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Bispo de Formosa embolsou até dinheiro de crisma, diz testemunha

Segundo depoimento de vigário-geral, as contribuições dos fiéis para o sacramento iam direto para a conta particular de dom José Ronaldo

atualizado

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NEIVALDO MORAES/DIVULGAÇÃO
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1 de 1 bispo - Foto: NEIVALDO MORAES/DIVULGAÇÃO

Acusado de liderar uma organização criminosa suspeita de desviar cerca de R$ 2 milhões da Diocese de Formosa (GO), o bispo José Ronaldo Ribeiro teria embolsado até dinheiro das crismas. A denúncia foi feita pelo padre João Manoel Lopes, vigário-geral e um dos clérigos designados a gerenciar a igreja no Entorno do DF após a prisão da principal liderança religiosa do município, ocorrida em 19 de março, no âmbito da Operação Caifás.

A revelação foi feita na manhã desta segunda-feira (10/9), na audiência de instrução e julgamento de 11 acusados de dilapidarem o patrimônio da igreja. O depoimento do pároco durou 4 horas e meia. Ao juiz Fernando Oliveira Samuel, o religioso afirmou ter estranhado algumas práticas dentro da diocese. Os recursos arrecadados com a crisma – sacramento pelo qual, de acordo com a igreja, o batizado é fortalecido com o dom do Espírito Santo –, por exemplo, iriam direto para a conta particular de dom José Ronaldo.

Além disso, foi relatado o sumiço de quantias vultosas, sem que houvesse qualquer explicação por parte da direção da diocese. Segundo o promotor Douglas Chegury, responsável pelas investigações, a oitiva foi fundamental para explanar como era gerenciado o dinheiro da igreja. “A crisma não passava pela contabilidade e o bispo passou a receber esse dinheiro. Ele ainda contava com transferências bancárias da conta da Cúria e ‘mesadas’ de outros padres”, afirmou o integrante do Ministério Público de Goiás (MPGO).

Administração autoritária
Durante depoimento, o padre João Manoel Lopes disse ainda que considerava autoritária a administração do bispo dom José Ronaldo, por não levar em consideração as orientações do Conselho Paroquial. As decisões do conselho também eram influenciadas, conforme pontuou a testemunha de acusação.

Ao mesmo tempo, continuou o padre, foi registrado aumento expressivo de gastos na casa episcopal, a residência oficial do bispo e que passou a receber vários “hóspedes”, inclusive rapazes envolvidos em crimes que acompanhavam dom José Ronaldo há mais de 15 anos. Eles ficaram conhecidos como os “filhos do bispo”.

Conforme afirmou João Manoel, não houve prestação de contas a respeito desses gastos, que chegaram a R$ 35 mil. De acordo com a testemunha, dom José Ronaldo alegava fazer “caridade” para justificar o dispêndio exorbitante.

Outro tópico mencionado foi a escolha do padre Tiago Wenceslau, que exercia a função de juiz eclesiástico, para apurar denúncias referentes aos desvios de dinheiro na diocese. O pedido foi feito pelo próprio bispo José Ronaldo, que seria amigo de Tiago.

Houve, em dezembro de 2017, reunião extraordinária do conselho convocada para tratar sobre críticas relativas às finanças da diocese em rede social. No encontro, os padres teriam sido constrangidos pelo juiz eclesiástico. “O clima foi muito tenso. Ele intimidou e foi intransigente. A investigação que ele fez não foi séria. O relatório apresentado foi refeito várias vezes. Depois da prisão, a igreja disse que não via a atuação dele com bons olhos”, contou a testemunha.

O advogado do padre Tiago Wanceslau, Thiago de Pádua, rebateu dizendo que a fala do depoente era um “juízo de valor”.

Outros depoentes
Por volta das 15h, começou o depoimento do padre Jarbas Gomes Dourado. Arrolado como testemunha de acusação, ele foi ouvido como informante por ser próximo de um dos acusados. Dourado respondeu a perguntas feitas pelo Ministério Público goiano a respeito de movimentações financeiras dentro de igrejas.

A sessão teve início por volta das 8h45, no Fórum de Formosa. Foram arroladas 33 testemunhas para depor, sendo 10 de acusação, elencadas pelo MPGO. A expectativa do MP é de que a sentença saia até o fim deste ano. O bispo dom José Ronaldo chegou por volta das 8h ao Tribunal do Júri, mas não falou com a imprensa.

Caifás
As investigações começaram após o Ministério Público ter recebido denúncias de fiéis que desconfiaram dos desvios, supostamente iniciados em 2015. Entre as suspeitas, estava o fato de as despesas da casa episcopal de Formosa, onde o bispo mora, terem passado de R$ 5 mil para R$ 35 mil desde que dom José Ronaldo assumiu o posto.

Os religiosos teriam usado os recursos desviados dos dízimos para comprar fazenda e uma lotérica em Posse (GO), usada, com base nas diligências, para lavar o dinheiro. O MPGO ainda apura por que a Diocese de Formosa tem 160 veículos registrados, sendo que em sua jurisdição estão apenas 33 paróquias.

Como revelou o Metrópoles, a maioria desses carros é de luxo e custa mais de R$ 100 mil, cada. Além dos automóveis, a Caifás descobriu que as autoridades religiosas tinham joias e relógios de marca. Há cinco dias, a Justiça determinou a penhora de R$ 9 milhões de todos os acusados.

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