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Grupo Pitú levou o teatro de Brasília para o Brasil nos anos 1970

Série Teatro 061 conta a passagem simbólica do Grupo Pitú em Brasília. Criado por Hugo Rodas, o coletivo colocou Brasília na roda teatral

atualizado

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Os Saltimbancos
1 de 1 Os Saltimbancos - Foto: null

A chegada de Hugo Rodas a Brasília em 1975 abriu um espaço lúdico numa capital federal acuada e sem respiros criativos. Em torno do uruguaio, juntaram-se algumas dezenas de jovens apaixonados pelo teatro e sedentos por novidades. O diretor-coreógrafo queria montar um grupo similar ao que tinha no Uruguai, sob o comando de Graziela Figueroa, em Montevidéu, mesclando a linguagem da dança à narração dramática.

Aos poucos, as pessoas foram chegando, interessando-se e tomando consciência do trabalho. Sem exigência de nenhuma experiência, apenas com o propósito de abertura de cada um

Hugo Rodas

Assim nasce o Pitú, grupo mítico do teatro brasiliense nos anos 1970. Havia uma intensa entrada e saída de gente. Os mais estáveis eram Iara Pietricovsky, Guilherme Reis, Dimer Monteiro, Antônio Herculano, Johanne Hald Madsen, Tânia Botelho, Néio Lúcio, Renato Matos, Keila Borges, Tânia Costa e Eliane Arruda.

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A experiência era de coletividade. Hugo morava na 307 Sul, num apartamento funcional do Itamaraty, ligado a Antônio Herculano. O lugar era simultaneamente a casa e a sede do grupo. O convívio, o dia inteiro. Emendavam-se as salas de ensaio com a cozinha, os quartos, discutindo, amando, pensando e fazendo teatro.

Saímos do ensaio e seguíamos a beber para falar do trabalho juntos. Ou íamos para casa e fazíamos una comida e seguíamos trabalhando. Era uma loucura, a gente abria a gaveta de um armário e encontrava o Renato Mattos dormindo

Hugo Rodas

O nome Pitú nasceu de um convite para Hugo e sua trupe sem nome apresentarem “Trabalho nº 2” em Salvador. A produtora insistia num nome e o diretor, ao olhar para a mesa de casa, viu uma garrafa de cachaça Pitú, que custava alguns cruzeiros.

Disse bota aí Pitú, que vamos pegar a estrada

Hugo Rodas

Juntos, Hugo e trupe criaram 10 espetáculos: “Trabalho nº 1”, também divulgado como “Dança” (1976), “Trabalho nº 2” (1977), “Os Saltimbancos” (1977-1979), “Trabalho nº 3” (1978), “O Noviço” (1979), “Arroz com Feijão” (1979), “Os Pitutinhos” (1980), “4×4”, “Como Vai Você?” (1980) e “Fala Lorito” (1981), em parceria com Antônio Abujamra e o Teatro Brasileiro de Comédia (TBC).

O mais simbólico de todos, sobretudo para Brasília, foi “Os Saltimbancos”, da obra de Chico Buarque. A montagem fez sucesso na cidade e surpreendeu pela capacidade corporal dos atores em cena. Hugo trazia para os aprendizes um estudo profundo de gestos e da coreografia de dança. O corpo passa a ser a maior expressividade do Pitú. Era um teatro limpo, sem cenário e figurinos que roubassem a atenção.

“Os Saltimbancos” tornou-se o primeiro espetáculo do grupo a se apresentar fora de Brasília, em Goiânia, Rio de Janeiro e Salvador. Ganhou o prêmio de Melhor Espetáculo Infantil do Ano pelo Serviço Nacional do Teatro, hoje a Funarte.

Pitú ganha uma relevância nacional e avança por festivais e itinerância. Em 1980, segue para São Paulo onde monta “Fala Lorito”, espetáculo que marca o fim de um ciclo. Uma parte dos integrantes volta a Brasília. Outra fica em São Paulo. Neste momento, Hugo Rodas firma-se parceiro artístico de José Celso Martinez Corrêa.

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