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“Você que lute”: por que adolescentes e jovens estão mais politizados?

Com milhares de seguidores, nomes cada vez mais novos bombam na web e mostram o engajamento da juventude no cenário político

atualizado

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Jovens politizados ficam famosos na internet com críticas ao governo
1 de 1 Jovens politizados ficam famosos na internet com críticas ao governo - Foto: null

A política brasileira têm sido alvo recorrente de memes na internet, além de inspiração para conteúdo nas redes sociais. Jovens de todo o Brasil estão por trás desses virais. Destemidos, eles ganham espaço na web com vídeos que analisam acontecimentos políticos e paródias ao atual governo.

Um deles é adolescente baiano Kaique Brito. Aos 15 anos, ele faz sucesso com vídeos dublando discursos de autoridades, como o presidente Jair Bolsonaro. O primeiro viral do estudante da periferia de Salvador foi a dublagem de uma fala racista, há um ano. A publicação teve mais de 3 milhões de visualizações até o momento.

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Em uma das produções recentes, Kaique celebra o bloqueio do presidente Bolsonaro à sua conta no Twitter. O influencer defende que a ação de Bolsonaro foi contrária ao cargo ocupado, já que não cabe ao presidente escolher quem recebe informação de suas redes sociais, único canal direto com os eleitores.

“As pessoas precisam se interessar por política desde cedo para saber em quem votar no futuro. É papel da população cobrar os representantes e papel deles nos dizer o que está acontecendo. As redes sociais, principalmente o Twitter, servem para isso”, afirma o adolescente, que ainda não tem título de eleitor.

Em Brasília

A estudante de psicologia Victoria Pannunzio, de 22 anos, não tinha nenhuma pretensão de ficar conhecida nas redes sociais ou de alcançar milhares de seguidores no Instagram. A fama veio, ainda assim. Ela ficou conhecida após publicar um vídeo no TikTok mostrando a norte-americanos como se deve falar termos característicos do Brasil, com deboche e humor.

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Em maio, Victoria ironizou uma propaganda do governo sobre o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O vídeo da brasiliense teve mais de 1,5 milhão de visualizações no Twitter e utiliza a expressão “você que lute”, que significa superioridade, evidenciando como o Ministério da Educação não estava pensando nos menos favorecidos ao não remarcar a prova.

“Comecei a ter consciência social quando entrei na UnB e tive contato com realidades muito diferentes da minha”, afirma Victoria, em entrevista ao Metrópoles.

As produções recentes da estudante são relacionadas à política e a acontecimentos atuais. Em um dos vídeos, Victoria utiliza a técnica de sedução em formato POV (ponto de vista) simulando que encontra Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro, em Atibaia, São Paulo, cidade em que foi preso.

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Oi…. haha queiroz, né? Poxa, tava te procurando tinha um tempinho… haha. Você é novo aqui em atibaia, né?

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Influência das redes sociais

De acordo com Christiane Coêlho, professora do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB), as redes sociais estão se tornando responsáveis por engajar politicamente jovens e adolescentes ao ocupar papel importante na formação da opinião pública, sobretudo após as últimas eleições.

“Eles têm muito mais acesso à informática, por isso, se mobilizam virtualmente e mais cedo”, explica Christiane.

Segundo a professora, os memes e vídeos mostram o engajamento da juventude na questão política enquanto cidadãos. Mais de 70% da pessoas já souberam de uma notícia política via meme, segundo pesquisa realizada em 2019 pela consultoria de tendências Consumoteca.

Exemplo do engajamento foram as manifestações em prol da preservação das vidas negras após o assassinato de George Floyd, nos Estados Unidos. Os protestos foram organizados pelas redes sociais.

“Mortes de pessoas negras acontecem com muita frequência, o que não quer dizer que é certo. Mas, o fato da morte de Floyd ter sido filmada criou uma dominação em rede, quase um efeito dominó”, explica.

Hater

Christiane explica que, com a pandemia, a tendência das pessoas viverem em bolha foi ampliada.

“Passamos a viver num mundo virtual em que nos limitamos a opiniões semelhantes às nossas. Quando alguém discorda, ficamos chocados, porque vivemos no mesmo mundo, mas em galáxias diferentes, com acesso a informações diferentes”, explica a professora.

A união entre a aversão a opiniões diferentes e o poder que a tela do computador ou celular gera nas pessoas provoca maior incidência de mensagens de ódio. Tanto Kaique quanto Victoria afirmam que recebem comentários de haters nas publicações.

“A maioria são comentários sobre características físicas ou colocam minha inteligência em xeque. No começo, levei a sério, mas depois entendi que esse ódio não se personaliza, não é palpável, se trata de uma batalha simbólica. Não posso deixar que me abalem. Não crio conteúdo para ferir as pessoas, o objetivo nunca foi esse”, assegura Victoria.

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