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BC não deve mexer nos juros até o meio do ano, dizem analistas

Inflação de fevereiro, que veio acima das projeções do mercado, tende a segurar redução da taxa básica de juros pelo menos até junho

atualizado

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Daniel Ferreira/Metrópoles
Prédio do Banco Central no Setor de Autarquias Sul - Brasília - DF 04/11/2015
1 de 1 Prédio do Banco Central no Setor de Autarquias Sul - Brasília - DF 04/11/2015 - Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles

O resultado do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país e ficou em 0,84% em fevereiro, acima das projeções do mercado, deve fazer com que o Banco Central (BC) mantenha a taxa básica de juros da economia (Selic) no patamar atual de 13,75% ao ano, apesar das pressões do governo federal para que os juros caiam.

A avaliação é de economistas e analistas ouvidos pelo Metrópoles nesta sexta-feira (10/3).

A Selic está no maior nível desde janeiro de 2017, quando também estava em 13,75% ao ano, e permanece nesse patamar desde agosto do ano passado. A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC está marcada para os dias 21 e 22 de março.

A taxa básica de juros é o principal instrumento do BC para controlar a inflação. A Selic é utilizada nas negociações de títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve de referência para as demais taxas da economia.

Quando o Copom aumenta os juros, o objetivo é conter a demanda aquecida, o que se reflete nos preços porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Assim, taxas mais altas também podem conter a atividade econômica.

“O Copom deve manter a taxa de juros inalterada nessa primeira reunião. O balanço de risco no exterior continua com muitas incertezas. Além disso, o impacto de uma reoneração dos combustíveis deve afetar o IPCA de março, que será divulgado em abril”, projeta André Fernandes, sócio da A7 Capital.

“Desse modo, apesar da intenção do governo de pressionar o BC a derrubar os juros, com uma tentativa de divulgar o arcabouço fiscal antes da reunião da semana que vem, o Copom deve manter a taxa inalterada.”

Redução gradativa

Para André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online, a tendência é a de que a autoridade monetária inicie o processo de redução gradativa dos juros apenas a partir do meio do ano.

“A despeito da aceleração da inflação na margem, crescem as apostas de que o BC comece o ciclo de cortes da Selic no primeiro semestre deste ano. Nossas projeções estimam o primeiro corte da taxa de juros na quarta reunião do Copom deste ano, em junho”, afirma.

Fernandes, por sua vez, diz que é provável que a Bolsa de Valores opere com perdas no pregão desta sexta, repercutindo o IPCA maior do que o esperado pelo mercado.

“Qualquer dado que leve a uma interpretação do mercado de que a taxa de juros deve permanecer alta por um tempo maior impacta negativamente os ativos de risco. Com o IPCA vindo acima do esperado, o primeiro impacto é negativo na Bolsa”, explica.

Mercado aposta em desaceleração

Apesar do impacto negativo inicial, o mercado segue apostando na desaceleração da inflação durante o ano. “O aumento do IPCA na margem, de 0,53% em janeiro para 0,84% em fevereiro, não representa riscos imediatos ao processo de desinflação pelo qual o país atravessa”, avalia Galhardo.

“O recente comportamento dos demais índices de preços, sobretudo os indicadores da FGV, como IGP-M, IGP-DI e IGP-10, mostra uma clara tendência de desaceleração dos preços aos consumidores, o que colabora para que as projeções para a inflação nos próximos meses sejam benignas”, aposta.

Fernandes corrobora essa avaliação. “Apesar da alta do IPCA em fevereiro, o mercado não crê que, ao longo do ano, esse ritmo se mantenha e segue acreditando em uma tendência de desaceleração em 2023”, afirma.

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