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Após morte de Joaquim Roriz, filhas brigam pela herança na Justiça

Herdeiras do ex-governador não se falam e apelaram ao Judiciário em busca da partilha da Fazenda Palma, localizada em Luziânia (GO)

atualizado

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Daniel Ferreira/Metrópoles
Título de Cidadão Honorário de Brasília para o Joaquim Roriz – Brasília – DF 04/08/2015
1 de 1 Título de Cidadão Honorário de Brasília para o Joaquim Roriz – Brasília – DF 04/08/2015 - Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles

Passado o luto pela morte de Joaquim Roriz e com o fim do prestígio político do clã, as três principais herdeiras deixaram para trás a imagem de família unida e protagonizam um verdadeiro barraco sobre como será dividido o espólio do ex-governador, calculado em aproximadamente R$ 300 milhões.

Pela falta de liquidez dos bens – 95% estão investidos na Agropecuária Palma –, as irmãs Weslliane Maria Roriz Neuls, 58 anos, Jaqueline Maria Roriz, 56, e Liliane Maria Roriz, 53, entraram em verdadeiro pé de guerra familiar em busca da partilha dos bens, o que envolve desentendimentos, brigas e até processos judiciais.

Além da fazenda, o espólio do ex-governador envolve lotes no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), lojas no Plano Piloto, a conhecida mansão da família no Park Way e terrenos na área do Confinamento, em Luziânia (GO).

As diferenças entre as filhas do ex-governador se escancararam a partir do fim de setembro de 2018, quando Joaquim Roriz perdeu a luta contra várias doenças, entre as quais um problema renal crônico e a diabetes. Fundador da Agropecuária Palma, fabricante e distribuidora de leite e derivados, Roriz construiu, além da vida pública, um patrimônio invejado pelos fazendeiros vizinhos de suas terras, em Luziânia.

Com 14.500 hectares (maior que o próprio município onde está localizada), a Palma chegou ao seu ápice durante as gestões de Roriz à frente do Governo do Distrito Federal (GDF). Contudo, após deixar a vida pública e com vários problemas de saúde, o ex-governador se afastou da administração direta dos negócios e nomeou a primogênita, Weslliane, como gestora da agropecuária. O patriarca sempre a considerou como a mais moderada das três.

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Avessa aos holofotes e à política, Weslliane passou a administrar os negócios enquanto Roriz se dedicava a cuidar de dois eixos: a saúde e a manutenção da carreira pública. Nessa época, Jaqueline se candidatava a deputada distrital, e Liliane Roriz, a caçula, dedicava o tempo a um restaurante luxuoso, o I Maestri, mantido com seu marido à época, o empresário Rodrigo Sanchez. Eles se separaram e o estabelecimento fechou.

Administração da empresa
Das três, Weslliane sempre teve mais afinidade com a vida no campo. Ao lado do marido, Júlio Neuls, e do filho, Juliano Roriz Neuls, Nane – como é chamada entre os familiares – dedicou os últimos anos à condução da Agropecuária Palma, incluindo mudanças severas e modernização de gestão, contrariando o estilo do pai.

Por ter um perfil mais apaziguador e manter a confiança das duas irmãs e da mãe – Weslian –, a primogênita não sofreu resistências com a decisão de Roriz em apontá-la como gestora de seu império, mas essa harmonia pereceu junto com a saúde do patriarca.

Ainda em vida, o ex-governador dividiu as terras de Luziânia, de forma igual, para as três herdeiras. Cada uma, portanto, recebeu pouco mais de 33% do total das terras, que incluem a indústria de laticínios – hoje a principal fonte de renda do clã. 

Depois da morte de Roriz, em setembro de 2018, aos 82 anos, as três herdeiras, no entanto, passaram a travar uma batalha pelo espólio familiar. Duas delas na Justiça: Weslliane e Liliane.

