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“Quem tem arma em casa, entregue”, diz pai de aluno que matou colega

Motoboy de 51 anos disse que comprou a arma em 1994, quando tinha um trabalho de risco, mas nunca usou: “É uma coisa negativa”

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Imagem colorida mostra mãos de um homem segurando uma caixa preta, de uma arma - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida mostra mãos de um homem segurando uma caixa preta, de uma arma - Metrópoles - Foto: William Cardoso/Metrópoles

São Paulo – O pai do adolescente de 16 anos que matou a jovem Giovanna Bezerra da Silva em um atentado a uma escola na zona leste de São Paulo se apresentou nesta quarta-feira (24/10) à Polícia Civil. A arma usada no crime era dele e foi encontrada pelo filho no fim de semana, quando passou um tempo na casa do pai.

“Arma é uma coisa negativa. Quem tem arma em casa, entregue. Tive por 29 anos e nunca usei. Olha a tragédia que causou na minha vida”, disse o pai do adolescente, um motoboy de 51 anos.

O pai contou que comprou a arma em 1994, quando trabalhava com corte e religação de água. “Tinha um trabalho de risco. Muitos funcionários andavam armados, mas é uma besteira. Na época, era moleque novo”, disse.

Durante o período em que teve o revólver, o motoboy não fez o recadastramento e disse que a arma ficou guardada. “Teve aquelas campanhas de desarmamento, eu morava em outra casa, em São Mateus [zona leste]. Era bem inseguro, o muro era baixo, eu tinha um pouco de medo e não me desfiz”, afirmou. “Como mudei agora para uma comunidade, e não é um ponto visado, até estava pensando em me desfazer”, disse.

Filho

O motoboy contou que nunca imaginou que o filho pudesse cometer um atentado. “Estou muito abalado com o que aconteceu. Não via potencial no meu filho para cometer uma tragédia dessa”, afirmou.

Segundo ele, a impressão é de que ele mal reagia às agressões que costumava sofrer e, por isso, poderia ser a vítima de algo pior. “Achava que fosse acontecer algo com ele, de morrer e não reagir”, disse.

O pai apontou também o bullying sofrido pelo filho como algo destrutivo e um ponto que pode ter levado o adolescente a cometer o crime. “A pessoa fica em um beco sem saída. Ou ela se mata ou faz isso com alguém para se libertar. Não sei se estou falando a coisa correta”, disse.

O motoboy afirmou que não quer julgar ninguém, mas que também não houve apoio da escola, do governo ou de outras entidades para ajudar o filho, antes da tragédia. “Ele passou por um Caps [Centro de Atenção Psicossocial], a psicóloga fez algumas consultas e disse que não tinha distúrbio mental”, disse.

O pai conta que estava separado da mãe do adolescente desde 2019. Além de uma filha de 29 anos, ele tem também um pré-adolescente de 11, irmão do autor do atentado. Ele encontrava os filhos a cada 15 dias. “Perde aquele vínculo diário, de pegar para conversar”, disse.

O motoboy disse que nunca esperava estar à frente dos microfones para falar sobre uma tragédia cometida pelo próprio filho. Segundo ele, o garoto teve uma criação adequada, nunca se envolveu com armas e frequentava a igreja, tendo feito catequese e primeira comunhão. Também afirmou que o filho agiu sozinho, sem participação de terceiros.

Por fim, ele pediu perdão à família da vítima. “Sei que não adianta, mas peço perdão do fundo do coração pelo que meu filho fez. Sei que ele está sofrendo na prisão, eu como pai tenho um sentimento de culpa. A arma era minha, eu sinto, mas o que estou sofrendo não é nem 10% do que essa família está sofrendo com a perda da filha”, afirmou.

O motoboy foi ouvido pela Polícia Civil na noite desta terça e deverá prestar mais esclarecimentos ao longo da semana.

Segundo o advogado Douglas Oliveira, que representa a família, o adolescente teria pego a arma que estava no box da cama. “Levantando o box, ainda tem um fundo falso. Como foi e voltou de mochila, então o pai não percebeu. Só ficou sabendo depois. As munições estavam em uma caixa e a arma e outro lugar”.

Já o pai do adolescente disse que acredita na recuperação do filho. “A gente nunca desiste de um filho, mesmo com a gravidade dos fatos”.

Como foi o ataque

No segundo ataque a uma escola estadual registrado este ano em São Paulo, a estudante Giovanna Bezerra da Silva, de 17 anos, foi morta com um tiro na cabeça na manhã dessa segunda-feira (23/10). O atentado aconteceu dentro da Escola Estadual Sapopemba, na zona leste da capital.

O atirador, um estudante de 16 anos do 1º ano do Ensino Médio, foi contido pela coordenadora pedagógica da escola e apreendido pela polícia minutos após o crime. Segundo alunos e o advogado dele, o adolescente sofria bullying por ser homossexual.

Câmeras de segurança da escola estadual registraram a chegada do adolescente armado com um revólver calibre 38, por volta das 7h30. Ele invade uma sala de aula e ameaça os estudantes, que gritam e saem correndo.

Com um tiro à queima-roupa, ele atinge a nuca de Giovanna no momento em que ela se preparava para descer uma escadaria. Outras duas alunas de 15 anos são baleadas — uma com um tiro na clavícula e outra na região do abdômen. Um quarto estudante fica ferido na mão após quebrar uma janela para fugir do ataque.

Em nota, o governo de São Paulo lamentou o episódio e se solidarizou com as famílias das vítimas. “Neste momento, a prioridade é o atendimento às vítimas e apoio psicológico aos alunos, profissionais da educação e familiares”, informou.

Ameaça e rotina de agressões

A investigação aponta que o adolescente de 16 anos contou à mãe, em abril deste ano, que vinha recebendo ameaças on-line de pessoas que pareciam ser de “grupos rivais”. As ameaças eram feitas nas redes sociais.

Um boletim de ocorrência registrado pelo adolescente, em 24 de abril, menciona que o jovem foi agredido por “diversos alunos”, não identificados, da Escola Estadual de Sapopemba, a mesma onde ocorreu o ataque desta segunda-feira (vídeo acima).

Metrópoles localizou dois registros, em vídeo, nos quais o adolescente é agredido. Um deles seria do caso registrado no B.O. Já o outro ocorreu no bairro da Liberdade, na região central da capital paulista.

Grupos rivais

Em alguns vídeos postados no TikTok e Instagram, o adolescente aparece chorando após sofrer violência física. As redes sociais eram usadas por ele, seus seguidores e um grupo rival para alimentar as desavenças entre os jovens.

De acordo com o registro da ocorrência, “a vítima [autor do ataque] tem muitas visualizações de tudo o que lhe acontece”. Além disso, segundo o B.O., “as agressões sofridas pela vítima se generalizaram na internet, e foi percebido que os agressores ganharam muitos seguidores”. Por fim, o estudante diz à polícia que “teme por sua integridade física e que as ameaças se espalhem”.

Segundo a família do adolescente, o Conselho Tutelar e a Diretoria de Ensino foram procurados na ocasião da denúncia. Acionada, a Secretaria de Estado da Educação não se manifestou. O espaço está aberto.

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