A Mega Leilões, empresa responsável pelo leilão do Hotel Nacional de Brasília, informou que o imóvel colocado à venda pela 3ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais do Foro Central de São Paulo enfim foi arrematado. Após três tentativas de negócio frustradas por meio virtual, houve uma oferta feita presencialmente. Assim, a venda foi concretizada por R$ 93 milhões, valor que será parcelado. A família Canhedo, proprietária do hotel, disse que ainda não foi informada sobre o resultado.
A homologação foi feita pela Justiça de São Paulo na quinta-feira (29/11). “Autorizo o protocolo. Diante da apresentação da melhor proposta, aparenta ser de interesse o preço ofertado, de modo que homologo o auto de arrematação apresentado, assinando-o. Deposite o preço e aguarde-se o prazo de oposição de eventuais embargos”, diz a decisão do juiz Marcelo Barbosa Sacramone, da 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais.
Em nota enviada ao Metrópoles, a empresa esclareceu que o estabelecimento não havia recebido nenhum lance na terceira rodada do leilão virtual. No entanto, uma proposta de parcelamento foi feita presencialmente, o que não foi registrado na página on-line da disputa.
“Na verdade, não houve lance à vista. Entretanto, no auditório presencial, na presença do MP [Ministério Público], do administrador judicial e do leiloeiro responsável, foi apresentada proposta de arrematação para pagamento parcelado, nos termos do edital de leilão”, explicou a Mega Leilões, por meio de nota.
Ainda segundo a Mega Leilões, o ofertante foi a Incorp Empreendimentos Imobiliários. A reportagem tentou contato com a empresa por telefone, mas, até a publicação deste texto, não havia conseguido retorno.
Dívida
Decadente, o Hotel Nacional foi leiloado a contragosto da família Canhedo, proprietária do imóvel, para o pagamento de uma dívida da Petroforte Petróleo Ltda., uma falida distribuidora brasileira de petróleo.
Sobre o resultado da disputa divulgado pela Mega Leilões, o vice-presidente do Hotel Nacional, Wagner Canhedo Filho, disse à reportagem que a família ainda não foi informada. “Nós não recebemos essa informação. O hotel não é da Petroforte e ela não pode simplesmente vendê-lo. O que ela fizer vai ser impugnado”, informou.
Segundo ele, não há qualquer dívida do Hotel Nacional com a Petroforte, portanto, o patrimônio não poderia ser integrado à massa falida da distribuidora. A família Canhedo chegou a entrar na Justiça de São Paulo com um pedido de suspensão do leilão. No dia 11 de outubro, uma liminar foi negada pela juíza Adriana Bertier Benedito.
A primeira rodada, iniciada no dia 15 de outubro, foi finalizada sem interessados. O lance mínimo era de R$ 185,2 milhões. Na segunda fase, que durou até 12 de novembro, o estabelecimento também não recebeu propostas. O valor era de R$ 129,6 milhões.
Na última etapa, encerrada na terça-feira (27), o hotel era ofertado por R$ 92,9 milhões, metade do valor inicial. Ainda assim, nenhum dos nove participantes habilitados no leilão on-line fizeram lances. A página na qual a disputa era realizada teve mais de 5,6 mil visualizações.
Uma diária no hotel
No período em que a propriedade estava à venda, o Metrópoles se hospedou durante 24 horas no imóvel, na véspera do feriado do Dia da Proclamação da República, em 15 de novembro, e constatou que o glamour em torno do ícone do Setor Hoteleiro Sul ficou para trás.
O valor pago por uma diária foi R$ 165, preço maior que o da reserva on-line, a partir de R$ 150, para um adulto. No Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, pelo qual o Hotel Nacional já foi comparado, uma diária na mesma data custa pelo menos R$ 1.895.
A suíte presidencial, onde se hospedou a rainha da Inglaterra, Elizabeth II, em 1968, serve de moradia para o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB), preso em 2014 no processo do Mensalão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Na ocasião, o atual presidente do PDT disse que possivelmente se mudaria caso o hotel fosse arrematado, já que tinha “condições especiais” acertadas com o dono.
Veja fotos do Hotel Nacional:

Portas giratórias no lobbyIgo Estrela/Metrópoles

O Hotel Nacional foi inaugurado no Setor Hoteleiro Sul em 1961Igo Estrela/Metrópoles

Hotel também já hospedou o ex-presidente francês Charles de Gaulle Igo Estrela/Metrópoles

Lobby do hotelIgo Estrela/Metrópoles

Poucas pessoas frequentaram o lobby do hotel no feriado de 15 de novembroIgo Estrela/Metrópoles

