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Equador e Guiana: entenda as crises atuais na América do Sul

O Equador enfrenta uma crise de segurança pública aflorada pelo narcotráfico enquanto Venezuela e Guiana disputam o território de Essequibo

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Mariela Lopez/Anadolu via Getty Images
Imagem colorida mostra o presidente da venezuela, nicolás maduro, mostrando mapa com território anexada da Guiana - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida mostra o presidente da venezuela, nicolás maduro, mostrando mapa com território anexada da Guiana - Metrópoles - Foto: Mariela Lopez/Anadolu via Getty Images

Na última semana, o caos invadiu as ruas do Equador com a escalada de uma onda de violência, provocada pela fuga do líder da maior facção do país. A 2.480 km de distância de Guayaquil, palco dos “atos terroristas” dos narcotraficantes equatorianos, o território de Essequibo é alvo de disputa entre Venezuela e Guiana.

Antes de explicar cada crise, é importante reforçar a diferença entre os atuais cenários dessas nações sul-americanas. O problema no Equador trata-se de uma reação às propostas e, posteriormente, às ações mais duras do governo do presidente Daniel Noboa contra o narcotráfico. Enquanto o presidente venezuelano Nicolás Maduro resgata uma disputa originada no século 19.

Contudo, esses dois cenários são responsáveis por aflorar uma instabilidade na política, na segurança e até na economia, sendo capaz de afetar alguns países da América do Sul. Por exemplo, nações que fazem fronteira com os envolvidos ligam o alerta para uma possível violação das suas fronteiras, além de quebra de relações comerciais, como a compra de petróleo.

Crise de segurança no Equador

O país vive uma das piores crises de segurança dos últimos anos. Esse cenário se agravou após a fuga do líder do grupo criminoso Los Choneros, José Adolfo Macías Villamar, de 44 anos, mais conhecido como Fito, de uma prisão de segurança máxima em Guayaquil, no último domingo (7/1).

Com a fuga de Fito, o caos foi implantado nas ruas equatorianas, desencadeando uma reação mais dura do governo equatoriano responsável por inflamar a atuação de grupos de narcotraficantes, caracterizada pelo descontrole e pela violência.

O presidente do Equador, Daniel Noboa, chegou a decretar estado de “conflito armado interno” no país e passou a classificar as facções criminosas como grupos terroristas (veja lista abaixo). Com a medida, as Forças Armadas estão autorizadas a realizarem operações militares para neutralizar “organizações terroristas e atores beligerantes não estatais”.

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Buscando controlar o problema de insegurança, Noboa afirmou, na última terça-feira (10/1), que o Estado começará a deportar prisioneiros estrangeiros para reduzir a população carcerária e os gastos. Entre eles, cerca de 1,5 mil colombianos estão detidos em penitenciárias no Equador por ligação ao tráfico de drogas.

Além disso, com a escalada da violência no Equador, Argentina, Bolívia e Colômbia decidiram deixar à disposição suas respectivas forças de segurança para ajudar o governo equatoriano. Por outro lado, o Peru determinou o posicionamento “imediato” de combatentes na fronteira, com o objetivo de reforçar a segurança nacional.

Mesmo com a alta instabilidade na segurança equatoriana, especialistas consultados pelo Metrópoles desacreditam que o conflito armado no Equador avance para outros países da América do Sul. Isso porque trata-se de um problema doméstico, que, ainda segundo análise deles, deve ser resolvido sem interferências externas.

Roberto Rodolfo Georg Uebel, professor de relações internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), não acredita em uma expansão do conflito no continente e diz que, tradicionalmente, essas questões ficam restritas ao território dos próprios países.

“Na América do Sul, diferentemente do que acontece na Europa e no Oriente Médio, não temos esse efeito de escala, de ultrapassar as fronteiras nacionais”, explica Uebel. Portanto, para ele, a chance é “quase remota”.

Assista ao momento em que criminosos invadem estúdio de TV:

Considerado um “problema continental” pela ministra da Segurança da Argentina, Patricia Bullrich, nos últimos anos, o narcotráfico da América do Sul se adaptou para atender às demandas do mercado de drogas dos Estados Unidos (EUA) e da Europa.

Ele acrescenta que “o narcotráfico é um problema continental. Da Argentina ao Canadá”. No entanto, com intensidades e atores diferentes. Uebel ressalta que essa problemática não é exclusiva da América do Sul.

