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Preso diz que deu a site, de forma anônima, acesso a dados hackeados

A Polícia Federal tem indícios de que suspeitos presos são os mesmos que acessaram conversas trocadas pelo Telegram de altas autoridades

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JP Rodrigues/ Metrópoles
Hackers prestam depoimento na Polícia Federal
1 de 1 Hackers prestam depoimento na Polícia Federal - Foto: JP Rodrigues/ Metrópoles

A investigadores da Operação Spoofing, Walter Delgatti Neto, o “Vermelho”, preso nessa terça-feira (23/07/2019) por suspeita de hackear centenas de autoridades, afirmou ter dado ao jornalista Glenn Greenwald, de forma anônima, acesso a informações capturadas do aplicativo Telegram. As informações teriam sido repassadas de forma voluntária, sem cobrança. A defesa do jornalista, fundador do site The Intercept Brasil, disse, em nota, que “não comenta assuntos relacionados à identidade de suas fontes anônimas”.

A Polícia Federal tem indícios de que os quatro suspeitos presos são os mesmos que acessaram conversas trocadas pelo Telegram de altas autoridades dos Três Poderes, entre elas o ministro da Justiça, Sergio Moro; procuradores da Lava Jato; o ministro da Economia, Paulo Guedes; e a líder do governo Bolsonaro no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP). As provas foram encontradas em perícias, buscas e apreensões e baseadas em depoimentos dos presos realizados na terça.

O The Intercept Brasil tem divulgado desde o dia 9 de junho mensagens trocadas entre Moro e procuradores da Lava Jato, relativas ao período em que ele era juiz do caso em Curitiba. O site sustenta que recebeu o conteúdo de fonte anônima. A informação de que Walter “Vermelho” relatou ter contato com Greenwald foi confirmada ao Estado por duas altas fontes da operação. Segundo elas, o hacker disse conhecer o jornalista. A reportagem não conseguiu confirmar se presencialmente ou se eles teriam tido apenas contato virtual.

Os investigadores tratam o relato com cautela, uma vez que o hacker é apontado como estelionatário — razão pela qual tudo o que ele informar será investigado, especialmente a partir da quebra dos sigilos bancário, fiscal e telemático do grupo, autorizada pelo juiz Vallisney Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília.

Essas informações poderão revelar com quem os suspeitos conversaram nos últimos meses e a origem do dinheiro atribuído a dois deles — o casal Gustavo Henrique Elias Santos e Suellen Priscila de Oliveira movimentou R$ 627 mil em dois períodos no ano passado e neste ano. Uma das linhas de investigação apura se eles venderam os dados e com qual motivação.

O casal e, ainda, Danilo Cristiano Marques, também foram presos. Todos os suspeitos são do interior de São Paulo. Do grupo, além de Walter “Vermelho”, Gustavo Santos confirmou que teve acesso às mensagens interceptadas de autoridades e outras pessoas a partir do computador de “Vermelho”.

O defensor de Gustavo Santos, Ariovaldo Moreira, disse que ele afirmou em depoimento que, ao tomar conhecimento das mensagens, alertou o colega de que ele poderia ter problemas. Segundo o advogado, o cliente relatou também que “Vermelho” tinha interesse em vender os dados para o PT. Em nota, o partido criticou Moro e afirmou se tratar de “criminosa tentativa” de envolver a sigla no caso.

“Fonte de confiança”
No Twitter, Moro escreveu nessa quarta-feira (24/07/2019) que “pessoas com antecedentes criminais” são a “fonte de confiança daqueles que divulgaram as supostas mensagens obtidas por crime”. O ministro não citou nomes, mas, ao apontar “pessoas com antecedentes criminais”, se referiu ao grupo preso na Operação Spoofing. Walter “Vermelho”, que mora em Araraquara, interior paulista, acumula processos por estelionato, falsificação de documentos e furto.

