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Coronavírus adia sonho de futuras mães por fertilização in vitro

As sociedades científicas e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) orientaram as clínicas a suspender o início de novos ciclos

atualizado

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Schering AG via Getty Images
Fertilização in vitro
1 de 1 Fertilização in vitro - Foto: Schering AG via Getty Images

Recorrer ao procedimento de fertilização in vitro costuma ser um dos últimos recursos de um casal que pretende ter filhos, mas enfrenta dificuldades para engravidar após um período de tentativas. A expectativa pelo sucesso da fecundação do óvulo com o espermatozoide no laboratório de embriologia, normalmente, envolve uma espera desafiante. Esse difícil tempo de preparo e ansiedade, no entanto, se tornou um gigante ponto de interrogação durante a pandemia do novo coronavírus.

As sociedades científicas e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) orientaram as clínicas a suspender o início de novos ciclos de tratamento e cancelar todas as transferências embrionárias dos ciclos iniciados. Um adiamento do sonho de ser pai e mãe por tempo indeterminado.

A recomendação feita no início de abril repercutiu como uma pedra no sonho dos casais. “Muitos se preparam por muito tempo para esse momento, eles fazem a programação financeira, que não é barata, muitas vezes envolve até a venda de um carro. Tem o lado psicológico também. Realmente, não é fácil esperar por tanto tempo e, no seu momento de realizar esse sonho, ter que adiar”, afirma a ginecologista Luciana Potiguara, especialista em Reprodução Assistida e diretora da Clínica FertilCare, de Brasília.

Para se ter uma ideia do desconforto criado com a suspensão dos procedimentos, o Metrópoles entrou em contato com 14 casais que deram início ao processo, mas nenhum se sentiu à vontade para falar sobre a situação.

Essa incerteza de quando poderão retomar o sonho de ser pais pode ser ainda mais angustiante para mulheres tempo sensíveis — com idade entre 38 e 40 anos. Muitas delas não têm como esperar por apresentarem um número reduzido de folículos, o que pode impedi-las de engravidar com seus próprios óvulos.

“Tratamos esse adiamento do sonho com calma, serenidade e sabedoria, baseado no cuidado com nossos pacientes, a transparência e clareza por meio de explicações sobre o desconhecimento dos danos que o Sars-CoV-2 poderia causar aos fetos e às gestantes. Mas, sem dúvida, as mulheres tempo sensíveis são as mais ansiosas, pois não há uma data determinada para o final da pandemia”, reconhece a médica Luciana Potiguara.

Recomendação em abril

Vale ressaltar que a Anvisa orientou o adiamento de qualquer tratamento de Reprodução Humana Assistida “até que a situação de emergência em Saúde Pública de Importância Nacional, declarada pelo Ministério da Saúde, relativa à pandemia de Covid-19, seja normalizada”, conforme consta no documento assinado em abril.

As exceções contidas no texto são apenas os casos oncológicos, já que os processos de quimioterapia e radioterapia são nocivos aos folículos, e outros casos em que o adiamento possa causar mais danos ao paciente.

Nos casos em que o procedimento já estava em andamento, as clínicas têm congelado os embriões, a fim de mantê-los em condições de serem fecundados posteriormente. Não há prazo de validade para os embriões sadios receberem o material genético dos pais.

O que diz a Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida
De acordo com a presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), Hitomi Nakagawa, a Sociedade recomenda que as tentantes mantenham contato com os seus médicos para que os casos possam ser avaliados de forma personalizada e os inadiáveis tenham a devida abordagem. “A contextualização da oferta dos serviços de reprodução assistida deve obedecer às diretrizes governamentais locais para que não haja interferência na assistência à saúde da comunidade, nem riscos maiores à segurança das pessoas envolvidas. Todas as clínicas tem se solidarizado com o momento delicado e a pressão psicológica a que os nossos assistidos estão sendo submetidos”, informa.
Segundo a Nakagawa, o último relatório do Sistema Nacional de Produção de Embriões (SisEmbrio), divulgado em maio pela Anvisa, mostra que foram realizados no país 43.956 ciclos de fertilização em 2019. “Com a pandemia do novo coronavírus e a consequente suspensão temporária dos tratamentos de reprodução assistida, nós esperamos uma queda no número de ciclos de 2020. Em Brasília, por exemplo, nós já estamos iniciando uma retomada seletiva dos trabalhos tendo em vista a flexibilização governamental do Distrito Federal, o que também ocorreu em outros estados brasileiros. Nossa expectativa era de realizarmos em torno de 50 mil tratamentos no país, mas agora estamos esperando uma diminuição de cerca de 20% nessa previsão, projeta a presidente.
A SBRA orienta que as pessoas que apresentem dificuldade para engravidar procurem um médico especialista para  se fazer uma investigação detalhada do problema e analisar a urgência do caso. “O casal não deve perder tempo e precisa procurar ajuda médica, especialmente porque existem casos inadiáveis e urgentes tanto para a realização de tratamentos quanto para orientação e informação personalizados, considerando o quanto essas situações já afetam o emocional das pessoas. Os atendimentos médicos iniciais estão sendo, preferencialmente, realizados por telemedicina e as consultas presenciais nos locais onde há flexibilização do isolamento social estão observando rígidos protocolos de biossegurança, necessários para este momento de pandemia”, finaliza.

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