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“Fazendo parte da história”, diz brasileiro que tomou vacina de Oxford

Reumatologista Fábio Jennings é um dos 9 mil voluntários que participam dos testes da imunização desenvolvida pela universidade britânica

atualizado

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Arquivo Pessoal
fabio jennings
1 de 1 fabio jennings - Foto: Arquivo Pessoal

A principal esperança para que a rotina volte ao normal após a pandemia de coronavírus é a vacina. Várias empresas estão na corrida por uma imunização segura e eficaz e a candidata desenvolvida pela Universidade de Oxford, da Inglaterra, é uma das mais avançadas e promissoras do mundo. Em testes da terceira e última fase no Brasil, o medicamento está sendo aplicado em cerca de 9 mil profissionais de saúde. O reumatologista Fábio Jennings, 46, está entre eles.

Em entrevista ao Metrópoles, o médico conta que é funcionário da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e membro da Sociedade Paulista de Reumatologia, e logo no começo da epidemia, foi transferido para o atendimento de pessoas com sintomas de Covid-19 e pacientes com diagnóstico confirmado. Foi por meio da faculdade de medicina que ficou sabendo da convocação de voluntários e se inscreveu para participar.

“Eu tinha prioridade para entrar no estudo pelo nível de exposição, somos uma classe bem afetada pelo vírus. Assim que começou a triagem de participantes, me inscrevi”, conta Fábio. Ele teve que responder um questionário de informações básicas sobre a própria saúde, passou por uma consulta médica, apresentou resultado negativo de um exame de Covid-19 e assinou um termo de conhecimento sobre os benefícios e riscos do processo.

O estudo clínico da vacina de Oxford no Brasil tem dois braços: parte dos voluntários recebe a imunização que está sendo testada, a outra, uma vacina de meningite, que é conhecida e utilizada normalmente. O objetivo é que o paciente não saiba se recebeu o remédio correto para que, em um momento posterior, os resultados sejam comparados. No caso deste ensaio clínico, as duas vacinas têm efeitos colaterais semelhantes.

Fábio foi chamado de volta ao centro de pesquisas em 11/7, quando tomou a vacina. “Senti dor no local por dois dias, mas foi muito pouco. É como uma injeção um pouco mais dolorida. Conversei com outras pessoas que também tomaram, mas só uma teve febre e dor no corpo. Fiquei superanimado. Eu trabalho com pesquisa, já fiz esse tipo de estudo, sei todos os protocolos que devem ser seguidos. Está tudo sendo feito de forma impecável”, conta o médico. Ele diz que a equipe é grande e recebeu mensagens de acompanhamento até durante o final de semana.

O médico lembra que, nos dias seguintes à aplicação da vacina, algumas pessoas o procuraram questionando como teve coragem de participar do estudo. “É um momento importante para dar contribuições em todos os sentidos, me senti na obrigação de mostrar que é seguro e estou confiante. Acho muito legal pensar que participei de alguma maneira”, afirma. Depois da conversa, vários colegas de Fábio decidiram se inscrever no estudo clínico.

“Estou fazendo parte de algo importante na história da medicina mundial. Nunca vi um processo de desenvolvimento de molécula nova tão rápido como está sendo esse. Tudo em tempo recorde, mas seguindo o protocolo”, diz. O médico considera a experiência interessante por mostrar ao paciente atendido em suas consultas que a confiança na ciência é tanta, que ele mesmo está se colocando como voluntário.

Na próxima semana, Fábio deve voltar ao laboratório para passar por uma bateria de exames: os pesquisadores precisam ver se houve alguma variação na saúde do participante. Os próximos retornos serão com três meses, seis meses e um ano após a aplicação.

A rotina dele segue normal, trabalhando com a mesma intensidade, se protegendo do vírus com equipamento de proteção e evitando encontrar com a família e amigos. “Afinal, não sei se tomei a vacina de meningite ou a da Covid-19”, explica.

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