Um relatório da agência da Organização das Nações Unidas (ONU) voltada à aids, o Unaids, revelou que seis a cada dez jovens de 5 a 14 anos com HIV não são tratados corretamente. O documento foi publicado nesta terça-feira (29/11) e destaca as desigualdades econômicas, de gênero, racismo e estigmas em relação ao assunto como os principais dificultadores do combate ao vírus.
A publicação aponta que, em 2021, cerca de 800 mil meninos e meninas com HIV nunca haviam feito tratamento para controlar o vírus. Além disso, entre 2010 e 2020 houve uma queda de 10,6% na proporção de óbitos de pessoas brancas com HIV — porém, entre indivíduos negros, a taxa cresceu 10,4%. Já as crianças, que representam 4% de todos os soropositivos, foram 15% das mortes relacionadas à doença em 2021.
O relatório mostra que, caso as tendências atuais em relação ao vírus sejam mantidas, o mundo não conseguirá atingir a meta de acabar com a aids até 2030. Para a ONU, a situação é preocupante — em julho deste ano, o Unaids já havia destacado que há um aumento de novas infecções por HIV e mortes em decorrência da aids em diversos países e regiões do mundo.
No Brasil, grande parte das crianças e adolescentes soropositivas foram infectadas antes de nascerem, quando a mãe passa o vírus para o bebê. Apesar de ser controlável no pré-natal, nem sempre a mulher portadora de HIV tem informação e acesso ao tratamento, o que resulta em consequências para os filhos, que podem desenvolver a doença.

HIV é a sigla em inglês do vírus da imunodeficiência humana. Causador da aids, ataca o sistema imunológico, responsável por defender o organismo de doenças. Os primeiros sintomas são muito parecidos com os de uma gripe, como febre e mal-estar. Por isso, a maioria dos casos passa despercebidaGetty Images

A baixa imunidade permite o aparecimento de doenças oportunistas, que recebem esse nome por se aproveitarem da fraqueza do organismo. Com isso, atinge-se o estágio mais avançado da doença, a aidsAnna Shvets/Pexels

Os medicamentos antirretrovirais (ARV) surgiram na década de 1980 para impedir a multiplicação do HIV no organismo. Esses medicamentos ajudam a evitar o enfraquecimento do sistema imunológicoHugo Barreto/Metrópoles

O uso regular dos ARV é fundamental para aumentar o tempo e a qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV e reduzir o número de internações e infecções por doenças oportunistasiStock

O tratamento é uma combinação de medicamentos que podem variar de acordo com a carga viral, estado geral de saúde da pessoa e atividade profissional, devido aos efeitos colateraisiStock

Em 2021, um novo medicamento para o tratamento de HIV, que combina duas diferentes substâncias em um único comprimido, foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) Hugo Barreto/Metrópoles

A empresa de biotecnologia Moderna, junto com a organização de investigação científica Iavi, anunciou no início de 2022 a aplicação das primeiras doses de uma vacina experimental contra o HIV em humanosArthur Menescal/Especial Metrópoles

O ensaio de fase 1 busca analisar se as doses do imunizante, que utilizam RNA mensageiro, podem induzir resposta imunológica das células e orientar o desenvolvimento rápido de anticorpos amplamente neutralizantes (bnAb) contra o vírusArthur Menescal/Especial Metrópoles

Nos Estados Unidos, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças aprovou o primeiro medicamento injetável para prevenir o HIV em grupos de risco, inclusive para pessoas que mantém relações sexuais com indivíduos com o vírusspukkato/iStock

O Apretude funciona com duas injeções iniciais, administradas com um mês de intervalo. Depois, o tratamento continua com aplicações a cada dois mesesiStock

O PrEP HIV é um tratamento disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) feito especificamente para prevenir a infecção pelo vírus da Aids com o uso de medicamentos antirretroviraisJoshua Coleman/Unsplash

Esses medicamentos atuam diretamente no vírus, impedindo a sua replicação e entrada nas células, por isso é um método eficaz para a prevenção da infecção pelo HIViStock

É importante que, mesmo com a PrEP, a camisinha continue a ser usada nas relações sexuais: o medicamento não previne a gravidez e nem a transmissão de outras doenças sexualmente transmissíveis, como clamídia, gonorreia e sífilis, por exemplo Keith Brofsky/Getty Images
Para a diretora e representante do Unaids no Brasil, Claudia Velasquez, nosso país é um exemplo na resposta ao HIV, oferecendo acesso às ferramentas de prevenção, diagnóstico e tratamento pelo SUS.
“Mas as desigualdades seguem impactando negativamente e gerando barreiras que impedem o acesso de pessoas em vulnerabilidade. E as desigualdades se cruzam. Por exemplo, uma pessoa trans, negra, vivendo com HIV e em situação de rua terá uma dificuldade extrema de acessar e seguir com o tratamento”, afirma, em publicação feita pelo Unaids no Brasil.
De acordo com Claudia, reconhecer a interseção de desigualdades é um elemento chave para uma abordagem integral da resposta ao HIV e combater o problema de saúde.
No Brasil, dados públicos indicam que novas infecções pelo HIV têm crescido entre a população jovem, na idade de 15 a 24 anos. Segundo a Unaids, é preciso realizar mais ações de educação e comunicação sobre infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), bem como sobre a prevenção, o diagnóstico e tratamento do HIV e aids.
Aids
Não existe cura comprovada para a infecção do HIV, mas a ação do vírus no organismo pode ser controlada a ponto de o indivíduo soropositivo nem mesmo passar o microrganismo a outras pessoas.
Cabe lembrar que ter HIV não significa ter aids. Uma pessoa contaminada pelo vírus pode viver anos sem desenvolver a doença, mas pode transmitir o agente infeccioso para outras pessoas durante relações sexuais desprotegidas, por exemplo.
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