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Prisão de maníaco: famílias de desaparecidas revivem dor e esperança

Entre 2017 e o ano passado, 2.310 mulheres sumiram no Distrito Federal. Algumas nunca foram encontradas, como Lays, Gisvania e Fabiana

atualizado

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Vinicius Santa Rosa/Metrópoles
Irmã de Genir
1 de 1 Irmã de Genir - Foto: Vinicius Santa Rosa/Metrópoles

O assassinato brutal de Letícia Curado de Sousa, 26 anos, trouxe angústia para a população, mas, por um lado, reacendeu a esperança de famílias de pessoas desaparecidas no DF. Funcionária do Ministério da Educação, a jovem foi vista pela última vez com vida na sexta-feira (23/08/2019), em uma parada de ônibus próximo de sua casa, no Arapoanga, em Planaltina. Quatro dias depois, foi achada morta. Assassino confesso da colaboradora do MEC, o cozinheiro Marinésio dos Santos Olinto, 41, está preso.

A angústia vivida pelos parentes de Letícia durante os dias de seu sumiço encontra ressonância entre familiares de outras 7.620 pessoas desaparecidas no DF nos últimos dois anos. De acordo com levantamento da Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF), foram 2.310 registros de mulheres entre 2017 e 2018. O maior percentual é de adolescentes, com idades entre 12 e 17 anos: 1.334, ou seja, 58% das ocorrências.

Do total computado em no ano passado, 303 continuam desaparecidas. Entre as histórias ainda sem desfecho, está a de Gisvania Pereira dos Santos Silva, 34, desaparecida desde 6 de outubro de 2018. De acordo com as investigações da Polícia Civil do Distrito Federal, o último registro que se tem da mulher com vida foi feito por câmeras de segurança de um posto de gasolina em Sobradinho – região onde morava com os pais e a filha de 15 anos.

No vídeo (veja abaixo), Gisvania aparece acompanhada de um homem, que chegou a ser identificado na época, mas teve participação no desaparecimento descartada. A gravação mostra que, por volta das 4h40, a mulher deixa o local sozinha para nunca mais ser vista.

Ao Metrópoles, Gislene Pereira dos Santos, 36, irmã de Gisvania, diz que a família “não vive desde o sumiço” da mulher. “Tem sido um verdadeiro filme de terror. No mês que vem, completam 11 meses do desaparecimento dela e tem sido tudo muito difícil: comemorar o aniversário dela sem ela, o da minha mãe a mesma coisa. São 11 meses sem vivermos direito”, desabafou.

Segundo Gislene, quem mais sofre é a filha de Gisvania, que é adolescente. “Ela pergunta pela mãe direto e, agora, com o aniversário dela chegando, fica tudo mais complicado. Ela chora bastante.”

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Com poucas pistas sobre o paradeiro de Gisvania, a investigação do desaparecimento ganhou novos capítulos com a prisão de Marinésio, uma vez que os investigadores acreditam que Genir Pereira de Sousa, 47, e Letícia não sejam as únicas vítimas do cozinheiro. O maníaco chegou a ser interrogado pela DRS sobre o sumiço de Gisvania, mas negou qualquer envolvimento.

O chefe da 31ª Delegacia de Polícia (Planaltina), Fabrício Augusto Machado, admite que possa haver relação entre os casos: “Ela também estava em um ponto de ônibus, em Nova Colina. A informação é de que uma pessoa chegou em um veículo e teria feito a lotação. Tudo indica que tenha sido o Marinésio. Existem várias evidências que levam a crer que ele possa ser o autor”, reforçou.

“Angústia interminável”

A data está guardada na memória dos familiares: sábado, 7 de julho de 2018. Nesse dia, Lays Dias Gomes, 25, saiu de casa, na Quadra 409 de Samambaia Norte, por volta das 9h30, em direção à parada de ônibus. A família não sabe para onde ela iria e muito menos onde ela está agora.

Apesar de ter desaparecido no sábado, o sumiço de Lays foi notado no domingo, quando sua prima Léia Vieira a procurou para lhe entregar sua filha, na época com 2 anos e 9 meses. “Sábado conversamos o dia todo, até que as mensagens que enviava pararam de chegar no celular dela. Em um primeiro momento, não desconfiei, achei que ele poderia ter descarregado. Quando voltei da chácara no domingo para ir na casa dela, Lays não estava”, contou.

Preocupada, a prima procurou amigas próximas à jovem em busca de seu paradeiro, sem sucesso. Registrou boletim de ocorrência na 26ª Delegacia de Polícia (Samambaia), no dia 9 de julho do ano passado. “De lá para cá, seguimos sem notícias, vivendo uma angústia interminável. A polícia diz ter algumas linhas de investigação, suspeitos já foram presos e liberados, mas não há nada certo. Certeza mesmo é de que a angústia segue”, acrescentou.

A única novidade que a família recebeu sobre Lays foi a descoberta dos parentes de que a jovem trabalhava como garota de programa em movimentado ponto de prostituição de Taguatinga. Quando tomou conhecimento do fato, Léia chegou a ir até o local conversar com colegas da desaparecida, mas nenhuma informação que a levasse à prima.

Do dia do desaparecimento em diante, Léia é quem cuida da filha de Lays. “Hoje eu tenho a guarda dela. É difícil para mim e para meu esposo, pois ela sente falta da mãe. Tem hora que a situação aperta mais e tenho que mostrar fotos da mãe para ela, vídeos de uma viagem que fizeram juntas, tudo para não fazê-la esquecer da Lays. Aos poucos, a dor dela vai diminuindo. Hoje, já me chama de mãe”, diz a prima.

