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Oportunidades e riscos na América Latina (por Marcos Magalhães)

Uma rara janela de oportunidade abre-se aos países latino-americanos

atualizado

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Divulgação/Museu Mário Fava
Mapa da primeira viagem panamericana
1 de 1 Mapa da primeira viagem panamericana - Foto: Divulgação/Museu Mário Fava

Em um mundo marcado por crises simultâneas, nas áreas ambiental, econômica e geopolítica, a América Latina dispõe de pelo menos um bom motivo para otimismo: estão na região algumas das maiores jazidas de minerais críticos para as energias renováveis.

Esta é uma das conclusões do Informe sobre Risco Político no subcontinente de 2024, que acaba de ser publicado pelo Centro de Estudos Internacionais da Universidade Católica do Chile.

A rara janela de oportunidade abre-se aos países latino-americanos em um contexto internacional de grande incerteza e de volatilidade geopolítica e econômica, como mostra o documento.

O ano de 2023 foi o terceiro mais violento no mundo desde a II Guerra Mundial, só superado no número de mortos pela Guerra da Coreia, em 1950, e pelo massacre de Ruanda, em 1994.

O momento atual, segundo os analistas chilenos, é marcado por uma policrise, onde se destacam os conflitos reais (os dois primeiros) ou potenciais (o terceiro), como os de Ucrânia-Rússia, Israel-Palestina e China-Taiwan.

Além disso, ressaltam, Estados Unidos e China competem na América Latina pelo acesso a ativos estratégicos essenciais para a transição energética. Tudo isso quando a região continua a redesenhar seu quadro político com seis eleições presidenciais, como as do México e do Uruguai.

Os desafios regionais continuam grandes, de acordo com o Informe. Entre eles estão a insegurança, o crime organizado e o narcotráfico.

Segundo dados das Nações Unidas citados no estudo, o crime organizado responde por cerca de metade dos homicídios na América Latina e no Caribe. E estão na região oito, dos 10 países com mais altas taxas de homicídio em todo o mundo.

Também são incluídos como importantes riscos políticos o aumento da corrupção e da impunidade e a queda de apreço pela democracia, além dos fluxos migratórios, dos riscos à governabilidade e da radicalização dos protestos sociais.

Ao analisar o quadro político e econômico regional, o estudo da universidade chilena aponta inicialmente riscos e ameaças. Entre eles o de que a América Latina ainda enfrenta desafios sociais pendentes do século 20, como pobreza e desigualdade.

Por outro lado, o documento aponta que a região tem pela frente oportunidades quase únicas de se reposicionar no cenário global em um momento de disputas econômicas e políticas com potencial de redesenhar, pelo menos parcialmente, a atual ordem mundial.

“A América Latina apresenta oportunidades únicas de liderança global a partir de suas vantagens competitivas na agenda do século 21”, aponta o documento, “dada sua alta disponibilidade de minerais críticos, de seu potencial de desenvolvimento de energias renováveis e da relocalização de cadeias de fornecimento, ou nearshoring”.

Os analistas lembram que Argentina, Bolívia e Chile respondem por cerca de 60% das reservas mundiais de minerais críticos para a “economia do futuro”, como cobre, cobalto, níquel e lítio. Por isso têm atraído a atenção de Estados Unidos, Europa e China.

Essa abundância de recursos, segundo o informe, poderia estimular uma nova onda de investimentos estrangeiros na região. Números da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), das Nações Unidas, indicam aumento de 55% dos investimentos estrangeiros entre 2021 e 2022.

“A transição energética é uma das áreas chaves para estimular o desenvolvimento da região, dada a disponibilidade de recursos naturais estratégicos”, aponta o estudo chileno.

“A transição energética”, prossegue o texto, “poderia se transformar em vantagem comparativa para atrair investimentos a outros setores, como indústrias intensivas em energia, e para atrair atividades complementares, como as relacionadas ao hidrogênio verde e ao desenvolvimento de tecnologias neutras em carbono.

As maiores reservas de minerais estratégicos estão concentradas em Argentina, Bolívia e Chile. Mas, como recordam os autores, as oportunidades se espalham pela região.

“O Índice de Transição Energética de 2023 do Fórum Econômico Mundial, que avalia o compromisso dos países com a transformação de seus sistemas energéticos para fontes mais sustentáveis, situa o Brasil na liderança do ranking da América Latina e do Caribe”, observam os analistas.

O Brasil destaca-se, no ranking, como o único representante da região entre os 20 primeiros países no mundo, seguido por Uruguai e Costa Rica.

Apesar do vasto potencial contido na transição energética, porém, a América Latina ainda apresenta sérias vulnerabilidades diante da mudança climática, como observa o estudo.

As comunidades menos favorecidas, recorda-se, são as mais afetadas pela crise climática. Seu limitado acesso a recursos e serviços, destaca o texto, dificulta a capacidade de adaptação. O que, por sua vez, perpetua a desigualdade e a injustiça social.

“A América Latina se encontra em uma encruzilhada crítica frente à mudança climática”, detecta o estudo. “A vulnerabilidade da região não apenas ameaça a estabilidade econômica e ambiental, como também aprofunda as desigualdades existentes”.

Ou seja, as oportunidades estão aí. Mas ameaças típicas do novo século acrescentam uma nova camada de riscos aos mais antigos desafios da América Latina.

 

Marcos Magalhães. Jornalista especializado em temas globais, com mestrado em Relações Internacionais pela Universidade de Southampton (Inglaterra), apresentou na TV Senado o programa Cidadania Mundo. Iniciou a carreira em 1982, como repórter da revista Veja para a região amazônica. Em Brasília, a partir de 1985, trabalhou nas sucursais de Jornal do Brasil, IstoÉ, Gazeta Mercantil, Manchete e Estado de S. Paulo, antes de ingressar na Comunicação Social do Senado, onde permaneceu até o fim de 2018.

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