Confira lista de facções consideradas “grupos terroristas”:

Las Águilas; Las Águilas Killer; Ak47; Los Caballeros; Los Oscuros; ChoneKiller; Los Choneros; Covicheros; Cuartel de las Feas; Los Cubanos; Los Fatales; Gánster; Kater Piler; Los Lagartos; Latin Kings; Los Lobos; Los p.27; Los Tiburones; Mafia 18; Mafia Trébol; Los Patrones; R7; e Los Tiguerones.

Balanço do motim

Até o momento, o mais recente motim deixou 18 mortos, 329 presos e 41 resgatados. O país sul-americano está em estado de “conflito armado interno”. De acordo com o chefe do Comando Conjunto das Forças Armadas do Equador, almirante Jaime Vela, os detidos estariam vinculados aos grupos Tiguerones, Los Lobos e Los Choneros.

Estima-se que 195 veículos, nove embarcações e 19 equipamentos de comunicação roubados tenham sido recuperados. Além disso, mais de 60 armas de fogo de diferentes calibres foram apreendidas, além de 418 munições de 28 dispositivos explosivos e 230 kg de entorpecentes.

A Polícia Nacional do Equador contabilizou as seguintes vítimas:

  • oito pessoas mortas em ataques no porto de Guayaquil, no sudoeste do país;
  • dois policiais “cruelmente assassinados por criminosos armados” na cidade vizinha de Nobol;
  • três corpos encontrados dentro de um carro incinerado; e
  • cinco mortos em confronto com agentes.

A disputa entre Venezuela e Guiana por Essequibo

Iniciada no século 19, a disputa por Essequibo entrou nos holofotes novamente, em dezembro de 2023, quando o líder venezuelano, Nicolás Maduro, assinou seis decretos para dar continuidade à anexação de Essequibo, parte que pertence ao território da Guiana.

Com uma área de 159.500 km², a região corresponde a cerca de 70% do território guianense. O interesse pelo domínio de Essequibo se acirrou após a descoberta de grandes jazidas de petróleo, em 2015. Novas descobertas do recurso em outubro do ano passado elevaram a pressão na disputa pela região.

Arte colorida sobre Mapa da disputa entre Venezuela e Guiana - Metrópoles

No X (antigo Twitter), Maduro defendeu a incorporação do território. “Não deixaremos que ninguém nos tire o que nos pertence, nem trairemos os nossos princípios. Defenderemos Essequibo!”, escreveu.

O professor Américo Lyra, do curso de relações internacionais da Universidade Federal de Roraima (UFRR), destaca que uma possível anexação pela Venezuela praticamente inviabilizaria a subsistência do país em termos econômicos, impactando diretamente os empregos dos brasileiros na região.

Para ele, uma possível invasão por parte da Venezuela aumentaria o fluxo migratório sobre as cidades de Roraima fronteiriças. Como consequência, o estado de Roraima pode sofrer uma forte pressão sobre os serviços públicos, como saúde, segurança e educação.

A Guiana alega que a questão foi resolvida em 1899, por meio da Sentença Arbitral de Paris que determinou as fronteiras dos territórios da Guiana Britânica. O governo da Venezuela, por outro lado, alega que o Acordo de Genebra de 1966 reconhece a reivindicação venezuelana.

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Essa questão chegou até à Corte Internacional de Justiça (CIJ), também conhecida como Tribunal de Haia, que proibiu a Venezuela de tentar anexar a região de Essequibo. Por unanimidade, a CIJ decidiu que o país não pode tomar qualquer ação para interferir no atual status do território em disputa. Restringe também atitudes de ambas as nações que possam resultar no agravamento do conflito.

Tal proibição foi acatada por ambas as partes, ainda em dezembro, no auge da crise diplomática. Além disso, os dois países concordaram que as tratativas sobre o território de Essequibo serão resolvidas de acordo com o direito internacional. Para evitar conflitos, eles também prezam pela intermediação brasileira.

No fim de dezembro de 2023, o envio de um navio de guerra para a região de Essequibo pelo Reino Unido trouxe mais tensão na história que dura há séculos. A Guiana, até 1966, era uma colônia britânica.

Em resposta, Maduro, que tinha amenizado o tom do discurso de anexação, anunciou que tropas venezuelanas ficariam posicionadas na fronteira do país com a Guiana. No momento, a única certeza é de que a disputa pelo território guianense ainda está longe de ser resolvida.

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