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Esperança

Segundo ela, com as denúncias apresentadas contra Marinésio vindo à tona, o sentimento de angústia, agora, é substituído por uma esperança de que Lays seja, enfim, encontrada. Isso ocorre porque as garotas de programa com quem a desaparecida dividia ponto reconheceram o cozinheiro com sendo um frequentador assíduo do local.

“Agora, o desaparecimento dela ganha mais uma linha de investigação. Esse caso do Marinésio abriu um novo leque de possibilidades, pois as meninas reconheceram ele e me informaram que ele andava por lá. O caso ainda está aberto”, finalizou.

Sumida desde 2013

A família de Fabiana Santana Alves, de 27, também voltou a ter esperanças de localizá-la. Com a prisão recente de Marinésio, a irmã esteve na 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá), na sexta-feira (30/08/2019), por suspeitar que ele pode ser responsável pelo caso. A jovem trabalhava como garçonete na Estrutural e desapareceu em 2013.

“Ela estava indo ao salão, arrumar o cabelo, porque ia viajar à noite. Disse que ia pegar um ônibus para a Rodoviária do Plano Piloto e, de lá, pegaria outro para o Paranoá. Mas do jeito que era inocente, pode ter entrado em uma lotação”, afirmou a mulher, que pediu para não ser identificada. O caso está em aberto na Divisão de Repressão a Sequestro (DRS).

Monitoramento

Responsável por monitorar os casos de desaparecidos do DF, o delegado-chefe da DRS, Leandro Ritt, diz que a Polícia Civil tem evoluído no trabalho de localização de pessoas na capital do país. Explica, porém, que a investigação não é exclusiva da unidade policial que comanda. Cada delegacia circunscricional investiga os desaparecimentos da sua área. “Nós atuamos em casos mais complexos, quando a unidade pede apoio e em casos que demandam um efetivo maior”, explica.

De acordo com o delegado, antes da prisão de Marinésio, a DRS já suspeitava da atuação de um assassino em série na região Norte do DF. “Aqui [na DRS] nós realizamos todo um trabalho de inteligência. O perfil de vítimas é monitorado e, no decorrer do tempo, já estávamos suspeitando da presença de um serial killer. Quando a Genir sumiu, por exemplo, comparamos os perfis e a maneira como se deu o desaparecimento, e, na hora, soubemos que alguém estava matando mulheres. Poucos dias depois ,veio o caso da Letícia e chegou-se a um suspeito”, ressaltou.

Segundo o policial, a demora para chegar a Marinésio, suspeito de cometer crimes há pelo menos sete anos, se deve à falta de registro de boletim de ocorrência entre aquelas vítimas que sobreviveram aos ataques do maníaco. “Agora estão aparecendo vários casos, mas que não tinham ocorrência. Se essas pessoas que escaparam tivessem registrado antes ,possivelmente chegaríamos à autoria em menor período de tempo”, destacou.

Em depoimento prestado à PCDF no último domingo (25/08/2019), logo após ser preso, o maníaco revelou que tinha o hábito de pegar o carro nos dias de folga e circular pelas regiões de Sobradinho, Planaltina e Paranoá atrás de mulheres. Aos policiais, ele contou que costumava abordar as que estavam sozinhas em paradas de ônibus, onde oferecia carona para rodoviárias e, no trajeto, as assediava. Pelas contas dele, foram 10 mulheres abusadas. Ele, entretanto, negou outras mortes e estupros.

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Confira a lista de casos em que Marinésio é suspeito:

1) Letícia de Sousa Curado – Desaparecida após sair para o trabalho, em 23 de agosto de 2019, e encontrada morta três dias depois;

2) Genir Pereira de Sousa – Desaparecida em 2 de junho deste ano, após sair do trabalho e encontrada morta 10 dias depois;

3) Gisvânia Pereira dos Santos Silva – Desaparecida em outubro de 2018, em Sobradinho;

4) Irmãs atacadas – As vítimas contaram ter fugido do ataque de Marinésio um dia depois de ele ter matado Letícia, em Planaltina;

5) Adolescente de 17 anos – Jovem diz ter sido estuprada em área de pinheiros, abandonada e chamada de “lixo”;

6) Moradora do Paranoá, de 42 anos – A mulher diz ter sido estuprada por Marinésio em 2018;

7) Lays Dias Gomes – Desapareceu no dia 7 de julho de 2018, após sair de casa rumo a uma parada de ônibus, em Samambaia. Naquele dia, ela não chegou a dizer à família para onde iria;

8) Vítima desaparecida no Paranoá – Caso de 2014 foi reaberto após semelhanças com modo de agir de Marinésio. A polícia não divulgou o nome;

9) Vítima desaparecida em Sobradinho – Essa ocorrência, entre 2014 e 2015, foi reaberta agora após semelhanças com o modus operandi de Marinésio. O nome da vítimas não foi divulgado pela polícia;

10) Babá moradora da Fercal – A vítima não teve o nome revelado, mas está desaparecida há um ano e meio após ter se dirigido a uma parada de ônibus;

11) Mulher de 23 anos – Em agosto deste ano, conseguiu escapar do ataque após ameaçar se jogar do carro em movimento. Foi abordada na Rodoviária de Planaltina;

12) Marília de Lurdes Ferreira – Desaparecida em agosto de 2012, ela foi achada morta um mês depois, na linha férrea dos arredores do Setor de Indústria e Abastecimento (SIA);

13) Caroline Macedo Santos – A adolescente de 15 anos foi encontrada morta no Lago Paranoá em maio do ano passado. A jovem era amiga da filha de Marinésio dos Santos Olinto e morava a 800 metros da casa do cozinheiro, no Vale do Amanhecer.

 

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