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Crítica: O Animal Cordial junta tensões sociais em madrugada sangrenta

Primeiro longa da diretora Gabriela Amaral Almeida acompanha noite alucinante em um restaurante de classe média paulistano

atualizado

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animal cordial murilo benicio luciana paes
1 de 1 animal cordial murilo benicio luciana paes - Foto: Divulgação

O fim de expediente em um restaurante de classe média paulistano vira prato cheio para todo tipo de tensão social no terror e suspense O Animal Cordial, primeiro longa da diretora baiana radicada em São Paulo Gabriela Amaral Almeida.

Uma atmosfera pesada toma conta do estabelecimento antes mesmo de dois bandidos abrirem as portas e anunciarem um assalto. Inácio (Murilo Benício), proprietário da casa, exige que a chef Djair (Irandhir Santos) e demais profissionais de cozinha fiquem até tarde para realizar pedidos dos últimos clientes do dia.

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Enquanto Amadeu (Ernani Moraes) se comporta como apenas um solitário beberrão noturno, o casal Bruno (Jiddu Pinheiro) e Verônica (Camila Morgado) revela a empáfia vazia dos piores representantes da elite nacional. Humilham Sara (Luciana Paes), a gerente, e tentam ensinar uma ou duas coisas sobre vinhos a Inácio.

Para completar, dois funcionários levando lixo para fora dão com a porta dos fundos fechada e resolvem passar pelo salão. São demitidos na hora. Quando chegam os ladrões armados Magno (Humberto Carrão) e Nuno (Ariclenes Barroso), as sugestões de agressividade finalmente explodem.

Autora de curtas como Estátua! (2014) e A Mão que Afaga (2012), trabalhos que também se filiam ao cinema de gênero, Gabriela Amaral Almeida transforma o restaurante em uma versão miniaturizada de um Brasil convulsivo e nervoso. As hostilidades vêm e vão. Boa parte delas recai sobre Djair, a chef trans nordestina constantemente ofendida por Inácio – é a primeira pessoa a ser acusada de arquitetar o assalto.

O patrão oprime os empregados, que tentam responder de um jeito ou de outro – a catarse só vem na cena final. Os clientes, por sua vez, tratam qualquer um do restaurante, incluindo o dono, como seus criados. Os vilões ganham lugar na pirâmide, mas na base dela – após agredir sexualmente Verônica, Nuno, ferido, sangra e agoniza até morrer no chão; ninguém sequer esboça socorro.

Inácio, no topo da cadeia, empunha uma pistola e adensa as repercussões do assalto. Mantém todos, menos Sara, em cativeiro durante a madrugada. É quando o filme assume tons de pesadelo, vermelhidão de sequências violentas e as alegorias sociais começam a simplificar a trama.

Apesar de bem filmado, O Animal Cordial aos poucos verte seus personagens em meros subprodutos de uma contemporaneidade intolerante e cínica. Parecem ter destino selado pelo mal-estar que toma conta do Brasil lá fora e se concentra no restaurante. É como se certas situações e diálogos fossem criados a fórceps para piorar o que já existe de sórdido ali dentro. “Vamos botar eles no cardápio”, propõe Inácio a Sara, lá pelas tantas.

O clima de delírio também parece nunca decolar, talvez porque apegado demais ao lugar comum de pessoas levadas a atos extremos em situações-limite. No fim das contas, um filme esforçado, mas irregular na proposta de combinar exercício de gênero com a tomada de pulso de uma nação deveras doente.

Avaliação: Regular

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