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Quem dirá não a Lula ou apontará erros para que não se repitam?

A solidão do poder é o maior dos perigos

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Lula, presidente eleito, chora em pulpito durante discurso em sua diplomação no TSE por lembrar dos questionamentos por não ter diploma superior - Metrópoles
1 de 1 Lula, presidente eleito, chora em pulpito durante discurso em sua diplomação no TSE por lembrar dos questionamentos por não ter diploma superior - Metrópoles - Foto: Reprodução

Conta a lenda que Roberto Marinho, o fundador das Organizações Globo, uma vez chamou à sua sala o jornalista Evandro Carlos de Andrade, editor-chefe de O Globo, e perguntou:

“Você leu meu artigo?”

De vez em quando, Marinho escrevia artigos para o jornal. Evandro respondeu que sim, havia lido, e Marinho perguntou:

“O que achou?”

Então, foi a vez de Evandro, experiente, perguntar:

“Posso ser sincero?”

Marinho pensou alguns segundos e respondeu:

“Mais ou menos”.

Poucos são os poderosos que toleram ouvir críticas. Menor é o número de subordinados que se arriscam a apontar os erros dos seus chefes – a não ser em conversas com amigos e em voz baixa.

Lula tem lá suas razões para ter montado o núcleo duro do seu futuro governo com antigos companheiros. Mas eles serão capazes de lhe dizer não? De preveni-lo sobre eventuais erros?

A Bolsonaro, ninguém ousava dizer não. Os que disseram foram mandados embora. O general e ministro Luiz Eduardo Ramos sequer teve coragem de dizer que havia se vacinado contra a Covid.

Os poderosos detestam ser contrariados, e os que os cercam, para não serem afastados ou postos na geladeira, simplesmente evitam contrariá-los. Na maioria das vezes só lhes dizem sim.

Quem protege as decisões que toma de um juízo mais crítico tende a errar mais. Foi o próprio Lula, ao se eleger pela primeira vez presidente em 2002, quem alertou: “Eu não posso errar”.

Acertou ao dar continuidade em linhas gerais à política econômica do seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso. Errou quando pretendeu governar sem dividir o poder com outros partidos.

À época, autorizado por ele, o chefe da Casa Civil, José Dirceu, costurou um acordo com outros partidos, entre eles o PMDB, para que Lula contasse com uma base ampla de votos no Congresso.

Em cima da hora do anúncio do acordo, Lula recuou. Preferiu investir no apoio individual de deputados federais e senadores para aprovar os projetos de interesse do governo. Deu no quê?

Deu no mensalão do PT – a compra de votos que envolveu dinheiro público e que quase derrubou o governo. Não derrubou porque a oposição achou melhor deixar Lula sangrar sozinho.

Ela acreditou que Lula rolaria ladeira a baixo e perderia a eleição seguinte, dispensando a abertura de um processo de impeachment. Lula chegou a falar em renúncia, mas recuperou-se e se reelegeu.

Em algum momento da campanha eleitoral deste ano, Lula repetiu que a ele não é dado o direito de errar, e que seu governo espelharia o conjunto das forças políticas que o apoiassem.

Não basta que espelhe. É preciso que ele ouça e leve em conta a opinião desses aliados de ocasião. Ou então o seu terceiro governo será apenas mais um do PT, e não o que ele prometeu.

Não são de Lula todos os votos que ele teve para derrotar Bolsonaro. Parte desses votos foram daqueles que queriam ver Bolsonaro pelas costas. A recíproca é verdade.

Lula deveria mandar emoldurar o que falou ontem e pôr numa parede do seu futuro gabinete de trabalho no terceiro andar do Palácio do Planalto:

“Eu sei que vocês vão continuar nos ajudando e cobrando. Isso é importante: não deixem de cobrar. Porque se vocês não cobram, a gente pensa que está acertando. E muitas vezes a gente tá errando e continua errando porque as pessoas não reclamam.” 

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