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Menina estuprada: deputada do PSL admite ter recebido laudo pelo WhatsApp

Para MPES, informações vazaram do hospital em Vitória quando menina embarcava para Recife, onde interrompeu a gravidez causada pelo estupro

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Reprodução/Facebook
Soraya Manato
1 de 1 Soraya Manato - Foto: Reprodução/Facebook

O nome da menina de 10 anos, grávida após ser vítima de estupros repetidos pelo tio, o endereço do hospital que a atendeu em Recife (PE) e o laudo médico atestando as condições da gravidez vazaram do hospital universitário Cassiano Antonio de Moraes (Hucam), em Vitória, de acordo com as apurações do Ministério Público do Espírito Santo (MPES). A apuração corre em sigilo, mas fontes do estado apontaram que a família soube da divulgação dos dados tão logo a menina embarcou em uma aeronave fretada, na manhã do último domingo (16/08), com destino à capital pernambucana, onde teve acesso ao procedimento de aborto legal.

Ao chegar a Recife, por volta das 15h, já havia uma tropa mobilizada de fundamentalistas antiaborto para tentar impedir que ela chegasse ao hospital. Ela e a avó precisaram se esconder no porta-malas de um carro para seguir para a unidade. O aborto foi realizado e, após ter tido alta, a menina e a família entraram em um programa de proteção a testemunhas, que inclui a troca de identidade e de local de residência.

Laudo

Uma das aliadas da ministra Damares Alves, a deputada Soraya Manato (PSL-ES), confirmou ter recebido informações da menina ainda no domingo. Segundo ela, uma pessoa do hospital lhe enviou uma cópia do laudo. A deputada, que é mulher do ex-chefe da Secretaria Especial para a Câmara dos Deputados da Casa Civil do governo Bolsonaro e ex-deputado Carlos Manato, não é citada nas denúncias oferecidas pelo MPES.

A deputada é médica ginecologista e obstetra. Ela disse não ter ido ao hospital, mas admite que recebeu as informações em casa, pelo celular. “Eu não fui ao hospital, mas recebi o laudo do médico pelo WhatsApp. Uma pessoa me mandou. Esse foi o acesso que eu tive. Até quis conversar com o médico. Eu tive acesso ao lado, sim. Mas quem me mandou, eu não posso dizer”, disse a deputada ao Metrópoles. “Eu recebi porque sabem que eu sou ginecologista e obstetra, sou deputada federal, sou evangélica e sou a favor da vida”, disse.

“No momento em que eu vi pelas notícias de jornal que os médicos do hospital das clínicas de Vitória, que é um hospital de grande porte, que tem UTI neonatal, que tem UTI adulta e infantil, não quiseram fazer o procedimento, eu vi entrevista de gente falando que aqui não tinha condições de fazer esse procedimento, Aí, levantou a lebre e eu falei: ‘Nesse angu tem caroço’. Aí uma pessoa me mandou o laudo. Eu vi que realmente não era um aborto. Era uma gravidez mais avançada, um feto viável. Ele tem chances de sobreviver após o nascimento”, alegou a parlamentar.

Vazamentos

A deputada, no entanto disse não ter repassado a informação para a ministra Damares nem para a extremista Sara Fernanda Giromini, conhecida como Sara Winter, que divulgou um vídeo no qual ela falou o nome da menina e o endereço do hospital de Recife. “Não repassei nada, abro meu celular para quem quiser conferir”, disse.

Ela disse ainda que conseguir ter acesso ao laudo da menina emitido pelo hospital de Recife e que se surpreendeu: “O bebê estava com 24 semanas, com 605 gramas. Feto totalmente viável. Agora, eu sou da direita, sou evangélica, sou a favor da vida. Em nenhum momento eu acho que a gente tem que desamparar essa criança de 10 anos porque ela foi estuprada durante quatro anos. Só queríamos que ela esperasse. Se ela não quisesse, poderia doar o bebê”.

Ações

Nesta quinta-feira, o MPES apresentou uma ação civil pública exigindo pagamento de dano moral coletivo pelo pré-candidato a vereador pelo PSL Pedro Teodoro dos Santos. Além de ir para a casa da menina e constranger seus familiares, o homem também divulgou em suas redes sociais o nome da menina, lançando uma campanha com uma hashtag para que ele não abortasse a criança.

Em boletim de ocorrência registrado por familiares da menina, Teodoro teria informado, durante a abordagem, ter acesso a um assessor da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves. A ministra nega qualquer relação com os vazamentos e pediu ao Ministério da Justiça que o caso seja apurado pela Polícia Federal.

Segundo fontes do MP, todas os vazamentos ocorreram após a missão envidada pela ministra ao estado e depois que ela usou as redes sociais para divulgar a “ajuda” que sua pasta daria à família e à criança.

O MPES, por meio da Promotoria de Justiça da Infância e Juventude de São Mateus, propôs ainda uma ação contra a extremista Sara Winter. A medida foi tomada após a bolsonarista divulgar dados da criança. A ação pede que Sara Winter pague uma indenização de R$ 1,3 milhão pela exposição da menina.

 

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