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Covid-19: lotada, rede privada em GO intuba paciente até na emergência

Pandemia pressiona hospitais particulares em Goiás, que já enfrentam falta de insumos e adotam táticas extremas para salvar pacientes graves

atualizado

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Vinícius Schmidt/Metrópoles
equipe médica intuba paciente da covid-19 no pronto socorro de hospital privado, em goiânia, onde a rede particular já está com 100% dos leitos ocupados
1 de 1 equipe médica intuba paciente da covid-19 no pronto socorro de hospital privado, em goiânia, onde a rede particular já está com 100% dos leitos ocupados - Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles

Goiânia – O esgotamento do sistema de saúde, ocasionado pelo avanço da Covid-19, já não distingue mais se o hospital é público ou privado em Goiás. A falta de leitos para atender pacientes, principalmente na unidade de terapia intensiva (UTI), tem sido uma constante, levando equipes médicas da rede particular a adotar táticas extremas.

Diante do quadro, pessoas em estado grave, que já não podem mais aguardar pelo surgimento de uma vaga na UTI, estão sendo intubadas, nos hospitais privados, até no pronto-socorro. O Metrópoles esteve nessa terça-feira (9/3) no Hospital Santa Bárbara, em Goiânia, e acompanhou um desses momentos. A unidade de saúde é uma das que fazem parte da Associação dos Hospitais Privados de Alta Complexidade de Goiás (Ahpaceg).

No exato instante, uma equipe de profissionais fazia a sedação de uma paciente, no local. Ao lado dela, havia outra, também intubada e que já aguardava havia cinco dias pela liberação de um leito de UTI. “É um cenário que eu nunca vi e que nunca achei que eu fosse ver. Tem paciente na maca, no pronto-socorro, sendo intubado. E isso é geral”, revela o presidente da Ahpaceg, o médico Haikal Elou.

Haikal é diretor-técnico do Hospital Santa Mônica, em Goiânia, também de alta complexidade. No pronto-socorro da unidade, ontem, de acordo com ele, havia nove pacientes graves aguardando liberação de vaga na UTI. Três já estavam intubados.

De 10 dias para cá, segundo o médico, os efeitos da chamada segunda onda da pandemia se mostraram com maior severidade. Além da nítida diferença da faixa etária dos pacientes, com pessoas mais jovens (de 30 a 40 anos) precisando de UTI e com tempo maior de internação, a total ocupação dos leitos disponíveis, uma realidade, até então, da rede pública, passou a fazer parte da rotina dos hospitais privados, em Goiás.

Nos últimos dias, ele precisou recorrer a hospitais parceiros de outros estados e outras cidades do Brasil, em busca de leitos vagos para transferir pacientes. O médico conta que chegou a consultar colegas em Brasília, mas foi informado que a situação está tão grave quanto na capital goiana.

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“Às vezes, são para pessoas próximas, amigos, colegas, parentes que recorrem a mim, e eu tento. Ontem (segunda-feira), não consegui em lugar nenhum. Anteontem, tentei até em hospitais do Rio de Janeiro. O problema é geral. A ocupação é de 100%. Não há leitos de UTI, e temos muitos pacientes graves no pronto-socorro ou na enfermaria esperando vaga”, relata.

Outras doenças são deixadas de lado

A demanda é tanta que hospitais especializados ou leitos que serviriam para atender pacientes com outras doenças, como câncer, estão tendo, obrigatoriamente, de focar os esforços no tratamento dos casos de Covid-19. Por mais que as especialidades das unidades sejam bem definidas, o tratamento médico não pode ser negado.

“Você não tem como fugir. Por mais que você diga que seu foco é neurologia ou cardiologia, se o paciente passa na sua porta e entra, você tem que atender”, explica Haikal. O que já está acontecendo, agora, segundo ele, é que de tão lotados e cheios de casos da Covid, os hospitais de alta complexidade, vez ou outra, precisam “fechar as portas” para os demais casos.

“Os baladeiros que pegaram Covid nas festas e nas aglomerações estão ocupando leitos que poderiam ser de um paciente com câncer, por exemplo”, afirma o médico. Nessa terça-feira, ele precisou negar atendimento a uma pessoa com acidente vascular cerebral (AVC), porque o leito que serviria para atendê-la estava ocupado por um paciente com Covid.

A situação é complexa e coloca as decisões internas de um hospital diante de um dilema profissional. A questão central é que se o paciente adentrar a unidade, o hospital é obrigado a atendê-lo da melhor forma possível, dentro das circunstâncias do cenário. E o cenário atual, com 100% dos leitos de UTI ocupados, não garante o correto tratamento de casos de câncer, AVC, neurocirurgias e outros.

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Pandemia em Goiás

O estado de Goiás ultrapassou nessa segunda-feira (8/3) a marca das 9 mil mortes causadas pela Covid-19. O intervalo a cada soma de 1 mil novas mortes tem reduzido e se assemelhado ao pico da pandemia do ano passado, entre os meses de julho e agosto. Entre a morte 8 mil e a 9 mil, decorreu-se um intervalo de 21 dias, apenas.

Os hospitais da rede pública operam no limite há semanas. Na rede estadual, os leitos da Covid-19 regulados pela Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO) bateram os 99% de ocupação pela primeira vez, nos últimos dias. Em Goiânia, a rede municipal registrou essa marca no sábado (6/3) e vem mantendo o índice, até então.

Os serviços de regulação estadual e municipal nunca tiveram tantos leitos de UTI à disposição. Só em Goiânia, 118 foram abertos nos últimos dois meses. Mesmo assim, a severidade da pandemia, com transmissão comunitária das variantes do vírus em Goiás, tem aumentado a cada dia a pressão sobre o sistema de saúde.

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