Rússia está pronta para se defender com armas nucleares, diz governo
Vice-chefe de Segurança da Rússia afirmou que quaisquer armas podem ser usadas para defender a anexação de territórios ucranianos
atualizado
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O ex-presidente russo Dmitry Medvedev, atual vice-chefe do Conselho de Segurança da Rússia, afirmou que as autoridades do país estão prontas para usar todo o arsenal de Moscou, incluindo “armas nucleares estratégicas”, a fim de defender os territórios ucranianos conquistados pelos russos.
A declaração, nesta quinta-feira (22/9), subiu o tom das ameaças feitas pelo presidente do país, Vladimir Putin, em pronunciamento televisivo na quarta-feira (21/9). Na ocasião, o chefe do Kremlin decretou a primeira mobilização do país desde a Segunda Guerra Mundial. A intenção é convocar 300 mil cidadãos – com experiência militar – para a guerra contra a Ucrânia.
“A Rússia anunciou que não só as capacidades de mobilização, mas também qualquer arma russa, incluindo armas nucleares estratégicas e armas baseadas em novos princípios, podem ser usadas para essa proteção (das regiões ocupadas)”, declarou em entrevista à imprensa internacional.
Ele também aproveitou para reforçar a decisão de que serão realizados referendos sobre a separação das regiões ucranianas de Luhansk, Donetsk, Kherson e Zaporizhzhia, invadidas pela Rússia. “Não há volta atrás”, declarou.
“As repúblicas de Donbass (Donetsk e Luhansk) e outros territórios serão aceitos na Rússia. O establishment do Ocidente e todos os cidadãos dos países da Otan precisam entender que a Rússia escolheu seu próprio caminho”, declarou.
Caso sejam formalmente admitidos como parte da Federação Russa, os territórios ocupados, onde as contra-ofensivas ucranianas ganharam força nas últimas semanas, terão direito à proteção usando armas nucleares russas sob a doutrina de Moscou.
O Kremlin não tem controle total sobre nenhuma das quatro regiões que deve tentar anexar, com apenas cerca de 60% das regiões de Donetsk e 66% de Zaporizhzhia — região onde está localizada a maior usina nuclear da Europa — detidas pelo exército russo.
Reação de líderes mundiais
A comunidade internacional, especialmente, países que fazem parte da União Europeia, reagiram às ameaças de Putin e prometeram que não vão reconhecer como legítimas as anexações dos territórios ucranianos pela Rússia a partir de referendos.
“O que estamos testemunhando desde 24 de fevereiro é um retorno à era do imperialismo e das colônias. A França o rejeita e buscará obstinadamente a paz”, defendeu o presidente da França, Emmanuel Macron, durante o discurso na Assembleia Geral da ONU.
As declarações do mandatário russo, inclusive, foram vistas por chefes de Estado e de governo como um sinal de “enfraquecimento” de Moscou diante da contra-ofensiva ucraniana.
O chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, classificou o anúncio de mobilização parcial do líder russo como um “ato de desespero”. Liz Truss, do Reino Unido, chamou a mobilização de “um sinal claro de que sua invasão bárbara está falhando. Quaisquer referendos simulados em território ucraniano não serão reconhecidos. Ursula von der Leyen e eu estamos unidas em nosso compromisso de apoiar a Ucrânia pelo tempo que for necessário”.
Joe Biden também usou uma extensa parcela do pronunciamento na Assembleia Geral para condenar a ofensiva russa.
“Uma guerra nuclear não pode ser ganha, e não deve nunca ser travada. Hoje, estamos vendo violações perturbadoras a essa diretriz estabelecida pela ONU. Eles estão fazendo ameaças inaceitáveis […]. Nós não vamos permitir”, frisou.
Referendos
As duas regiões separatistas do Donbass, Donetsk e Luhansk, juntamente com Kherson e Zaporizhzia, pretendem conduzir as votações ainda nesta semana, em um ato que busca impedir as investidas ucranianas para retomar essas áreas.
Na prática, caso a população aprove a anexação, Moscou passaria a considerar as quatro regiões como parte de seu próprio território. Em caso de investida ucraniana contra essas áreas, Putin entenderia como ataque à nação russa, o que poderia provocar retaliações, inclusive com armas nucleares.
O mandatário disse que seu objetivo é “libertar” a região do Donbass, no leste da Ucrânia. E afirmou que a maioria das pessoas que vivem em regiões sob controle russo não quer mais ser governada por Kiev.