O ministro também registrou que, ao autorizar a prisão dos suspeitos, o juiz informa que 5.616 ligações foram efetuadas pelo grupo com o mesmo modus operandi e suspeitas, portanto, de serem hackeamentos. “Meu terminal só recebeu três. Preocupante”, postou.

Na quarta, os diretores do The Intercept, Leandro Demori e Glenn Greenwald, rebateram, também no Twitter. “Está cada vez mais claro: Moro virou político em busca de um foro privilegiado”, disse Demori. “Nunca falamos sobre a fonte. Essa acusação de que esses supostos criminosos presos agora são nossa fonte fica por sua conta. Não surpreende vindo de quem não respeita o sistema acusatório e se acha acima do bem e do mal. Em um país sério, o investigado seria você”, escreveu Demori em resposta a Moro.

Greenwald afirmou na rede social que o ministro “está tentando cinicamente explorar essas prisões para lançar dúvidas sobre a autenticidade do material jornalístico”. “Mas a evidência que refuta sua tática é muito grande para que isso funcione para qualquer pessoa”, escreveu. Em nota, o The Intercept disse que a investigação “não muda o fato de que a Constituição garante o sigilo da fonte”.

O site também afirmou, em nota, que “assim como a melhor imprensa mundial, não comenta assuntos relacionados à identidade de suas fontes anônimas”. O comunicado diz ainda que há uma “tentativa de ligar supostos hackers” ao site, o que classifica como “mais uma etapa dos constantes ataques” à redação após o início da publicação da série “As mensagens secretas da Lava Jato”, em 9 de junho. “Trata-se de um claro ataque à liberdade de imprensa.”

A nota afirma que a operação “não muda o fato de que a Constituição Federal garante o direito do Intercept de publicar suas reportagens e manter o sigilo da fonte, mesmo direito garantido para toda a imprensa brasileira diariamente”.

O site afirmou ver com preocupação “as conclusões precipitadas do ministro Sergio Moro sobre uma investigação que sequer teve seu inquérito concluído” e esperar que a PF, “comandada por Moro, tenha autonomia para conduzir uma investigação isenta”.

Ao Supremo Tribunal Federal, Moro disse desconhecer “qualquer investigação em andamento a respeito” do jornalista Glenn Greenwald, do The Intercept Brasil.

Suspeito “está atordoado”
O advogado Luiz Gustavo Delgado, contratado por Walter Delgatti Neto, o “Vermelho”, disse ter levado comida, remédios de uso controlado e um cobertor para o cliente na tarde de quarta-feira na Superintendência da Polícia Federal em Brasília.

Delgado afirmou que não teve acesso ao teor integral do inquérito conduzido pela PF. “Ele prestou um depoimento. Eu não tive acesso ainda. Vou ver as medidas cabíveis no caso do meu cliente”, disse o advogado.

Ainda segundo ele, Walter “Vermelho”, como Delgatti Neto é chamado por amigos, prestou depoimento acompanhado apenas por um defensor público. “Conversei com ele. Ele tem problemas psiquiátricos. Está atordoado”, afirmou.

Walter “Vermelho” é visto como o principal integrante ou líder do grupo preso pela PF. Ele foi localizado em Araraquara (SP). Em depoimento nesta quarta à polícia, afirmou ter clonado os aparelhos celulares de autoridades como o ministro Sergio Moro.

A PF também ouviu nesta quarta o depoimento do casal Gustavo Henrique Elias Santos e Suellen Priscila de Oliveira. Defensor de ambos, o advogado Ariovaldo Moreira disse que Santos negou “enfaticamente” participação na invasão do celular de autoridades. Segundo ele, só esse depoimento durou mais de seis horas.

Gustavo Santos disse à PF ter provas de que alertou Walter “Vermelho”, amigos que se conheceram em Araraquara, para “parar de mexer com isso”, em referência ao telefone de autoridades. Mais cedo, seu advogado afirmou que Santos teria uma conversa trocada com “Vermelho” no Telegram em que avisava para o amigo: “Cuidado que você pode ter problema com isso”. Depois de Santos, quem começou a ser interrogada foi Suellen.

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