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Preenchimento labial: um guia completo do procedimento para evitar ciladas

Se o desejo é obter lábios volumosos, veja as dicas de profissionais para não errar na escolha

atualizado

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Mulher fazendo preenchimento labial
1 de 1 Mulher fazendo preenchimento labial - Foto: Freepik

Lábios volumosos se tornaram uma característica a mais no padrão de beleza da sociedade atual, sobretudo entre o público feminino. No entanto, antes de decidir pagar para ter uma boca carnuda como a de Kylie Jenner, Anitta ou Luisa Sonza, vale a pena avaliar a formação e conhecimento da pessoa que realizará a intervenção. Profissionais desqualificados ou sem o conhecimento necessário para eventuais complicações podem causar diversos males à saúde e autoestima dos pacientes.

Procedimento minimamente invasivo não cirúrgico, o preenchimento é feito para projetar, delinear o contorno ou aumentar o volume dos lábios. Na técnica, o ácido hialurônico é introduzido na região por meio do uso de agulhas ou cânulas. A quantidade e nível de viscosidade da substância depende do objetivo a ser alcançado. Mas, para que o profissional determine a dose do ativo, o paciente precisará passar pela análise especializada.

De acordo com a cirurgiã plástica Marcela Cammarota, as únicas pessoas devidamente habilitadas para aplicar o preenchimento labial são cirurgiões plásticos e dermatologistas. “São anos de estudos sobre a anatomia do corpo humano, os efeitos dos produtos, como lidar com as possíveis problemas e diagnóstico. Não podemos deixar de lado todo esse estudo em prol de especializações de final de semana”, salienta a profissional, diretora do Departamento de Comunicação da Sociedade Brasileira De Cirurgia Plástica (SBCP).

Os maiores riscos de aplicar com profissional desqualificado e sem saber a procedência do produto injetado, segundo Marcela, são as complicações. “O procedimento é tranquilo quando tudo é feito certo. Não está isento de que o produto se manifeste no corpo ou dê alergias. No entanto, a diferença de consultar um médico é que ele saberá orientar o paciente sobre o que fazer”, explica a médica.

Isso, inclusive, é outro fator prejudicial de se consultar com alguém sem formação adequada. “Se uma pessoa que não tem conhecimento sobre os riscos aplica e dá errado, ela tende a tentar esconder o erro ou encaminhar para um médico, que é com quem o paciente deveria ter tido contato desde o início”, elucida Marcela.

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No Reino Unido, foi lançada a campanha Had Our Fill para interromper a aplicação do preenchimento labial por pessoas sem qualificação. Segundo os organizadores, mais de 80% das intervenções são realizadas por pessoas sem treinamento médico ou verificação de segurança. O resultado são lábios deformados, inchados, com nódulos e com complicações mais sérias. A campanha estima que, no país, cerca de 200 pessoas ficaram cegas com os preenchimentos.

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Complicações

A dermatologista Patrícia Ormiga, assessora do Departamento de Cosmiatria da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), explica que, entre os perigos de colocar errado, há os efeitos mais fáceis de serem revertidos, como nódulos e manchas. Por outro lado, quando o produto é injetado nas artérias, fora do tecido dos lábios, existem riscos maiores e mais graves.

“Se o profissional aplicar o preenchimento dentro de uma artéria da face, o preenchedor pode causar desde a necrose de uma porção até acidente vascular cerebral (AVC) e cegueira”, alerta.

Revolta

A profissional de recursos humanos Maria de Lurdes*, de 44 anos, não teve o resultado esperado do preenchimento labial que realizou no final de setembro. Ela conheceu o aplicador, que não é médico, via publicações no Instagram. Interessada no procedimento, entrou em contato e marcou o atendimento por Whatsapp, sem exames ou avaliações prévias. O serviço saiu por R$ 600, à vista.

“No dia, preenchi alguns formulários e entrei para realizar o procedimento. Ele me atendeu bem, porém, não me explicou como seria o procedimento, tão pouco sobre o pós e quais complicações poderia ter”, revela Maria.

Ela conta que recebeu anestesia local, mas que não foi suficiente para impedir a dor das agulhas, então, recebeu uma de bloqueio dentro da boca. “Percebi que foram quatro incisões do produto, duas na parte superior do lábio, duas na parte inferior. Foi muito rápido. Entre anestesia e aplicação, levou uns 20 minutos somente. Sai do consultório com a boca inchada, sem dores”, relembra, citando que, ao todo, foram inseridos 1 miligrama de ácido hialurônico.

