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Bolsonaro sem pressa e sem partido

Trocar de partido é coisa que presidente entende muito bem

atualizado

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Hugo Barreto/Metrópoles
Jair Bolsonaro
1 de 1 Jair Bolsonaro - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

Ainda não chegou ao fim a última temporada da série “O próximo partido de Bolsonaro”, que já dura dois anos. Nesse roteiro, negociações com PP, PTB, Republicanos, Patriota e a criação de uma sigla. Estava marcada para o dia 22 de novembro sua entrada no Partido Liberal. Mas ontem (14), Jair anunciou o adiamento de sua filiação. Bolsonaro não tem pressa?

Aparentemente tem sua governabilidade garantida até o final do mandato, fundamentada na união entre militares e Centrão. Matéria do Estadão mostra os afagos entre os membros dessa base. Ministros e aliados já foram condecorados ao menos 115 vezes desde que Bolsonaro vestiu a faixa. Entre os agraciados, Damares Alves, Paulo Guedes e Carlos Wizard. Seu único temor é o agravamento da crise econômica. Aí não há Centrão que o salve.

Bolsonaro quer um partido com seu sobrenome, com o controle do dinheiro e das indicações eleitorais nos estados-chaves. Se nas negociações com o Congresso o governo conta com hábeis articuladores, é na filiação partidária que o núcleo duro do bolsonarismo demonstra sua incapacidade, alimentada por anos de insignificância e rachadinhas.

E o senador Flávio Bolsonaro tem se destacado. Bateu à porta do PTB, exigindo a nomeação de candidatos ao Senado no Nordeste e moderação de Roberto Jefferson. Não foi pra frente. Carlos e Flávio deixaram o PSL e foram para o Republicanos, partido de Edir Macedo. Nada. Flávio foi para o Patriota, em claro sinal de diálogos adiantados. Acabou rachando a sigla, que decidiu pelo afastamento de seu presidente, Adilson Barroso, com quem negociava.

No episódio do PL, novamente questões regionais barram um acordo. Bolsonaro precisa de vozes atacando Lula no Nordeste e Doria em São Paulo. Mas o PL pode apoiar a candidatura de Rodrigo Garcia (PSDB) ao governo estadual. O diretório de Pernambuco pode se unir ao PT. Mas há uma novidade: o racha entre os filhos Carlos e Flávio e a resistência de parte do bolsonarismo para aderir à sigla.

Bolsonaro sabe que o Nordeste é uma causa perdida. No segundo turno da eleição passada, Haddad ganhou em 11 estados, 9 deles nesta região. Mas não tem pressa. A terceira via é um peça sem público, Moro tem um ano para ser desconstruído pelos adversários. Mesmo sendo o presidente do genocídio e da fome, tem a caneta, uma base consolidada, um exército de fake news nas redes sociais. Continuará apostando que o antipetismo e a fragmentação da direita o levarão ao segundo turno. E encontrará um partido para se acomodar, como fez em toda sua carreira política.

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