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Como Gim Argello construiu seu caminho de Taguatinga à cadeia

Primeiro político do Distrito Federal condenado na Lava Jato, Gim Argello, preso desde abril, teve a trajetória política pautada por controvérsias

atualizado

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Pedro França/Agência Senado
Gim Argello
1 de 1 Gim Argello - Foto: Pedro França/Agência Senado

Entre muitos cargos, o de ex-senador é o mais citado por quem se refere a Jorge Afonso Argello, o Gim Argello. Suplente de Joaquim Roriz, Gim só foi alçado à cadeira no Senado Federal em julho de 2007 porque o titular renunciou para evitar a cassação do mandato. No dia da posse, levou o primeiro susto: o então senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) o questionou sobre as acusações de que ele teria recebido 300 lotes para facilitar a regularização do condomínio Alto da Boa Vista, em Sobradinho. A denúncia se referia à época em que o político de Brasília presidia a Câmara Legislativa, entre 2001 e 2002.

Quase uma década se passou desde a constrangedora posse no plenário do Senado. Hoje, a carreira pública de Gim, sempre marcada por passagens conturbadas, sofreu um forte golpe. Nesta quinta-feira (13/10), ele se tornou o primeiro político do Distrito Federal condenado no âmbito da Operação Lava Jato. E a pena imposta pelo juiz Sérgio Moro foi dura: 19 anos de prisão.

A trajetória do político que transitou pelas mais variadas esferas do poder é alvo de denúncias de corrupção desde o primeiro mandato, na Câmara Legislativa, onde foi deputado distrital entre 1999 e 2006. Foi na Casa, aliás, que Gim teria intercedido politicamente a favor de aliados. Na CLDF, apresentou dezenas de projetos mudando a destinação de áreas públicas. Assim, permitiu que grandes terrenos fossem comprados por particulares, que construíram vários condomínios. A maioria deles em Sobradinho e em Vicente Pires.

Falastrão
Nascido em São Vicente (SP), em 1962, Gim se mudou com a família para a capital do país ainda jovem. O pai era comerciante e trabalhava no Mercado Norte, em Taguatinga. Falastrão, Gim passava os dias na Praça do DI batendo papo com quem passasse por lá. Fez amigos, tornou-se conhecido na região e logo a popularidade o fez se aproximar da política.

Entrou para a juventude do PDS, aproximou-se de empresários conhecidos na cidade e do líder religioso Moacir Anastácio — o padre responsável pela Festa de Pentecostes da Paróquia São Pedro. A mesma que hoje está sob suspeita de ter recebido dinheiro de propina desviada da Petrobras por influência de Gim.

Em 1994, aos 32 anos, Gim tentou entrar na política pela primeira vez. Concorreu à Câmara Legislativa, mas não se elegeu. Nos anos seguintes dividiu o tempo entre as atividades partidárias e o trabalho de vendedor de carros e de imóveis. A persistência deu resultado em 1998, quando foi eleito deputado distrital pelo PFL, com 10.345 votos.

Arte/Metrópoles

 

Até então pouco conhecido pela população do DF, Gim galgou os degraus da CLDF rapidamente. Ainda no primeiro mandato, foi eleito presidente da Câmara Legislativa. Permaneceu na Casa até 2006, passando pelo PMDB e se filiando ao PTB em seguida, quando se articulou para ser suplente do ex-governador Joaquim Roriz no Senado Federal. Com 657.217 votos, Roriz abocanhou a única vaga aberta naquele ano no Senado e, de quebra, levou Gim, que assumiria a cadeira menos de um ano depois da posse de Roriz.

Fortuna milionária
O rapaz falante de Taguatinga tornou-se um articulador no Congresso Nacional. Fazia questão de se mostrar amigo e bem quisto de todos. Construiu a imagem de um político influente, com várias conexões, que afirmava ter trânsito com a então presidente Dilma Rousseff (PT). Chegou a ser líder do governo no Senado. Acumulou aliados e fortuna — em 2014, declarou patrimônio de R$ 4,5 milhões à Justiça Eleitoral.

Arte/Metrópoles

 

No Senado, Gim manteve boa relação com políticos poderosos, como Renan Calheiros, José Sarney e Romero Jucá. “O Sarney e o Renan foram presidentes enquanto o Gim estava lá. Quando queriam articulação no plenário, ligavam para o Gim e pediam que ele fosse ajudar a aprovar algum projeto. Ele (Gim) dava nó em pingo d´água”, contou uma pessoa muito próxima do ex-senador.

A influência crescente de Gim fez o nome dele ser indicado para concorrer a uma vaga de ministro do Tribunal de Contas da União (TCU). A articulação, no entanto, gerou revolta entre os servidores, que realizaram manifestações, enterrando a indicação à Corte.

Ainda assim, Gim manteve força no Senado. Não à toa, tornou-se vice-presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instaurada no Senado Federal para apurar irregularidades no âmbito da Petrobras, há dois anos.

Foram justamente duas de suas maiores qualidades — a desenvoltura e o poder de persuasão — que o levaram à queda. Gim Argello teria, segundo a Polícia Federal, usado a influência do cargo para cobrar propina de empreiteiros. Segundo depoimentos de delatores da Operação Lava Jato, o senador prometia evitar a convocação de suspeitos mediante o pagamento de R$ 5 milhões. Pelo menos dois empresários admitiram pagamentos irregulares ao parlamentar. Parte dos valores era repassado a partidos aliados. O dinheiro arrecadado à base dos achaques feitos a empreiteiros levou Gim Argello à prisão, em abril deste ano, e à condenação judicial desta quinta-feira (13).

Com uma pena de 19 anos de prisão, Gim, casado e pai de dois filhos, cumprirá a sentença longe da família e do conforto da mansão que tem na Península dos Ministros, no Lago Sul. Hoje, o rapaz falante que se destacou para a vida pública a partir de bate-bapos na Praça do DI está no Complexo Médico Penal, no Paraná, ao lado de outros presos da Operação Lava Jato.

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