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Em Portugal, estudantes brasileiros protestam contra atos de xenofobia

Em resposta às pedras endereçadas aos “zucas”, os alunos postaram-se nas escadarias da Faculdade de Direito e distribuíram flores

atualizado

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Gui Pacheco/Especial para o Metrópoles
Zucas 1
1 de 1 Zucas 1 - Foto: Gui Pacheco/Especial para o Metrópoles

Nessa quinta-feira pós-feriado (02/05/2019), ensolarada e quente, prenunciando um verão que deve vir escaldante, até que o clima nas escadarias da tradicional faculdade de Direito da Universidade de Lisboa estava tranquilo. Ali, por volta de cinquenta alunos brasileiros de pós-graduação organizaram um pacífico protesto contra atos de xenofobia ocorridos na segunda-feira (29/04/2019).

Naquele dia, o saguão da faculdade exibia um caixote de madeira, com uma meia dúzia de pedras. À frente do caixote, um cartaz com uma frase-convite: “Grátis se for para atirar a um ‘zuca’ (que passou à frente no mestrado)”. “Zuca” é uma forma reduzida de Brazuca.

A imagem, captada por uma brasileira estudante da faculdade, correu as redes sociais, gerando imensas discussões e chamando a atenção da imprensa, tanto local como internacional. A repercussão negativa fez com que rapidamente o artefato fosse retirado e a própria faculdade soltou uma nota considerada desastrosa pelos alunos, atribuindo o ato ao clima de eleições para a Associação Acadêmica.

O comunicado apontava que “a nossa Faculdade orgulha-se de ser um espaço de liberdade de opinião e de incentivo à participação cívica responsável, convivendo com a autocrítica, o humor e a sátira”.

Hoje, em resposta às pedras, os alunos brasileiros postaram-se nas escadarias e distribuíram flores a todos que ali passassem. Exibiam também cartazes com alusão ao fato e à resposta da Faculdade: “Não foi liberdade de expressão”. “Não é piada. É xenofobia”. “Xenofobia é crime”.

Veja imagens:

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Os Marretas e A Tertvlia
O grupo responsável pelo ato também emitiu um comunicado, batendo na tecla de que são também contra a xenofobia, que respeitam e admiram os alunos brasileiros, mas que a peça visava por meio do humor e da sátira chamar a atenção para o que eles entendem ser uma desigualdade de acesso ao mestrado.

Segundo o comunicado, as vagas para o mestrado abrem antes dos portugueses terminarem o curso e as notas atribuídas aos alunos brasileiros em seus cursos de origem no Brasil são maiores que as notas atribuídas pela faculdade portuguesa. Ou seja, haveria uma competição desleal que favoreceria os alunos brasileiros.

A carta é assinada por um certo Movimento Cívico Os Marretas, que tenta isentar a responsabilidade de um grupo maior, conhecido como A Tertvlia, o qual, segundo os alunos brasileiros, é o verdadeiro responsável pelos atos de xenofobia.

A polêmica surpreendeu as autoridades. Nessa quinta-feira (02/05/2019), o diretor da Faculdade de Direito, Pedro Romano Martinez, enviou uma carta ao embaixador brasileiro em Portugal, Luiz Alberto Figueiredo Machado, negando veementemente que a xenofobia reflita o sentimento da comunidade acadêmica da instituição, seja em relação aos brasileiros ou estudantes de outras nacionalidades.

Faz questão de imputar o episódio a um grupo reduzido de alunos e, segundo ele, “atenta à gravidade da situação, foi aberto um processo de inquérito para apuramento das responsabilidades”.

Assédio de professores
Infelizmente, a discriminação não se restringe aos conflitos entre estudantes. Alunos brasileiros comentam a existência de atitudes de assédio de professores que consideram que os brasileiros “vêm fazer turismo na Europa”, ou “pagam para obter seus diplomas no Brasil”.

Por medo de represália ou sabendo que se trataria de um longo e infrutífero processo administrativo em que prevaleceria o corporativismo, preferem não denunciar.

Fora dos limites do aceitável
Como é período de eleições acadêmicas, os poucos portugueses que se dispuseram a falar também repudiaram veementemente o ato xenófobo, dizendo que o tal grupo satírico ultrapassou os limites do aceitável.

Em uníssono, fazem questão de afirmar a boa convivência entre portugueses, brasileiros e alunos de outras nacionalidades e pedem para que não se forme uma imagem da instituição a partir do episódio.

Parece que tudo caminha para que se ponha uma pedra (da própria caixa?) em cima do assunto. Mas se depender dos alunos brasileiros da pós-graduação, o movimento de repúdio seguirá firme.

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