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310 Norte: marido causou incêndio para esconder feminicídio

Segundo PCDF, João Bandeira matou Veiguima Martins com cinco facadas e teria caído ao tentar sair do apartamento. Ele também morreu

atualizado

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Arquivo pessoal/Foto cedida ao Metrópoles
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1 de 1 bandeira - Foto: Arquivo pessoal/Foto cedida ao Metrópoles

Esfaquear, incendiar e encobrir o crime. Esse era o plano do aposentado José Bandeira da Silva, 80 anos, para matar sua companheira, a servidora da Secretaria de Educação Veiguima Martins, 56. Tudo foi arquitetado para simular um incêndio acidental, onde apenas o idoso sobreviveria. No entanto, as investigações conduzidas pela 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte), somadas ao trabalho feito pelo Instituto de Criminalística (IC), apontam o que, de fato, ocorreu na madrugada de 30 de janeiro, no apartamento da 310 Norte.

O laudo produzido pelos peritos do IC ainda não está concluso. Mas uma série de indícios colhidos na cena do crime mostra a direção para um plano macabro arquitetado pelo idoso. Após matar a mulher com uma faca de cozinha do tipo peixeira, José Bandeira usou uma trouxa de roupas, com peças de lençol, toalha e outros tecidos, para formar uma fogueira próximo ao corpo da mulher. A ideia seria usar as chamas para esconder as marcas deixadas pelas facadas desferidas horas antes, quando Veiguima disse que o deixaria, após anos de violência doméstica.

Apesar do forte calor e da destruição provocada pelo incêndio, a caixa de fósforos, ainda suja de sangue, foi localizada pela perícia e recolhida como prova. Havia fósforos espalhados pelo chão da cozinha. Esse teria sido o método usado por Bandeira para provocar a combustão. No entanto, os peritos não conseguiram precisar se foi utilizado algum tipo de acelerador para propagar as chamas, como álcool, querosene ou outra substância. A caixa de fósforos foi levada para o IC, onde passará por exames de DNA para tentar identificar de quem é o sangue que mancha o objeto.

Queda e ferimentos
Outros detalhes do que teria ocorrido dentro do imóvel após o crime têm como indício o próprio corpo do aposentado, que sofria de câncer de próstata. As lesões na cabeça e nas mãos, por exemplo, apontam para os motivos pelo qual José Bandeira não teria conseguido deixar o apartamento após matar a companheira e provocar o incêndio. O corte encontrado pelos peritos médicos legistas na cabeça do idoso indicam uma possível queda da própria altura.

O aposentado pode ter tido dificuldade para andar pelo apartamento com a propagação da fumaça, que se alastrou rapidamente por todos os cômodos da casa. Ele acabou tropeçando e bateu com a cabeça. “São detalhes que serão confirmados com a conclusão do laudo pericial, mas existem indícios colhidos na cena do crime que apontam para o plano do autor em tentar encobrir o feminicídio”, afirmou o delegado-chefe da 2ª DP, Laércio Rossetto.

Pelo menos um corte encontrado na mão de José Bandeira mostra que Veiguima teria tentado reagir no momento em que foi atacada e sofreu as facadas. “Estamos colhendo o máximo possível de provas e agindo de forma técnica para concluir a investigação. Com o resultado do laudo pericial, poderemos ter certeza de toda a dinâmica do crime”, ressaltou o delegado.

Veiguima foi enterrada nessa sexta-feira (1º/2), em clima de grande comoção.

Faca
Na quinta (31/1), peritos do IC localizaram uma lâmina que parece ser de faca do tipo peixeira no quarto onde foi encontrado o corpo da servidora da Secretaria de Educação. O instrumento teria sido usado pelo aposentado para matar a companheira. O calor do fogo retorceu a lâmina e consumiu o cabo da faca. Apenas a lâmina feita em material inox resistiu.

Reprodução

 

Na quarta-feira (30), após o incêndio, os peritos não conseguiram concluir o trabalho porque o quarto ainda estava muito quente devido ao fogo. Logo que chegaram, eles localizaram um laptop que poderá ser usado como prova.

 

Vinícius Santa Rosa/Metrópoles
Peritos estiveram no prédio desde o início da manhã de quinta-feira (31/1)

 

Motivação
Segundo a família, Veiguima Martins disse que ia deixar o marido na quarta (30). “Não sei se foi por isso que os dois teriam discutido, mas ela tinha dito na terça [29] que deixaria a casa”, revelou ao Metrópoles Danielle Martins, sobrinha da vítima, 23.

Desde o começo das investigações, havia suspeitas de que o incêndio teria sido provocado para esconder um assassinato. Isso porque existiam relatos de violência doméstica – a vítima chegou a registrar ocorrência por ameaça e agressão contra o marido.

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Veja vídeos:

 

 

Feminicídios
No Distrito Federal, foram registrados 1.129 casos de violência contra a mulher neste ano (dados até o dia 29/1). Em 2018, 28 mulheres morreram vítimas de feminicídio.

Neste ano, outras duas mulheres morreram assassinadas pelo marido. A dona de casa Vanilma Martins foi morta a golpes de faca no dia 5 deste mês.

Na segunda (28), outro feminicídio chocou os moradores da Asa Norte. Ranulfo do Carmo, 74, matou a tiros a companheira, Diva Maia da Silva, 69, e feriu o filho Regis do Carmo Correia Maia, 47. Ele fugiu após o crime, mas acabou preso pela Polícia Militar. O filho do casal está internado no Instituto Hospital de Base (IHB).

Na quarta (30), o corpo de uma jovem também foi encontrado escondido entre pneus em Planaltina. A polícia ainda investiga se foi feminicídio.

Neste 2019, o Metrópoles iniciou um projeto editorial para dar visibilidade às tragédias provocadas pela violência de gênero. As histórias de todas as vítimas de feminicídio do Distrito Federal serão contadas em perfis escritos por profissionais do sexo feminino (jornalistas, fotógrafas, artistas gráficas e cinegrafistas), com o propósito de aproximar as pessoas da trajetória de vida dessas mulheres.

O Elas por Elas propõe manter em pauta, durante todo o ano, o tema da violência contra a mulher para alertar a população e as autoridades sobre as graves consequências da cultura do machismo que persiste no país.

Desde 1° de janeiro, um contador está em destaque na capa do portal para monitorar e ressaltar os casos de Maria da Penha registrados no DF. Mas nossa maior energia será despendida para humanizar as estatísticas frias, que dão uma dimensão da gravidade do problema, porém não alcançam o poder da empatia, o único capaz de interromper a indiferença diante dos pedidos de socorro de tantas brasileiras.

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