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No dia seguinte, a boca continuou inchada e Maria percebeu que haviam manchas acima dos lábios e nódulos. A orientação de quem a atendeu foi utilizar compressa de gelo e esperar, porque é um efeito “normal”. Cinco dias depois, as manchas haviam desaparecido, mas os nódulos persistiam. A resposta do aplicador foi a mesma de antes.

“Mais de 20 dias depois, muito desconfiada e desconfortável com o resultado, procurei minha dermatologista, que conhece a técnica, mas não faz. Ela me disse que não era normal o que estava acontecendo comigo e me aconselhou a ‘cobrar’ o profissional para que resolvesse o ocorrido. Disse até para abrir um processo, mas estou tão desanimada que não tenho nem vontade para isso”, contou Maria.

No mesmo dia, ela encaminhou novas fotos da boca para o aplicador, que a pediu que comparecesse no consultório. “Em 15 minutos estava lá. Ele examinou meus lábios e disse que era normal e não iria mexer. Disse que eu devo aguardar que o corpo absorva o produto em seis meses. Se não desaparecer nesse tempo, iria usar um laser para dissolver. ”

Revoltada e com a autoestima abalada, a profissional de recursos humanos decidiu registrar reclamação contra o produto utilizado no Reclame Aqui. “Os nódulos não doem, porém, deixam meus lábios disformes, principalmente quando sorrio ou estico a boca. Ninguém quer um sorriso torto. No final de outubro, tenho um casamento para ir e já estou ensaiando na frente ao espelho qual a melhor maneira de sorrir sem ficar com a boca torta”, lamenta.

Cuidados

De acordo com a dermatologista Patrícia Ormiga, a atuação do profissional que aplicou o preenchimento em Maria foi “erro seguido de erro”.

“Não se pode abandonar o paciente dessa forma, é obrigação do médico acompanhar todo o tratamento. Nunca se pode transferir a responsabilidade do cuidado, ele deve ser o responsável por tratar o paciente”, explica.

Além disso, ela acrescenta que não é possível afirmar em quanto tempo o ácido é absorvido em totalidade. “Varia de paciente para paciente, marca para marca, produto para produto. Não tem uma regra”, elucida a especialista. Patrícia alerta para desconfiar de profissionais que colocam muitos antes e depois ou faz muita propaganda.

Internet

Esse, inclusive, é outro ponto levantado pela campanha britânica. No Reino Unido, há um pedido para que haja uma repressão de publicidades sobre preenchimentos em redes sociais. Mais de 97% dos casos estudados pela entidade encontraram seus aplicadores nessas plataformas. A justificativa é que as propagandas são enganosas e feitas por pessoas desqualificadas, tendo em vista que médicos são impedidos de poderem divulgar o próprio trabalho de modo tão explícito.

Marcela Cammarota salienta a importância de não acreditar em anúncios e antes e depois divulgados na web. “Muitas vezes, os pacientes nem sabem com quem estão fazendo, vão pelo anúncio das redes sociais ou porque algum influenciador postou que gostou do resultado”, diz.

A campanha “Cirurgia Plástica: não existe milagre. Existe Ciência, Responsabilidade e Especialização!”, realizada pela SBCP, destaca que a maioria dos perfis que usa as hashtags #harmonizaçãofacial, #preenchimento, #botox, #plastica, e #abdominoplastia no Instagram não são médicos ou especialistas. “Fazem propagandas de cirurgias plásticas como se fossem objetos simples de consumo”, afirmou o presidente da entidade, Dênis Calazans, em nota à imprensa.

Batalha britânica

A primeira vitória da campanha realizada em território britânico foi a aprovação da proibição de aplicação do preenchimento em menores de 18 anos. No país, é extremamente comum que jovens realizassem o procedimento sem nenhuma orientação médica. Na visão do diretor da organização realizadora da campanha, Ashton Collins, as mudanças são vitais para “proteger os jovens de serem explorados por profissionais inescrupulosos”.

“Apoiamos dezenas de jovens cujas vidas foram seriamente afetadas. Não faz sentido que seja ilegal tatuar uma pessoa com menos de 18 anos, mas não que esses tratamentos de risco extremamente alto estejam disponíveis para pacientes potencialmente vulneráveis ​​e inseguros”, afirmou ao portal The Sun.

*Nome alterado a pedido da entrevistada

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