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Roacutan viraliza no TikTok, e médicos alertam para uso indiscriminado

Após viralizar nas redes sociais, o remédio voltou a chamar a atenção de médicos e especialistas, que buscam esclarecer os pacientes

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Arte/Metrópoles
Arte acne
1 de 1 Arte acne - Foto: Arte/Metrópoles

Publicações de adolescentes e jovens em redes sociais, como o TikTok e o Twitter, levantaram um intenso debate nas últimas semanas acerca dos benefícios e malefícios do Roacutan, nome comercial da substância isotretinoína, indicada para tratamentos de casos severos e moderados de acne.

Geralmente, o remédio é recomendado por dermatologistas como último recurso, quando nenhum outro tratamento solucionou a persistência das espinhas, pois seus efeitos colaterais são considerados graves. Mas, quando há o acompanhamento médico adequado, com exames de sangue mensais, por exemplo, as fórmulas baseadas em isotretinoína são a melhor opção para lidar com o problema.

O medicamento viralizou no Twitter na última semana de junho, entrando para os assuntos mais comentados da rede social com mais de 6 mil menções de pessoas que fizeram tratamento e compartilharam suas experiências, incluindo efeitos adversos que a droga supostamente causou.

No TikTok, o remédio se destacou com as hashtags #roacutancheck, que atingiu mais de 17 milhões de visualizações, e a #roacutanchallenge, que conta com 3,9 milhões de visualizações até o momento. Nos vídeos, pacientes exibem imagens de antes e depois do tratamento com o medicamento, além da evolução da pele ao longo dos meses.

Mas, entre as publicações, também surgiu uma polêmica: foi sugerido que Roacutan pode afinar o nariz, uma informação criticada por especialistas ouvidas pelo Metrópoles.

“Essa história do afinamento de nariz com o uso do Roacutan teve uma repercussão tão grande que alguns dos meus pacientes me questionaram. É um tremendo absurdo e vem de uma informação desencontrada”, conta Fernanda Nichelle, médica que atua exclusivamente na área estética e está à frente da Clínica MAC (Medicine Aesthetic Clinic).

Segundo ela, essa mudança pode acontecer em alguns casos muito específicos de quem desenvolve uma condição chamada rinofima, mas o afinamento é da pele, não do nariz. “Alguém espalhou isso e virou essa febre”, acrescenta a médica.

Edileia Bagatin, professora-associada do departamento de dermatologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenadora do departamento de cosmiatria da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), explica que a doença pode ser tratada com o Roacutan.

“O nariz é uma região onde temos muita glândula sebácea. Essa condição causa hipertrofia das glândulas sebáceas: elas incham e o nariz fica mais espesso, fica todo ondulado e cresce de fato”, detalha. “Quando você usa a droga, reduz o tamanho da glândula e reduz a rinofima. Com isso, o nariz voltaria a ter o tamanho anterior à doença”, complementa. A pesquisadora pontua que, no caso da acne, a isotretinoína reduz apenas a oleosidade da região.

Recomendação

A médica Fernanda destaca que os remédios baseados em isotretinoína são excelentes para alguns tratamentos específicos. Eles são, geralmente, a solução para pacientes que têm acne de grau severo ou alguns tipos de rosácea. “Em determinados casos, em uma dose muito suave, sempre com supervisão de um profissional especializado, podemos usar como um aliado do rejuvenescimento”, aponta a médica.

Por outro lado, de acordo com a pesquisadora Edileia, o tratamento com isotretinoína foi aprovado apenas para casos graves e moderados de acne, e não para outros usos, que incluem o tratamento de caspa, rosácea e envelhecimento da pele.

Ela nota que remédios como o Roacutan são mais indicados por médicos devidamente registrados quando o paciente, normalmente um adolescente, começa a sentir impactos na autoestima, ou quando as espinhas provocam cicatrizes na pele.

Esse é o caso de Mariana Pedroza, 29 anos. Ela fez o tratamento com Roacutan pela primeira vez aos 18, depois de várias tentativas com outros medicamentos, como pomadas e ácidos, sempre orientada e acompanhada por um dermatologista. “Tenho uma herança de espinha muito grande. Meu pai tem 67 anos e possui marcas no rosto. Fiz o tratamento em 2010 durante seis meses, porque eu tinha muita espinha nas costas e na testa”, conta a jornalista.