Alijadas da política e sem ocupações profissionais, Liliane e Jaqueline passaram a direcionar o tempo para participar dos negócios da família. Em um dos momentos mais críticos, Liliane quis uma auditoria tributária nas contas da empresa, comandadas por Júlio Neuls, cunhado dela. A desconfiança gerou o primeiro grande desentendimento entre Weslliane e Liliane, até então próximas.

Na Justiça
As diferenças entre as duas ultrapassaram os limites familiares e chegaram ao Judiciário. No Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO), há pelo menos três processos de autoria da caçula contra a primogênita. Em um deles, com audiência de conciliação marcada para 4 de junho de 2019, Liliane afirma ser detentora de 50% das cotas da Palma e acusa a irmã e o cunhado de fraudarem o faturamento da empresa.

“Diz que a sócia-administradora vem praticando condutas estranhas e contrárias à boa gestão dos negócios, inclusive simulando aparente bom negócio para a sociedade, omitindo dados importantes, retroagindo datas e assinaturas em documentos, com o intuito de enriquecerem-se às custas da empresa e lesar os interesses da requerente e da sociedade empresária”, consta no processo.

Veja:

Reprodução / TJGO
Processo de Liliane Roriz contra a irmã Weslliane: briga pela herança

 

Mais uma ação foi aberta entre as irmãs. Após trocar cascalhos das terras da Palma por asfalto até a porta de sua parte na fazenda, fato revelado pelo Metrópoles, em novembro de 2017, Liliane foi alvo de intimação judicial por parte da irmã para dar explicações sobre a razão de escoar as pedras sem a autorização do grupo empresarial.

Como gestora, Weslliane precisa autorizar quaisquer tipos de produção das terras. Agora, questiona o fato de não ter sido consultada. A ação corre no TJGO.

Processo de Liliane Roriz contra a irmã Weslliane: briga pela herança by Metropoles on Scribd

 

Do cascalho ao eucalipto
Em outra investida judicial, a primogênita questiona a caçula sobre a extração irregular de eucaliptos das terras do clã. A informação chegou aos ouvidos de Weslliane, que é contrária ao tipo de atividade. Brigadas, as duas, hoje, só se falam por meio de advogados. Em meio ao fogo cruzado, Jaqueline ainda mantém contato com as duas irmãs e a mãe.

Das três, dona Weslian sempre teve mais afinidade com a filha primogênita. Após a morte de Roriz, a ex-primeira-dama passou a depender quase que exclusivamente dos rendimentos gerados pela produção de leite e derivados da Palma.

O faturamento mensal da fazenda, em média, aproxima-se de R$ 1 milhão, sem descontar os gastos necessários para a produção. No final das contas, sobra para as três irmãs um valor bem mais modesto do que aquele ao qual estavam acostumadas a receber quando o pai era vivo.

Com menos “cascalho” no bolso, as filhas recorrem a alternativas de renda, como o aluguel de pasto para produtores vizinhos. A prática é comum na região e costuma render boas cifras para quem não cria animais e tem terras não produtivas.

A briga pelo espólio de Joaquim Roriz é mais um capítulo da conturbada relação da família do ex-governador. O político, em vida, demonstrava preocupação com as constantes brigas e diferenças entre as herdeiras. Por isso, o patriarca presenteou cada uma das filhas com um imóvel, todos bem avaliados no mercado imobiliário.

As mais velhas receberam de Roriz terrenos de 10 mil metros quadrados ao lado e ao fundo da conhecida mansão no Park Way, habitada pelo político até a sua morte. Para Liliane, o ex-governador comprou uma casa em uma das quadras mais valorizadas do Lago Sul, a SHIS QI 15. Ele também separou pedaços de terra dentro da Palma, com uma casa para cada filha.

Penhora da Palma
Além da briga entre as irmãs, há outra ação que corre em paralelo, a que cobra parte do patrimônio da discórdia. Em 2013, a Justiça do Distrito Federal decidiu pela penhora de 50% das cotas da Agropecuária Palma, as quais pertencem a Weslliane Roriz.

