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Saúde mental dos atletas entra no foco dos Jogos Olímpicos

Ansiedade e depressão estão entre os principais problemas relatados pelos competidores que participam da Olimpíada

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Wally Skalij /Los Angeles Times via Getty Images
Simone Biles
1 de 1 Simone Biles - Foto: Wally Skalij /Los Angeles Times via Getty Images

Depois da ginasta norte-americana Simone Biles desistir de disputar várias finais nos Jogos Olímpicos para cuidar da sua saúde mental, outros atletas também jogaram luz sobre a importância do tema durante o evento no Japão. O assunto está na pauta do Comitê Olímpico Internacional (COI) e colocou dirigentes em alerta.

O próprio COI reconhece que é preciso dar ênfase ao bem-estar dos atletas, cada vez mais cobrados por resultados. “Mais poderia ser feito”, admite o porta-voz Mark Adams, acrescentando que esse é um assunto que o órgão vem trabalhando há algum tempo Psicólogos e psiquiatras, por exemplo, estão de plantão na Vila Olímpica para dar suporte aos atletas no período dos Jogos.

Ansiedade e depressão estão entre os principais problemas relatados pelos competidores que participam da Olimpíada. Ao vir a público e falar abertamente sobre o assunto, o que os atletas pretendem é deixar claro para os torcedores que eles sofrem com as mesmas questões que qualquer outra pessoa, apesar da imagem de “super-heróis” muitas vezes construída a partir dos resultados alcançados por eles nas provas.

Um caso que chamou bastante atenção foi o da sueca Jenny Rissveds, mais jovem campeã olímpica de mountain bike cross-country nos Jogos do Rio, aos 22 anos. Um ano depois, a morte de dois familiares desencadeou um quadro de depressão com o qual ela lida até hoje.

Em Tóquio, terminou na 14.ª posição. E comemorou. “Estou tão feliz que acabou”, disse. “Não preciso mais carregar esse título de campeã olímpica. Eu tenho um nome e espero poder ser apenas a Jenny agora, e não mais a campeã olímpica, porque isso é um fardo. Espero ficar sozinho agora.”

Situação semelhante viveu o ginasta americano Sam Mikulak, que deixou Tóquio sem nenhuma medalha, mas disse estar com uma sensação de paz que ele não teve nos Jogos de Londres-2012 ou no Rio-2016, quando também não subiu ao pódio. “Por muito tempo, fiquei ressentido com minhas experiências olímpicas anteriores porque ditei minha felicidade com base na possibilidade de sair ou não com uma medalha”, disse Mikulak. “O fato de não ter alcançado isso fazia eu me odiar.”

Já a boxeadora irlandesa Kellie Ann Harrington revelou um fato curioso que lhe ajuda a cuidar da saúde mental em meio a tantos treinos e competições. Ela trabalha meio período como faxineira em um hospital psiquiátrico em Dublin. “Eu sou mais do que apenas uma boxeadora. Eu sou Kellie Anne Harrington. Sou uma pessoa viva”, justificou. “Você precisa ter algo fora do boxe. Você precisa ter outra vida. A vida é mais do que esporte, então você precisa de algo para se apoiar.”

A norte-americana Raven Saunders, prata no arremesso do peso, protestou ao subir no pódio cruzando os braços em cima da cabeça Além de chamar atenção para a causa LBGT, ela revelou a sua luta contra a depressão após ficar em quinto lugar na Olimpíada do Rio.

“É preciso deixar de estigmatizar toda a negatividade em relação à saúde mental. No passado, isso sempre foi algo que as pessoas deixavam de lado, mas é algo que pode levar ao suicídio.” Ela mesmo chegou a cogitar se matar em 2018.

Para a nadadora americana Allison Schmitt, prata no revezamento 4x200m e bronze no 4x100m livre, a Olimpíada poderá marcar um ponto de virada no debate sobre a saúde mental dos atletas. “Os Jogos Olímpicos não apenas abriram uma conversa sobre saúde mental, mas a partir de agora há um movimento na direção certa do apoio à saúde mental”, disse.

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