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PT quer reescrever a história e fingir que não era corrupto

Estamos vendo, bem agora, os primeiros movimentos de um esforço concentrado para tentar fazer com que as pessoas esqueçam o que passou

atualizado

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Kacio Pacheco
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1 de 1 Guzzo-ilustração-coluna - Foto: Kacio Pacheco

Tinha mesmo de acabar acontecendo um dia, e já começou a acontecer. Em algum momento, mais cedo ou mais tarde, começam a reescrever a história – e aí aparecem as “narrativas” de que a gente ouve tanto falar, e que são simplesmente a versão que mais interessa ao sujeito que a conta e faz circular.

O que é escuro vira claro, o que é pecado vira virtude e, no fundo, o que menos importa é o que aconteceu de fato. Só interessa o que está na “narrativa” que sobrevive.

Estamos vendo, bem agora, os primeiros movimentos de um esforço concentrado para tentar fazer com que as pessoas esqueçam um pouco a corrupção desvairada das empreiteiras de obras, dos empresários piratas e dos magnatas ladrões durante o período LulaDilma.

Esquecer de todo não vai dar, é claro, mas que tal pensar um pouco no outro lado da moeda? Sim, há um outro lado em tudo nessa vida, não é mesmo? No caso, é o lado das empresas que foram envolvidas nesses infortúnios e precisam tanto da nossa confiança, boa vontade e apoio para continuar operando nas suas áreas – e com isso ajudar a economia nacional, gerar impostos, criar empregos e realizar tantas outras coisas de grande mérito.

O mais importante, segundo essa “narrativa”, não é tanto a corrupção. É o vigor das empresas nacionais, que precisam ser “preservadas” em nome do interesse da sociedade brasileira. Um país sério, afinal das contas, não deixa suas grandes empresas serem destruídas pelo moralismo, excesso de “ordem”, como diz o ministro Antônio Dias Toffoli e detalhes como a aplicação da lei.

Temos de combater a corrução, é claro, mas tudo tem limites. “Não podemos prejudicar o país”, é o que pretendem dizer cada vez mais – ao mesmo tempo em que tentam fazer o público pagante pensar cada vez menos na roubalheira do passado recente.

Empresas como a Andrade Gutierrez e a sua Oi/Telemar, que entregaram R$ 132 bilhões a um dos filhos do ex-presidente Lula, e receberam dele, de presente, um daqueles decretos que qualquer empresa pede aos céus, já andam por aí com cara de paisagem, dizendo que tudo não passou de pagamento por “serviços prestados” e já foi devidamente esclarecido.

A Oi, que está em recuperação judicial, é uma “empresa importante” para as comunicações nacionais; você ouvirá, com certeza, que um negócio desse porte e desse “alcance estratégico” para o Brasil não pode ir sendo tratado “a nível de moralismo”, etc.

A Odebrecht, a Rainha-Mãe de todas as corrupções, vai vendendo, como quem não quer nada, a teoria de que seu grande problema, no fundo, são “disputas internas”. Foram elas que a levaram à horripilante recuperação judicial que a empresa encara hoje, com dívidas de quase R$ 100 milhões a pagar.

O ex-presidente e ator principal no filme-catástrofe exibido pela empresa nos anos Lula-Dilma, Marcelo Odebrecht, acha que os culpados pela desgraça são o seu próprio pai, o cunhado, o atual presidente da empresa e sabe Deus quanta gente mais. Um mau acordo no exterior, talvez de US$ 5 bilhões de dólares, teria sido o responsável real pela quebra da Odebrecht – e não a corrupção sem limites durante treze anos e meio, flagrada e punida pela Lava Jato. Corrupção? Não se fala mais nisso. E a confissão-delação de crimes feita pelo próprio Marcelo, em pessoa? Nem um pio. E os dois anos que ficou na cadeia? Também não.

É isso, a “narrativa”. Se tudo der certo, vão passar adiante a lenda de que as empreiteiras de obras, Lula, Lulinha e o resto do batalhão não fizeram nada de realmente errado. No fundo, no fundo, estaria tudo bem se não fosse esse Sérgio Moro. Danado, esse rapaz. Ainda bem que apareceram a Intercept, a “Resistência” e a nova “narrativa”. Não fosse isso, você ainda iria acabar ficando com a impressão, imagine só, de que houve corrupção no Brasil uns anos atrás.

* Este texto representa as opiniões e ideias do autor.

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