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Amy Webb no SxSW: “Em vez de buscar na internet, ela vai buscar você”

Amy Webb é uma futurista capaz de ditar as tendências no mundo tecnológico. E ela diz que a inteligência artificial é o assunto do momento

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Fabrício Vitorino/Especial Metrópoles
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1 de 1 Imagem colorida mostra uturista Amy Webb fala no SxSW - Metrópoles - Foto: Fabrício Vitorino/Especial Metrópoles

Austin (EUA) – Um dos grandes destaques do South by Southwest (SxSW), evento de tecnologia e cultura que acontece todos os anos em Austin, Texas, é sempre a futurista Amy Webb. E, incrivelmente, suas palestras conseguem duas coisas: nunca são repetitivas e sempre trazem as tendências que se tornam os assuntos do ano. E, em 2023, o tema não poderia ser outro, senão a inteligência artificial e seu maior representante, o ChatGPT.

Vale lembrar que, a cada ano, o SxSW tem suas “tendências temáticas”. Em 2022, foi NFT, crypto, e nos anos anteriores vimos AR/VR, canabusiness, riscos e benefícios de redes sociais, fake news e a crise da mídia, hacks em democracias. Mas, em nenhum momento, as previsões de Webb foram tão alarmantes quanto agora. Segundo ela, estamos à beira de uma mudança radical e profunda, com impacto direto nos rumos da humanidade.

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Amy Webb diz que a palavra do momento é “foco”

Como trabalha a futurista Amy Webb?

Após subir ao palco e fazer uma “média” com o público brasileiro – recorde no festival de 2023 –, a CEO do Future Today Institute faz questão de dizer que não é capaz de prever o futuro, mas, através de uma ciência altamente refinada, consegue identificar, analisar e conectar as tendências.

“Eu reconheço que futurista é um nome confuso. Então, eu explico: não tem jeito de prever o futuro. Meu trabalho é preparação. Basicamente, o que eu faço é usar dados e evidências para descobrir quais são os sinais, e aí criar modelos. Então, eu uso reconhecimento de padrões para identificar não só o que está influenciando o futuro, mas também o que não vem funcionando. E, por fim, tento apontar, usando todos esses dados, como uma organização funciona, quais são os cenários estratégicos, quais ações devem ser tomadas hoje”, explica.

Mas Webb reforça que, mesmo com todos esses dados, seu trabalho ainda é muito mais sobre estratégia do que sobre previsões.

E, antes de entrar no assunto sério, ainda há tempo para uma brincadeira com a plateia. Afinal, todos que ali estão fazem questão de perguntar, de questionar, de tentar identificar tendências e direcionar seus negócios. “Todos vocês são futuristas. Vocês pensam sobre o futuro, vocês pensam sobre o futuro, vocês perguntam sobre o futuro. Então, vocês são minha tribo”.

Relatório anual de tendências: foco é a chave

Também todos os anos, Amy Webb divulga um relatório onde lista o que de mais importante acontece e pode se tornar uma tendência no futuro, assim como seus impactos. Em 2023, a palavra-chave é “foco”, e, no total, ela detectou um total de 666 pontos que podem (e devem) influenciar o futuro.

“A atenção é sempre única. Pense na busca. A versão 1 da busca era de hiperlinks azulados. A versão dois tinha imagens e vídeos. A versão 3 será algo completamente diferente, como um fluxo de informação contínua, bem próximo da conversação humana”, aponta.

Ao mesmo tempo que parece complexo, a futurista faz questão de conectar o “foco”, a atenção única, com o “dado”. O que você consome, e a forma como o faz, se torna um bem valiosíssimo. A informação sobre a informação (por exemplo, não só a série que você assiste no streaming, mas como, com quem, a que horas, em qual tela) passa a ser um recurso monetizável extremamente valioso.

O problema é: é um recurso escasso. Ainda difícil de ser processado. E disputado, no modelo atual, por empresas diferentes. E aí vem a grande transformação – a primeira provocação de Webb: “E se a internet estiver se transformando em algo diferente? E se nós não estivermos vendo o futuro? Em vez de você buscar na internet, a internet é que vai buscar em você?”.

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A revolução da IA e o ChatGPT

Em linhas gerais, o mais relevante da ferramenta que espantou o mundo é o “T” ao seu final. Ele significa “transformer” (transformador, sem qualquer ligação com os robôs de cybertron, claro). É uma nova forma de gerar informação, agora a partir de uma massa gigantesca de dados. E essa tecnologia é capaz de transformar esse volume de dados e criar sentenças e fazer desenhos, por exemplo

O ChatGPT é uma “LLM” (large language model, ou grande modelo de linguagem). É capaz de reconhecer, sumarizar, traduzir e gerar não só texto, mas outras formas de conteúdo, oriundos de bancos de dados massivos.

