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Um dia na Americanas: como a crise mexe com clientes e funcionários

Reportagem do Metrópoles esteve em uma unidade da Americanas em São Paulo; perplexos, clientes revelam preocupação com futuro da varejista

atualizado

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Fábio Matos/Metrópoles
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1 de 1 americanas-sp-editada-7 - Foto: Fábio Matos/Metrópoles

O dia de tempo firme na cidade de São Paulo se transformou, logo no início da tarde de terça-feira (7/2), quando o céu escureceu e um vendedor de guarda-chuvas abriu sua barraca bem em frente à unidade das Lojas Americanas na Rua Doze de Outubro, na Lapa, zona oeste da capital. Poucos minutos depois, um temporal desabou.

Apesar da chuva, o movimento era intenso tanto na rua, um conhecido centro de comércio popular paulistano, quanto dentro da loja da Americanas. Clientes e funcionários, contudo, não eram indiferentes à crise sem precedentes provocada pelo rombo bilionário nas contas da varejista.

Na semana anterior, a cerca de 440 quilômetros dali, na Cinelândia, centro do Rio de Janeiro, sindicatos ligados ao comércio fizeram um protesto em frente a uma loja da Americanas, cobrando respostas da empresa para a maior crise de sua história.

Afundada em dívidas estimadas em quase R$ 48 bilhões, com mais de 16 mil credores, a companhia teve aprovado pela Justiça um pedido de recuperação judicial.

No início de fevereiro, a Americanas demitiu cerca de 60 empregados terceirizados em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre e encerrou o serviço de televendas.

Enquanto acionistas minoritários da empresa vão à Justiça contra os acionistas de referência – os bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira –, pedindo o bloqueio de bens dos majoritários e o afastamento de conselheiros e diretores da Americanas, no dia a dia do consumidor o que resta são dúvidas e preocupações com o futuro de uma das marcas mais populares do Brasil.

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Vida real

“Eu compro na Americanas há muitos anos. As Lojas Americanas são do meu tempo, do tempo da minha mocidade”, diz a comerciante aposentada Zenaide, de 70 anos, abordada pela reportagem do Metrópoles enquanto fazia compras na loja da Doze de Outubro. “Acho que os preços não mudaram tanto, mas tem loja que está muito vazia”, relatou.

A unidade da Americanas na Rua Doze de Outubro é ampla, tem dois andares e vende de tudo, como equipamentos eletrônicos, alimentos, roupas masculinas e femininas, produtos de higiene e beleza, brinquedos e material escolar.

Atualmente desempregada, Maria Júlia, que não quis revelar a idade, também não viu muita diferença nos preços dos produtos desde que estourou a crise na Americanas. “Eu estive aqui em dezembro, voltei em janeiro e está normal. Você não encontra nada barato hoje em dia com essa inflação que está aí”, disse.

“Eu sempre passo aqui, compro uma coisinha ou outra. Chocolate, guloseimas… É costume”, prosseguiu a cliente, que torce para a sobrevivência da empresa após a crise. “Eu espero que essa situação se resolva. Eu gosto tanto daqui. É um vício que a gente pega.”

“Difícil de acreditar”

O contador Sérgio Pama, de 44 anos, que fazia compras na Americanas acompanhado pelo filho, demonstrou ceticismo ao ser questionado se acreditava na versão apresentada pelo trio de acionistas de referência da Americanas – a de que, assim como os demais acionistas, foram pegos de surpresa pelo rombo bilionário na companhia.

“Deixaram de notar R$ 20 bilhões, depois R$ 40 bilhões e agora sabe-se lá quanto… É muito estranho isso, é difícil acreditar que foi um erro. Parece uma maquiada para a empresa não entrar em crise”, afirmou. “Não sei exatamente os pormenores do caso, mas, pelo que a gente acompanha na imprensa, parece que não é uma coisa de falha humana, não.”

Para Sérgio, que costuma fazer compras na loja pelo menos uma vez por mês, o risco é a crise se transformar em “uma bola de neve”. “Primeiro pega o fornecedor, depois pode pegar o funcionário… A coisa fica muito mais complicada. Não é tão simples quanto parecia. Não é só a empresa pegar um empréstimo para cobrir a dívida ou os acionistas irem lá e colocarem dinheiro para cobrir o rombo”, diz.

Essa é a mesma preocupação de Pascoal, 69 anos, aposentado, ex-profissional da área de logística, que acabou entrando na loja “para se proteger da chuva” e fez questão de conversar com o Metrópoles ao perceber a presença da reportagem no local.

“A gente se preocupa porque muitas pessoas vão ficar desempregadas”, lamentou. “Minha irmã trabalhou como caixa aqui nessa loja durante muitos anos. Eu sou cliente da Americanas há bastante tempo. A gente acompanha e torce para que tudo termine bem.”

“Nada muda”

A reportagem do Metrópoles também abordou alguns funcionários da Americanas, que, em sua maioria, não quiseram falar sobre a crise na empresa. Um deles, que pediu para não se identificar, disse que a gerência informou à equipe que, por enquanto, “nada muda” e que a companhia já estava tomando “todas as medidas necessárias” para preservar os empregos dos colaboradores.

Um outro funcionário, do setor de retirada de produtos comprados via internet, disse que as operações seguiam “totalmente normais”, sem diferença em relação ao que ocorria antes de eclodir a crise na Americanas. A gerente da loja preferiu não se manifestar.

A Americanas, por meio de sua assessoria de imprensa, informou ao Metrópoles que “mantém a oferta de produtos e serviços aos seus mais de 53 milhões de clientes” em suas lojas, no aplicativo e no site. “A companhia segue com níveis adequados de estoque e está coordenando a revisão e redistribuição de produtos, buscando maior otimização de vendas e margens, ação que faz parte da dinâmica do varejo. As negociações comerciais seguem em ritmo saudável para a companhia e fornecedores com quem tem relações históricas”, diz a Americanas.

Ainda de acordo com a empresa, “o sortimento do marketplace voltou a patamares similares aos meses anteriores aos últimos acontecimentos”. “A Americanas reitera que segue operando normalmente, focada na gestão do negócio e no propósito de oferecer a melhor experiência a seus clientes, parceiros e fornecedores”, diz a nota.

A companhia afirma ainda que “não iniciou nenhum processo de demissão de funcionários” e “apenas interrompeu alguns contratos de empresas fornecedoras de serviços terceirizados”. “A Americanas atua neste momento na condução de seu processo de recuperação judicial, cujo objetivo é garantir a continuidade das atividades da empresa, incluindo o pagamento dos salários e benefícios de seus funcionários em dia. O plano de recuperação definirá quais serão as ações da empresa para os próximos meses e será amplamente divulgado assim que for finalizado.”

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