Segundo Mariana, nos dois tratamentos que fez, em 2010 e em 2020, precisou realizar exames de sangue mensalmente e fazer testes de gravidez, pois um dos efeitos colaterais do Roacutan é a má formação fetal. “Eu realmente só tinha essa opção e o Roacutan melhorou muito a minha pele, não tive mais espinha durante muito tempo”, destaca a jovem.

Ela voltou a lidar com o problema 5 anos após o fim do primeiro tratamento. Mariana acredita que as espinhas reapareceram por causa do anticoncepcional que estava usando, e a acne se manteve persistente.

“Fiquei dois anos tentando outros tratamentos com o dermatologista, não queria tomar Roacutan de novo. Mas valeu a pena. Já estava começando a causar manchas e cicatrizes na minha pele, isso me incomodava. Começou a mexer muito com a minha autoestima. Nessas circunstâncias, eu topei recomeçar o tratamento”, relata Mariana.

Efeitos indesejados

Lançado nos anos 1980, o Roacutan é um remédio considerado seguro e eficaz, que nunca saiu do mercado, segundo Edileia. Mas ele exige acompanhamento constante do paciente, com exames rotineiros, porque pode causar algumas alterações no organismo, atingindo o fígado, o nível de colesterol, ressecando a pele e, a mais grave: caso seja usado no primeiro trimestre da gravidez, provoca malformação do bebê.

De acordo com a pesquisadora da Unifesp, a isotretinoína atua na redução do tamanho da glândula sebácea, diminuindo a oleosidade e produção de sebo. “Ao reduzir a glândula, essa substância controla o grande fator desencadeador da acne”, esclarece a especialista.

Segundo Mariana, na primeira vez que fez o tratamento com o Roacutan, notou um acentuado ressecamento da pele e do cabelo, além de aumento das taxas de colesterol. “Eu achava que não precisava cuidar tanto da alimentação. Mas precisei fazer uma dieta bem restritiva de massa branca com  orientação de uma nutricionista”, lembra a jornalista.

Outro efeito colateral observado por ela, dessa vez no segundo período de tratamento, foi uma potencialização de quadro depressivo quando ela entrava na fase que antecede a menstruação. “Me sentia extremamente depressiva, algo que não acontecia nesse nível. Todo mundo está emocionalmente instável por conta da pandemia, mas percebi que, durante a TPM, eu ficava uns três dias bem mal, com pensamentos de automutilação”, destaca a jovem. “Acredito que o remédio potencializou uma fase baixo-astral que eu estava vivendo. No final do meu tratamento comecei a fazer acompanhamento com um psicólogo, porque demorei a ligar uma coisa à outra”, pontua.

Essa relação entre a depressão e o Roacutan, embora conste na bula, não tem respaldo científico, segundo Edileia. “Não foi confirmado, não há essa associação na literatura científica”, explica a pesquisadora.

Uma dessas amplas pesquisas populacionais sobre os efeitos psiquiátricos adversos relacionados com o remédio foi publicada em 2019 na revista Jama Dermatology.

O pesquisadores das Universidades de Harvard, Massachussetts e Pennsylvania, nos Estados Unidos, analisaram dados do FDA (a agência de regulação de drogas e alimentos dos EUA) sobre mais de 17,8 mil eventos psiquiátricos, entre janeiro de 1997 e dezembro de 2017, em pacientes que tomaram algum remédio baseado em isotretinoína.

Os resultados não foram suficientes para apontar a ligação causal entre o remédio e os eventos adversos psiquiátricos. Porém, os especialistas apontam que a associação entre problemas depressivos e questões suicidas por quem está em tratamento com a isotretinoína deve ser muito cautelosa, uma vez que o paciente com acne severa já faz parte de um grupo de risco.

A médica Fernanda reforça que o remédio é uma boa opção, desde que o paciente receba supervisão médica adequada. “O Roacutan não é um bicho de sete cabeças. Algumas pessoas estão assustadas com a medicação porque estão sendo informadas da forma errada. Quando o médico percebe que o paciente realmente precisa, é uma opção maravilhosa. Mas tem que haver acompanhamento profissional”, reitera.

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