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O Rio de Janeiro continua lindo e encharcado de sangue inocente

No lugar errado e na hora errada

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Imagem colorida de médicos executados no Rio de Janeiro - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida de médicos executados no Rio de Janeiro - Metrópoles - Foto: Arte/Metrópoles

– Oi, chefia…

– Seu filho da puta, que porra é essa?

– Foi mal…

– Vocês estão fodidos, sabia? Nós vamos pra cima de vocês com tudo, aguardem. A cobra vai fumar. O governador está puto.

– Calma, chefia. Os caras confundiram o médico com outra pessoa, você sabe quem, e aí…

– E aí fizeram essa merda… A repercussão é terrível.

– Mas foi tudo resolvido. Os caras já são presunto. Anote aí onde estão os corpos…

(O diálogo acima é pura ficção com base nas relações promíscuas entre o crime organizado e a polícia do Rio de Janeiro)

Para espanto de três turistas ingleses que, ontem à tarde, passeavam por ali, o quiosque do Posto 2 da Barra da Tijuca, onde três médicos ortopedistas foram mortos com mais de 30 tiros e um ficou gravemente ferido, estava repleto de clientes menos de 12 horas depois do bárbaro crime que chocou o país.

Um crime butal, seja qual for a métrica que se use para avaliá-lo, mas não ao ponto de surpreender os moradores do Rio e de outras grandes cidades sob o domínio de traficantes de drogas e de milicianos que vendem proteção. Afinal, passa pelo Brasil 50% da produção mundial de cocaína, e parte dela fica por aqui mesmo.

O Brasil é o segundo maior consumidor de cocaína do mundo, atrás dos Estados Unidos, segundo o repórter Marcos Augusto Gonçalves. Essa montanha de cocaína, equivalente a 710 toneladas,  alcançava em 2021 o valor de US$ 65 bilhões a preços do mercado europeu –algo em torno de 4% do PIB brasileiro.

Mais de 50 facções criminosas disputam o mercado do narcotráfico no Brasil – as duas maiores, o Primeiro Comando da Capital (PCC), nascido em São Paulo, e o Comando Vermelho (CV), nascido no Rio. Naturalizado está o convívio dos brasileiros com tiroteios diários e matanças. Por ano, o país registra 47 mil homicídios.

No caso do Rio, levantamento do Ministério da Defesa feito em 2017 apontou que 2,5 milhões a 3 milhões de pessoas viviam em território controlado por traficantes de drogas e milicianos. Dito de outro maneira: viviam em estado de exceção, onde as leis a serem respeitadas são as dos criminosos, não as do Estado brasileiro.

Ao que tudo indica, foi o Comando Vermelho, ou um dos seus sócios, que mandou matar os quatro médicos que participavam no Rio de um seminário internacional de ortopedistas, não por serem médicos, mas porque um deles, Perseu de Almeida, foi confundido com o miliciano Taillon Barbosa, recém-libertado da cadeia.

Também ao que tudo indica, descoberto o erro, o Comando Vermelho matou os quatro assassinos dos médicos e avisou à polícia onde os corpos poderiam ser encontrados – dentro de dois carros na Gardênia Azul, uma comunidade da Zona Oeste do Rio. Desculpe qualquer coisa, isso não mais se repetirá.

Não foi bom para os negócios que não podem parar. É por isso que não interessa aos bandidos trocar tiros com a polícia, nem a ela entrar em áreas controladas por eles. Quando o Rio sedia grandes eventos, os dois lados se entendem de véspera para que tudo corra em paz, os negócios e a segurança pública. Costuma dar certo.

Quando uma facção declara guerra a outra, a polícia evita se meter. Ou se mete apenas para manter as aparências. Infelizmente, não vai demorar muito para que a chacina dos médicos se torne mais uma página virada na história do Rio. Dirão que foi falta de sorte deles estar no lugar errado e na hora errada.

A propósito: quem mandou matar Marielle Franco, e por quê?

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