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Indústria limpa-nome anuncia liminar em outdoor e ostenta vida de luxo

Empresários ligados a associações que obtêm decisões sigilosas na Justiça para tirar nomes do Serasa esbanjam carrões e não escondem métodos

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Foto colorida de Felippe Ribeir, da empresa Avanzza, sentado no chão, de camisa branca, calça preta em frente a um carro de luxo azul - metrópoles
1 de 1 Foto colorida de Felippe Ribeir, da empresa Avanzza, sentado no chão, de camisa branca, calça preta em frente a um carro de luxo azul - metrópoles - Foto: Reprodução

Carrões de luxo, dinheiro esvoaçando e chuva de champagne. Os donos da indústria limpa-nome, que usam associações como fachada para ocultar bilhões de reais em dívidas por meio de decisões sigilosas da Justiça, esbanjam uma vida de ostentação nas redes sociais e também não escondem seus métodos.

Os criadores das tais associações anunciam até em outdoor de estrada que “limpam” o CPF ou CNPJ em até 20 dias, por meio de “liminar judicial”. Com o esquema, eles conseguem excluir os nomes de inadimplentes dos sistemas de pesquisa de protestos, como Serasa, SPC e o Instituto de Estudos de Protesto de Títulos do Brasil (IEPTB).

A proliferação de ações na Justiça teve êxito e já conseguiu decisões favoráveis para tirar mais de 700 mil protestos de empresas e pessoas físicas, com dívida total de R$ 20,4 bilhões, provocando um verdadeiro apagão nos dados usados pelos serviços de proteção ao crédito.

A avalanche de liminares causa insegurança no ambiente de negócios, por causa da possibilidade de contratar ou financiar pessoas e empresas com nomes repletos de protestos que não aparecem nos mecanismos de busca mais usados no país.

A Associação Brasileira de Defesa do Empresário e Consumidor (Abdec) é a maior entidade usada pelos empresários para mover estas ações. No último mês, ela anunciou: “Atenção! Próxima ação limpa nome”. Este é o chamariz para atrair novos clientes interessados em retirar seus nomes do Serasa e da busca pública de inadimplentes do Instituto de Protestos.

E funciona. De tempos em tempos, quando não consegue uma nova decisão judicial, a entidade pede aos juízes que já foram favoráveis a extensão de liminares para incluir dezenas de outros nomes como beneficiários da medida.

Em um vídeo gravado dentro de um escritório com o logo da entidade ao fundo, engravatados fazendo pose de executivos em uma sala comercial em Recife, capital de Pernambuco. Apesar de não constarem no papel, todos se apresentam como dirigentes da entidade e são donos de empresas que prometem limpar nomes de clientes.

Dono da Avanzza, Felippe Ribeiro (foto em destaque) publica em suas redes sociais passeios em seu Porsche, além de motos e outros carrões de luxo. “Não é ostentação, é superação”, diz. Ele anuncia, na página da Avanzza, que seu espectador está a “um clique” do nome limpo. A empresa obtém o feito por meio de liminares da associação.

Dono da Máximus, Marcelo Rocha gravou um vídeo para explicar como “faz para limpar seu nome”. “Fazemos parte de uma associação jurídica que consegue de forma legal retirar todos os apontamentos tanto de CPF quanto CNPJ dos órgãos de proteção ao crédito”.

Em uma propaganda de sua empresa, o anúncio do limpa nome é exposto na câmera de ré de um carro automático. Em um dos vídeos de suas redes sociais, Marcelo também mostra uma vida de alto padrão. Aparece dirigindo um BMW, abre um frigobar cheio de cervejas e caixas de whisky. Em outro vídeo, ele estoura uma garrafa de champagne.

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As estratégias de marketing não escondem o uso de decisões judiciais obtidas por associações. Além de infestarem a internet, os anúncios estão até nas estradas. No interior de São Paulo, um outdoor diz: “Limpe seu CPF ou CNPJ em até 20 dias “liminar judicial”.

Em conversa com o atendente cujo contato está no anúncio, o Metrópoles perguntou qual era a entidade usada para obter as decisões. Ele responde. “São mais de 50”. “Procure no Instagram, tem umas 100 empresas com a mesma liminar”, diz. Ele diz que não tem nada de “ilegal”. “É só você procurar um advogado”.

Procurados, Felippe Ribeiro, da Avanzza, e Marcelo Rocha, da Máximus, não se manifestaram. O espaço segue aberto.

O advogado Delmo Ferreira Neto, da Abdec, afirmou que eles não “têm autorização ou legitimidade para falar ou agir em nome da associação, bem como na associação não há nenhum tipo de cargo simbólico ou emérito”. “A Abdec não endossa nem respalda qualquer ato de qualquer pessoa que não seja de seu quadro formal e que não milite exclusivamente em favor dos consumidores vulneráveis associados”.

“Destacamos que a Abdec é uma associação aberta, com portas franqueadas aos que buscam por Justiça, não podendo responder por eventuais abusos ou desvios de quem não seja parte escrupulosa de seus quadros ou não comungue estritamente dos seus fins sociais”, diz.

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