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Médicos e pesquisadores discutem: afinal, a homeopatia funciona?

Depois de uma revisão de estudos, o governo da França decidiu revogar o subsídio à especialidade no sistema público por falta de provas

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JP Rodrigues/Metrópoles
Fotografia colorida de comprimido de remédio
1 de 1 Fotografia colorida de comprimido de remédio - Foto: JP Rodrigues/Metrópoles

Com mais de 200 anos de história, a homeopatia é uma das áreas mais antigas da medicina e, ao mesmo tempo, uma das mais controversas. Apesar de ser comumente associada à medicina natural, ou ao uso de fitoterápicos, a especialidade não tem muito a ver com as plantas. É baseada no princípio da proximidade: um medicamento que causa alguns efeitos pode, se diluído e agitado devidamente, curar os mesmos sintomas.

No centro da discussão, o debate entre defensores da técnica e críticos é apenas um: funciona ou é placebo? A guerra ganhou um novo capítulo no começo de julho (2019), quando o governo da França, após uma revisão de 3 mil estudos, decidiu retirar o subsídio da especialidade com a justificativa de que, simplesmente, não funciona.

A ação segue uma tendência internacional: Espanha, Austrália e Reino Unido também pararam de pagar os medicamentos e os Estados Unidos agora estampam nos remédios um aviso de que não há provas científicas da eficácia.

No Brasil, a homeopatia é reconhecida como uma das 55 especialidades médicas aceitas pelo Conselho Federal de Medicina e, para clinicar, é preciso ter uma especialização de dois anos no Programa de Residência Médica em Homeopatia ou passar em prova de concurso do Convênio AMB/Associação Médica Homeopática Brasileira. O paciente que escolher se tratar com a técnica pode procurar um especialista no serviço público: a homeopatia é oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

De acordo com Luiz Darcy Gonçalves Siqueira, presidente da Associação Médica Homeopática Brasileira, a especialidade sofre, na verdade, uma perseguição internacional. “É algo bem orquestrado, um movimento para tirar o incentivo porque a homeopatia diminui muito o uso de remédios, de procedimentos, tem um custo muito menor. Trabalhamos em conjunto com todas as especialidades médicas, não substituímos nenhuma delas. A homeopatia não é uma medicina alternativa”, afirma.

Para ele, é inadmissível falar que a homeopatia seria um placebo pela grande quantidade de estudos a favor do tratamento para resolver várias doenças. “Em 2017, o Conselho Regional de Medicina de São Paulo reuniu os oito melhores pesquisadores do país e criou um dossiê de pesquisas que comprova a especialidade. É só consultar”, diz o médico.

Luiz explica ainda que, na contramão deste movimento, a Suíça autorizou e estimulou o uso da homeopatia no sistema público em 2018. O especialista duvida que o Brasil reverta o incentivo por já ser uma especialidade consolidada e reconhecida no país.

Contraponto
A bióloga Natália Pasternak, uma das fundadoras do Instituto Questão de Ciência (IQC) e uma das principais vozes no Brasil contra a homeopatia, discorda. Ela afirma que, enquanto sobram estudos afirmando que a técnica é ineficaz, faltam outros reconhecendo a funcionalidade da homeopatia.

“Tudo na ciência precisa ser testado, mesmo as ideias mais esdrúxulas. A homeopatia não encontra plausabilidade na física ou na química. Está sendo estabelecido um consenso científico, com metanálises e revisões sistemáticas, que são as formas mais confiáveis de evidência científica. Uma vez que temos esse corpo de evidências de que não funciona, temos embasamento para tomar atitudes políticas, como está acontecendo”, explica a bióloga.

Natália acredita que a homeopatia funciona apenas como um placebo e as pessoas que relatam terem sido curadas tiveram apenas uma ilusão de melhora ou a doença teve uma redução espontânea. “Doenças crônicas, por exemplo, têm como característica picos de dor seguidos de vales. Dói muito, depois passa. A pessoa naturalmente vai procurar ajuda quando está doendo. Em vez de reconhecer que é como a condição se comporta, o crédito vai para a homeopatia”, diz a especialista.

Apesar de ser estabelecida e muito usada no Brasil, Natália afirma que a decisão de incorporar a especialidade no CFM foi política, não científica, e pode ser revertida tomando a literatura e as decisões internacionais como base. “Precisamos de uma campanha muito grande de informação e advocacy, e o IQC vai começar a fazer esse movimento”.

A homeopatia
Criada em 1796, pelo médico alemão Samuel Hahnemann, a homeopatia é baseada no “princípio dos semelhantes”, ou seja, o medicamento, quando testado no homem sadio, deve provocar os mesmos sintomas que uma pessoa doente apresenta. O princípio foi descrito, primeiramente, por Hipócrates, considerado o pai da medicina.

O homeopata Luiz Darcy dá um exemplo: a substância usada pelos oftalmologistas para dilatar os olhos dos pacientes, por exemplo, é chamada de atropina. A substância dilata não só as pupilas, como também os vasos sanguíneos, e a pessoa pode ficar ruborizada.

Diluída e dinamizada (misturada com a ajuda de um braço mecânico), a atropina seria capaz de tratar quem está com inflamações, como a gripe, por exemplo, por dilatar os vasos. O paciente que tem reação exagerada ao dilatador durante um exame oftalmológico também teria os sintomas revertidos com o uso da quantidade correta do mesmo princípio ativo responsável pelo problema.

A substância é normalmente diluída em água em quantidades muito pequenas. Uma das principais críticas é que o princípio ativo fica tão dissolvido que praticamente desaparece e, por isso, seria um placebo. O líquido final pode ser consumido em gotas ou em pequenas bolinhas de açúcar.

 

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