07/2019), ele usou o Twitter para questionar os responsáveis pela proteção física dos integrantes do primeiro escalão. “Mais uma falha de segurança. Seria bom a segurança do presidente ficar mais atenta”, escreveu Carlos.

A ingerência foi motivada pelo suicídio do empresário Sadi Paulo Castiel Gitz, em Aracaju, durante cerimônia com a presença do governador de Sergipe, Belivaldo Chagas (PSD) e do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque.

Ao citar também o pai, o vereador retomou a crítica feita na última semana, quando se manifestou sobre a prisão, na Espanha, do sargento da Aeronáutica Manoel Silva Rodrigues, flagrado com 39 kg de cocaína na bagagem. O militar integrava a equipe de apoio à viagem do presidente ao Japão.

No seu jeito tortuoso de se pronunciar, Carlos demonstrou dúvidas sobre a competência do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) em garantir a integridade física do chefe do Executivo. Com esse gesto, o vereador atingiu diretamente o general Augusto Heleno, ministro do GSI e um dos subordinados mais próximos do presidente.

Esse é apenas mais um exemplo da ousadia de Carlos no tratamento aos militares de alta patente que participam do governo do pai. Em outros momentos, ele confrontou os generais Hamilton Mourão, vice-presidente da República, e o então ministro da Secretaria de Governo, Carlos Alberto dos Santos Cruz, demitido depois de se desentender com o filho do chefe.

Antes, Carluxo teve papel decisivo na queda do Secretário-Geral da Presidência da República, Gustavo Bebianno, outro ministro das relações pessoais de Bolsonaro.

São essas demonstrações de força junto ao pai que suscitam dúvidas dentro e fora do governo. Embora formado em Ciências Aeronáuticas, Carlos não tem currículo nem cargo para desbancar generais.

As explicações para o poder do vereador, então, não estão ligadas à competência para tratar desses assuntos. A chave para se entender a ascendência sobre o presidente, tudo indica, tem conexão com as complexas relações familiares.

Segundo filho de Bolsonaro com a primeira mulher, Rogéria Nantes Braga, Carlos passou longa temporada distante do pai depois da separação do casal. Desde que se reaproximaram, o capitão demonstra especial preocupação com o filho tratado por “Zero Dois”.

Questões dessa natureza, como se sabe, são sensíveis e dizem respeito apenas aos próprios integrantes da família. Mágoas e segredos costumam permear os delicados vínculos de parentesco nessas circunstâncias.

Ao que parece, na raiz da tolerância do presidente com Carlos – mesmo quando ele destrata ministros e generais – estão antigos conflitos familiares. O presidente evita contrariá-lo, o que explica, por exemplo, a presença do “Zero Dois” na traseira do Rolls Royce no dia da posse no Palácio do Planalto, uma quebra de protocolo sem precedentes na liturgia da cerimônia.

Também pesa a favor de Carlos o fato de ter coordenado a bem-sucedida campanha presidencial nas redes sociais. Essa singularidade deu ao vereador mais autossuficiência e prestígio junto ao pai.

Tanto poder obriga as autoridades a buscarem saídas criativas, ou mesmo grosseiras, ao se referirem a Carluxo. O general da reserva Luiz Eduardo Rocha Paiva, membro da Comissão de Anistia do governo federal, por exemplo, disse que o vereador é “um idiota inútil”, “imaturo”, “irresponsável” e mal-educado”.

Irmão mais velho, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) relativiza a atuação do “Zero Dois”: “Dão importância demais ao que ele fala”, afirmou o primogênito em entrevista à revista Época.

Outro que se manifestou de maneira curiosa foi o deputado Marcelo Ramos (PL-AM), presidente da Comissão Especial da reforma da Previdência. No Twitter, o parlamentar escreve que não dá para discutir com Carlos: “Ele é inimputável”. O adjetivo classifica as pessoas que, por razões diversas, não podem ser responsabilizadas pelos seus atos. Esse, claro, não é o caso.

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