Basicamente, o modelo aprende dessa enorme livraria de textos, chamada de corpus, e prevê quais palavras ou sequências podem vir na sequência, com modelos de probabilidade. Sua arquitetura é similar aos neurônios, como o cérebro humano. Logo, ele é treinado para interagir como um humano.

O problema, hoje, é o gargalo. Segundo Amy, muito do que é feito em AI não é trazido ao público, não é transparente. Uma busca no ChatGPT, por exemplo, custa 7 vezes mais do que uma busca no Google. Porém, ainda segundo a futurista, em 2030, teremos sistemas de IA que serão mil vezes mais poderosos que os atuais.

“Há um gargalo na IA hoje que é dado, e esse gargalo está nos impedindo de construir sistemas de IA muito mais poderosos. Os componentes irão se desenvolver e os custos irão cair. Por isso há uma demanda gigantesca para que se treine dados. E essa é motivação para que se adquira o máximo possível deles. Os desenvolvedores estão olhando para todos os lados, e precisam que tudo esteja disponível como dado possível de ser lido”, explica.

Mas de onde virão os dados?

Depois de entender que “foco” é a palavra-chave, que a atenção é única, e que a informação sobre a informação (o metadado) passa a ter um valor gigante, compreendemos que ainda falta informação para alimentar os grandes modelos de inteligência artificial que estamos construindo. Webb dá um excelente exemplo: a forma como vivemos confinados durante a pandemia.

“Nós precisamos que nossos filhos fizessem aulas on-line. E passamos a consentir tudo on-line, fazer a cessão de informações sem nem perceber do que se tratava. Mas não era só o que as crianças faziam nas telas de computador que interessava. Seu comportamento, o que faziam, quais palavras-chave usavam em buscas, os dados de suas telas ou parte dos dados da escola”, lembra Webb.

A futurista argumenta que o que acontecia fora da escola on-line também contava. “Qual música estava tocando no ambiente, se você estava cozinhando, o que estava comendo, quem comia com você, se seu gato cruzava a câmera… Tudo isso é dado relevante. E se seu filho jogava Minecraft depois da aula, é possível que os sistemas de IA vigiassem ele, pois essas companhias criavam bots que aprenderam a jogar”, conta.

Nem o cheiro escapa da briga pelos dados

E se você acha que soa exagerado, a futurista lembra que existem projetos do Google, por exemplo, que rastreiam moléculas de odor. O objetivo inicial era achar um cheiro que espantasse, definitivamente, os mosquitos.

“Os sistemas podem, em vez de um som incômodo, liberar um cheiro insuportável de queijo com suor para acordar quem tem dificuldade para sair da cama. Agora, imagine, se cada um de nós tiver um cheiro pessoal como se fosse uma impressão digital, os sistemas podem emular esses odores”, exemplifica.

E, diante dessas perspectivas de futuro, Amy Webb destrincha duas possibilidades para 2033: uma catastrófica, na qual as empresas disputam entre si por dados, sem se preocupar com o usuário, se a entrega será eficiente, comprometendo a privacidade, alterando toda a cadeia de produção e consumo, sem grandes e significativas melhorias para a humanidade.

A outra, otimista, prevê uma colaboração entre as empresas, no sentido de reduzir custos, acelerar desenvolvimento e melhorar, de fato, a vida das pessoas.

“Num cenário, você pede para ver um episódio de Friends e recebe o produto, não importando o serviço de streaming. No outro, você recebe um episódio da formatura, pois você havia pesquisado sobre formaturas – mas esse não era o que você queria”, aponta.

Para Webb, estamos exatamente neste ponto de virada. A inteligência artificial está perto de causar uma revolução enorme – começando pelo foco, pela atenção, gerando uma corrida pelos dados e metadados, impulsionando a evolução da tecnologia e a revisão de custos, assim como a colaboração (ou competição extrema) entre empresas.

E seu relatório de tendências mostra algumas chaves que podem ajudar pessoas e empresas a terem uma consciência maior do que pode estar adiante.

“É o fim da internet como nós conhecemos. Tudo é informação e os sistemas irão procurar por nós. É importante perguntar agora: quem serão os vencedores e os perdedores do futuro? O que estaremos entregando?”, pergunta.

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