A primeira rede social, chamada Classmates, surgiu em 1995, na América do Norte. A ideia era facilitar a comunicação entre estudantes. Nesses 24 anos que se passaram de lá para cá, vieram Mirc, MSN, ICQ, Orkut, Tumblr, VK, My Space, Netlog, Friendster, Cyworld, Amino, Badoo, Facebook, Instagram e Twitter, entre tantas outras que cresceram ou desapareceram. Cabe aqui menção honrosa ao WhatsApp, difusor de qualquer tipo de informação em texto, áudio ou vídeo.

No mundo contemporâneo, no qual o Big Brother deixou de ser personagem da ficção do livro 1984, de George Orwell, tudo é registrado em alta definição por smartphones e as informações cruzam oceanos na velocidade de um clique. Durval Barbosa pode ser considerado um precursor, afinal, enquanto a era do fim da privacidade ainda engatinhava, o delator da Caixa de Pandora já se valia da tecnologia para “monetizar” – termo usado na web que consiste em transformar algo em money (dinheiro, em inglês).

Durval começou as filmagens clandestinas em 2003. Na época, já havia trocado o cargo de delegado da Polícia Civil do Distrito Federal pela política: era presidente da Companhia de Planejamento (Codeplan) no governo Joaquim Roriz e controlava orçamento anual de R$ 500 milhões. O modus operandi era o mesmo: ele gravava conversas com empresários e políticos. Posteriormente, usava esse material para chantageá-los. Assim, foi aumentando o próprio poder, forjando alianças e acumulando inimigos.

Em 2006, época da campanha eleitoral que levou José Roberto Arruda e Paulo Octávio ao Palácio do Buriti, Durval intensificou a frequência das gravações. Nos três anos seguintes, ampliou sua videoteca particular, flagrando figurões de Brasília recebendo maços de dinheiro ilícito. Ao assumir o cargo de secretário de Relações Institucionais da gestão Arruda, Durval Barbosa tinha, à base de chantagem, grande influência sobre empresários e deputados.

O envolvimento de Durval em suspeitas de desvio de recursos públicos já vinha sendo monitorado por investigadores do Ministério Público e da Polícia Federal. Quando resolveu delatar, ele já era alvo de uma série de diligências de corrupção e decidiu apelar à “colaboração premiada” em troca da redução de eventuais penas. Quem assinou o termo preliminar da delação foi a então subprocuradora-geral da República Raquel Dodge.

Quando o acervo de Durval começou a ser divulgado, ganhou o noticiário nacional. Ao todo, havia 30 filmes. Embora o delator afirme que todo o material foi entregue à Justiça, muitas pessoas acreditam que apenas parte das fitas tenha sido revelada. O restante seria, supostamente, usado para manter a influência sobre amigos e, especialmente, adversários.

Na primeira gravação que veio a público, Arruda aparece recebendo R$ 50 mil, em notas de R$ 100, das mãos de Durval. Segundo investigação policial, os maços de dinheiro partiram da empresária Cristina Boner, do grupo de informática TBA. Ela pagava a propina para manter os contratos com o GDF que supostamente haviam sido direcionados por José Roberto Arruda para a empresa ainda na gestão de Roriz. No vídeo, sentado em um sofá, Arruda embolsa um bolo de notas. “Você podia me dar uma cesta, um negócio aqui…”, pede o político.

Ameaças com revólver

Meias, bolsa e a Oração da Propina

Além do vídeo em que Arruda aparece recebendo dinheiro, outras gravações foram igualmente icônicas. Em uma das imagens, está Leonardo Prudente. O então presidente da Câmara Legislativa recebe cédulas e as guarda nos bolsos do paletó e até mesmo nas meias. Leonardo é pai de Rafael Prudente, deputado distrital que atualmente preside a CLDF.

Em outra gravação, Leonardo Prudente está com o então colega de parlamento Júnior Brunelli e Durval Barbosa. O trio reza em agradecimento, nas imagens que ficaram conhecidas como “Oração da Propina”.

“Pai, eu quero te agradecer por estarmos aqui. Sabemos que nós somos falhos, somos imperfeitos. Somos gratos pela vida do Durval, por ter sido instrumento de bênção para nossas vidas, para essa cidade”, diz Brunelli, que era o corregedor da CLDF.

Em mais um flagrante, a líder do governo na Câmara Legislativa à época, Eurides Brito, também recebe dinheiro de Durval e coloca a propina na bolsa. Ela foi condenada por corrupção passiva e improbidade administrativa, acusada de vender apoio político em troca de “mesada” distribuída por Durval Barbosa. O flagrante feito em vídeo seria referente a um desses pagamentos.

Outra gravação mostra o delator entregando recursos para Jaqueline Roriz, que na ocasião era deputada federal. A então parlamentar estava na companhia do marido, Manoel Neto, que também é réu na Caixa de Pandora.

Esse vídeo, contudo, só foi divulgado em 2011, portanto cerca de dois anos após o escândalo vir à tona, o que levantou questionamentos se Durval Barbosa tinha entregado todas as filmagens, conforme previsto no acordo de delação premiada.

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