O bloqueio serviu para garantir o pagamento de notas promissórias devidas a José Maria da Cunha, um comerciante goiano. A decisão foi da 17ª Vara Cível do Distrito Federal. De acordo com o processo, caminhões e vasilhames próprios para o armazenamento e transporte de leite foram adquiridos de Cunha por integrantes da família Roriz, mas não foram pagos.

A alegação do clã é de que seis notas promissórias teriam sido quitadas, mas o juiz reconheceu apenas o pagamento de duas delas. O principal alvo da ação de penhora foi Weslliane, que era avalista do marido na negociação.

Além dela, o cônjuge Júlio Henrique Almeida Neuls e os parentes Leonardo Roriz, Maria Leila Vieira Roriz, Orlando Roriz e Ana Lea Roriz são réus na ação. Atualmente, o processo recebe embargos declaratórios por parte da defesa do clã Roriz.

Reprodução / Internet
Fazenda Palma, localizada em Luziânia e alvo das disputas judiciais

Os planos frustrados de Joaquim Roriz
Na época em que ainda estava em posse das plenas faculdades mentais, os planos do homem que governou o DF por quatro mandatos eram de manter a primogênita, Weslliane, no comando da Fazenda Palma e as outras duas filhas, Jaqueline e Liliane, na vida pública. Elas seriam as responsáveis por dar continuidade ao nome de Joaquim Roriz na política.

O castelo de baralho de Roriz começou a ruir quando Liliane decidiu entrar para a política. Jaqueline, então deputada distrital, era contra e as duas brigaram. O patriarca, que já havia sido enquadrado como ficha suja por ter renunciado ao mandato de senador na tentativa de escapar da cassação, referendou a vontade da caçula. A decisão prolongou a permanência do sobrenome no poder. Em 2010, Liliane foi eleita deputada distrital e sua irmã, federal.

Apesar da esperança de longevidade política, no mesmo ano em que tomou posse no Congresso Nacional, Jaqueline foi tragada por denúncias de corrupção. Ela foi envolvida no episódio da Caixa de Pandora, maior esquema de corrupção já visto no Distrito Federal, por reunir, em sucessivas fraudes, diversas instâncias do Executivo e do Legislativo com o setor produtivo.

Embora o escândalo, que levou o então governador José Roberto Arruda (PR) à cadeia, tenha sido revelado em 2009, os vídeos de Jaqueline recebendo dinheiro do delator do esquema, Durval Barbosa, apareceram em 2011. Ela e o marido, Manoel Neto, protagonizaram uma das filmagens mais emblemáticas do caso.

O episódio foi amplamente explorado nos tribunais. Jaqueline conseguiu cumprir todo o mandato de federal, mas, nas eleições de 2014, tornou-se ficha suja. Assim, o Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal (TRE-DF) a considerou inelegível.

Como a ex-deputada foi condenada por improbidade administrativa pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), ficou enquadrada na Lei da Ficha Limpa, que proíbe a candidatura de políticos que tenham sido sentenciados por órgão colegiado.

Liliane inelegível
Em meio a toda turbulência familiar que já atingia os Roriz, Liliane foi reeleita em 2014. Assumiu e atuou por mais quatro anos na Câmara Legislativa. Nas eleições de 2018, no entanto, ela estava condenada por compra de votos e não pôde concorrer a qualquer cargo. Assim, não continuou na vida política.

Ainda no ano passado, a família, já com Roriz bastante debilitado, fez sua aposta para manter o sobrenome do ex-governador em espaço de poder: lançou Joaquim Roriz Neto, filho de Jaqueline, na disputa pela Câmara dos Deputados, mas a a candidatura não vingou.

Hoje, as herdeiras do clã canalizam energia em garantir rendimentos por meio da exploração do que restou do espólio do patriarca.

Outro lado
O Metrópoles procurou as três filhas de Joaquim Roriz – Weslliane, Jaqueline e Liliane. Contudo, até a última atualização desta reportagem, as herdeiras não tinham respondido as mensagens nem retornado os telefonemas da equipe. O espaço segue aberto a manifestações.

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