Pressão descontrolada pode levar à demência, afirmam estudos
Hipertensão provoca pequenos derrames no cérebro que levam ao declínio da função cognitiva
atualizado

Rio de Janeiro – A hipertensão arterial, ou pressão alta, é uma condição crônica que afeta 30% dos brasileiros e está relacionada ao aumento do risco de problemas cardiovasculares, infarto e acidente vascular cerebral (AVC). No entanto, engana-se quem acredita que o coração é o único órgão prejudicado pela doença. Estudos mostram que ela também está associada ao declínio cognitivo, o que inclui a demência e a perda de memória.
De acordo com o médico cardiologista Osni Moreira Filho, professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), a pressão elevada – acima de 140×90 mmHg – favorece o aparecimento de pequenas lesões dos vasos sanguíneos que irrigam o cérebro e a ocorrência de pequenos derrames, comprometendo a circulação do sangue que leva oxigênio para o órgão. Como consequência, ocorre a morte dos neurônios e a perda da função cerebral.
Os prejuízos podem ser sentidos em vários domínios da função cognitiva como, por exemplo, a capacidade de manter o foco, realizar planejamentos, armazenar informações, se comunicar e se capaz de reconhecer as pessoas.
Segundo Moreira, o paciente que tem tendência a desenvolver o Alzheimer e é hipertenso corre um risco maior de antecipar o desenvolvimento da doença. “Se o paciente controlar a pressão, os casos graves podem ser retardados. Então é muito importante monitorar e tratar a pressão alta”, afirmou durante o 77º Congresso Brasileiro de Cardiologia, realizado no Rio de Janeiro.
“Os problemas cognitivos podem ser causados por muitas situações, inclusive a morte neuronal normal pelo envelhecimento, mas certas circunstâncias são passíveis de serem manejadas para diminuir a perda da função cerebral. Uma delas é a pressão arterial”, apontou Moreira.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), doenças cardiovasculares são algumas das principais causas de mortes no Brasil. Segundo a instituição, a maioria dos óbitos poderiam ser evitados ou postergados com cuidados preventivos e medidas terapêuticas Peter Dazeley/ Getty Images

Para a SBC, a prevenção e o tratamento adequado dos fatores de risco e das doenças do coração podem ser o suficientes para reverter quadros graves. Para isso, é necessário saber identificar os principais sintomas de problemas cardiovasculares e tratá-los, caso apresente algum deles bymuratdeniz/ Getty Images

Dentre as doenças cardiovasculares que mais fazem vítimas fatais, o Acidente Vascular Cerebral (AVC) se destaca. Ele é causado devido à presença de placas de gordura que entopem os vasos sanguíneos cerebrais. Entre os sintomas estão: dificuldade para falar, tontura, dificuldade para engolir, fraqueza de um lado do corpo, entre outros KATERYNA KON/SCIENCE PHOTO LIBRARY/ Getty Images

A arteriosclerose é uma doença provocada pelo endurecimento das artérias que levam oxigênio e nutrientes do coração para o corpo. A condição prejudica o fluxo sanguíneo e faz com que o paciente sinta fraqueza, fadiga e dores no peito. Além de estar relacionada com o processo de envelhecimento, a doença pode ser causada por colesterol alto, genética, diabetes e hipertensão katleho Seisa/ Getty Images

A cardiomiopatia é outra grave doença que acomete o coração. A enfermidade, que deixa o músculo cardíaco inflamado e inchado, pode enfraquecer o coração a ponto de ser necessário realizar transplante. Entre os sintomas da doença estão: fraqueza frequente, inchaços e fadiga SolStock/ Getty Images

O infarto do miocárdio acontece quando o fluxo sanguíneo no músculo miocárdio é interrompido por longo período. A ausência do sangue na região pode causar sérios problemas e até a morte do tecido. Obesidade, cigarro, colesterol alto e tendência genética podem causar a doença. Entre os sintomas estão: dor no peito que dura 20 minutos, formigamento no braço, queimação no peito, etc. KATERYNA KON/SCIENCE PHOTO LIBRARY/ Getty Images

Uma das doenças do coração mais comuns, e grave é a insuficiência cardíaca. Ela é caracterizada pela incapacidade do coração de bombear o sangue para o organismo. A enfermidade provoca fadiga, dificuldade para respirar, fraqueza, etc. Entre as principais causas da enfermidade estão: infecções, diabetes, hábitos não saudáveis, etc. bymuratdeniz/ Getty Images

A doença arterial periférica, assim como a maioria das doenças do coração, é provocada pela formação de placas de gordura e outras substâncias nas artérias que levam o sangue para membros inferiores do corpo, como pés e pernas. Colesterol alto e tabagismo contribuem para o problema. Entre os sintomas estão: feridas que não cicatrizam, disfunção erétil e inchaços no corpo manusapon kasosod/ Getty Images

Causada por bactérias, fungos ou vírus de outras partes do corpo que migram para o coração e infeccionam o endocárdio, a endocardite é uma doença que pode causar calafrios, febre e fadigas. O tratamento da doença dependerá do quadro do paciente e, algumas vezes, a cirurgia pode ser indicada FG Trade/ Getty Images

Causada devido à inflamação de outros músculos cárdicos, a miocardite pode causar enfraquecimento do coração, frequência cardíaca anormal e morte súbita. Dores no peito, falta de ar e batimentos cardíacos anormais são alguns dos principais sintomas Peter Dazeley/ Getty Images

Além dos sintomas comuns de cada uma das doenças cardiovasculares, cansaço excessivo sem motivo aparente, enjoo ou perda do apetite, dificuldade em respirar, inchaços, calafrio, tonturas, desmaio, taquicardia e tosse persistente podem ser sinais de problemas no coração Peter Dazeley/ Getty Images

Segundo a cartilha de Diretriz de Prevenção Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), apesar de alguns casos específicos, é possível prevenir problemas no coração mantendo bons hábitos alimentares, praticando exercícios físicos e cuidando da mente andresr/ Getty Images
Um estudo brasileiro feito em colaboração entre a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e a Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul) mostrou que idosos hipertensos têm 168% mais chance de desenvolver algum tipo de demência.
Outra pesquisa realizada pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) associou a hipertensão a um declínio de cognição e memória acelerado em adultos de qualquer idade.
O mesmo trabalho, publicado como artigo na revista Hypertension, em dezembro de 2020, também mostra que a pré-hipertensão – condição em que a pessoa tem a pressão entre 121 por 81 a 139 por 89 na maior parte do tempo – também está associada ao declínio cognitivo acelerado.
Controle da hipertensão
Manter hábitos saudáveis e controlar fatores de risco, como sedentarismo, obesidade, estresse, tabagismo e consumo excessivo de álcool, é fundamental para a regulação da hipertensão arterial e para retardar o declínio cognitivo dos pacientes, destacou Moreira.
*A repórter Bethânia Nunes está no Rio de Janeiro a convite da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) para acompanhar o 77º Congresso Brasileiro de Cardiologia.
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