Visita da rainha da Inglaterra, Elizabeth II, em 1968, foi registrada em placaIgo Estrela/Metrópoles

A palavra majestade está escrita com “g” na placaIgo Estrela/Metrópoles

Placa que registra a visita de Elizabeth II fica no hall dos elevadores sociais, no lobby do hotelIgo Estrela/Metrópoles

Antigamente, famosos e políticos reuniam-se em volta da piscinaIgo Estrela/Metrópoles

Hall dos elevadores sociais, no lobbyIgo Estrela/Metrópoles

No hotel, há quatro elevadores sociaisIgo Estrela/Metrópoles

Hall que antecede corredor para os quartos, no 9º andarIgo Estrela/Metrópoles

Porta da suíte presidencial, no 9º andarIgo Estrela/Metrópoles
Confira outra galeria de imagens:

Quarto do hotel, no 10º andarIgo Estrela/Metrópoles

Quarto no 6º andarManoela Albuquerque / Metrópoles

Produtos no banheiro de quarto no 6º andarManoela Albuquerque / Metrópoles

Bar ficou vazio em noite de pré-feriadoIgo Estrela/Metrópoles

Antigamente, local recebia políticosIgo Estrela/Metrópoles

Restaurante Coffee ShopIgo Estrela/Metrópoles

Espaço reservado para a família Canhedo, proprietária do hotel, no restaurante Coffee Shop, ao lado da piscinaIgo Estrela/Metrópoles

Piscina tem 15m x 12m, com profundidade de 2mIgo Estrela/Metrópoles

Marcas do hotel vão sendo apagadas com o tempoIgo Estrela/Metrópoles

Reunião de oração é realizada periodicamente no hotelIgo Estrela/Metrópoles

Salões onde eram feitas festas de gala para a alta sociedade estavam fechados em véspera de feriadoIgo Estrela/Metrópoles

O Salão Vermelho, próximo ao restaurante Coffee ShopIgo Estrela/Metrópoles

Hotel Nacional é leiloado por R$ 92,9 milhões e ainda não recebeu nenhum lanceIgo Estrela/Metrópoles

Hotel tem 347 quartos distribuídos em 10 andaresIgo Estrela/Metrópoles
História
Inaugurado em 1961, o Hotel Nacional tem 10 andares e 347 apartamentos distribuídos em 43 mil metros quadrados. Além da rainha, também fazem parte da extensa lista de hóspedes ilustres: os ex-presidentes dos Estados Unidos Jimmy Carter e Ronald Reagan; o ex-presidente francês Charles De Gaulle; e a ex-primeira-ministra da Índia, Indira Gandhi.
Por anos, moraram no icônico prédio vários deputados federais e senadores. Durante as décadas de 1960 e 1970, houve o auge dos bailes de gala, frequentados pela alta sociedade de Brasília. O lugar também era ponto de encontro para namorados e escondeu muitos segredos, como relacionamentos extraconjugais.

Festa Black Tie, no Salão Azul do Hotel Nacional em 1975. Carlos Eduardo Behrensdorf, Leda Naud, Marlene Galeazzi, ministro Paulo Brossard e Graciosa Galeazzi FrancoImagem cedida ao Metrópoles

Cynthia Tenser, gerente da joalheria R. Simon, atendendo duas famosas de Hollywood: Janet Gaynor, ganhadora do primeiro Oscar, com o filme Sétimo Céu, e Mary Martin, de famosos musicais, como Peter Pan e ao Sul do PacíficoImagem cedida ao Metrópoles

A gerente da joalheria R. Simon, Cynthia Tenser, recebendo o político americano Bob KennedyImagem cedida ao Metrópoles

Consuelo Badra e Lygia Camargo, que foi assessora do então poderoso ministro Roberto Campos, com Catherine Deneuve, famosa atriz francesa, em noite de gala no Hotel NacionalImagem cedida ao Metrópoles

Baile de Carnaval no Hotel NacionalImagem cedida ao Metrópoles

Baile de Carnaval no Hotel Nacional, em 1964Memória de Brasília / Reprodução do Facebook

Baile de Carnaval no Hotel Nacional, anos 1970Memória de Brasília / Reprodução do Facebook

Baile de Carnaval no Hotel Nacional, anos 1970Memória de Brasília / Reprodução do Facebook

Baile de Carnaval no Hotel Nacional, em 1964Memória de Brasília / Reprodução do Facebook
Atualmente, segundo funcionários, os principais hóspedes do hotel são políticos “menos poderosos” de outras cidades. Sindicalistas também costumam dar as caras no empreendimento, mas geralmente ficam apenas durante a semana. Com a mudança no perfil da clientela, as festas de gala deram espaço para eventos corporativos.