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Em 2020, denúncias de negligência médica no DF superam casos dos últimos 2 anos

Até outubro, foram abertos 143 PADs contra profissionais da saúde pública. Em 2019, foram 41; e, em 2018, dois

atualizado

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Hugo Barreto/Metrópoles
funcionarios da saude em atendimento a pacientes no hospital hran coronavirus
1 de 1 funcionarios da saude em atendimento a pacientes no hospital hran coronavirus - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

Em 10 meses de 2020, o número de denúncias de negligência contra médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem na rede pública de saúde do Distrito Federal superou os registros feitos em 2018 e de 2019 somados. A  abertura de Processos Administrativos Disciplinares (PADs) desde janeiro e durante o período da pandemia do novo coronavírus atingiu um patamar não visto no DF desde 2015.

O Metrópoles solicitou os dados via Lei de Acesso à Informação (LAI)  sobre as denúncias registradas desde 2015. Segundo a Controladoria Setorial de Correição Administrativa da Secretaria de Saúde do DF, ao longo de 2019 foram abertos processos por negligência contra 41 médicos,  enquanto que nos 10 primeiros meses deste ano, foram registrados 143 PADs contra a categoria.

Em 2018, houve a abertura de dois PADs para apurar posturas de médicos dentro da rede pública de saúde. Ambos os investigados foram demitidos após a investigação.

Em 2019, 33 profissionais deixaram a rede pública por conduta irregular. Eles perderam o cargo público, após apuração da Secretaria de Saúde.

Os casos de 2020 ainda estão em apuração. Em 2015, foram registradas 92 denúncias contra os profissionais médicos.

O presidente do Sindicato dos Médicos do DF (Sindimédicos), Gutemberg Fialho, acredita que os números refletem a insatisfação dos moradores da capital.

“No ano de 2020, a população demonstrou uma insatisfação enorme com o sistema público de saúde. O cidadão teve um atendimento ‘atabalhoado’ com relação à Covid-19 e, além disso, quem tinha outras doenças ficou sem atendimento. Com esse problema, a raiva, a indignação do paciente é direcionada ao servidor. Isso é bem nítido. Quem está na linha de frente recebe acusações”, disse Fialho.

Para ele, há “falta de profissionalismo em termos de gestão”. “Faltaram leitos, testes, a remoção de pacientes foi demorada. Isso com relação à Covid-19. Quando se fala em outras doenças, piora. E a queixa acaba sendo para quem está na frente da batalha”, completou o presidente da entidade que representa os médicos.

Fialho, no entanto, ponderou: “Se você considerar que o sistema do DF tem 30 mil servidores, com péssimas condições de trabalho e o número de PADs, é possível perceber que os médicos têm feito milagre. Sempre desejamos zero processos, mas, se não há condições de trabalho, de atendimento com dignidade, eles se tornam inevitáveis”, afirmou o presidente do Sindimédicos.

Mais reclamações

Entre os enfermeiros, os procedimentos também aumentaram: subiram de 13 para 31. Em 2019, 12 técnicos e auxiliares de enfermagem foram investigados em 2019. O número caiu para oito procedimentos em 2020.

Os dados foram compilados com os processos que entraram no sistema até 23 de outubro deste ano.

De acordo com a Unidade Setorial de Correição Administrativa, todos os PADs foram abertos por alegação de negligência.

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Mortes e acusações

Em junho, uma gestante acusou profissionais de saúde do Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib) de negligência médica. Edilene Rodrigues de Souza, 21 anos, afirmou que uma suposta demora da equipe em realizar o parto teria levado à morte prematura de sua filha.

Ao Metrópoles, a jovem relatou o drama quando decidiu procurar a unidade de saúde para realização de um exame. “Fui aconselhada pela médica do pré-natal a ir para o Hmib, pois estaria com dilatação e o coração da neném estava acelerado”, detalha. Ela sentiu dores, reclamou e os problemas duraram dias até que o coração de sua filha parou. “Sabia que aquela dor não era normal”, lamenta.

Em julho de 2019, após as denúncias recebidas pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) de negligência médica e violência obstétrica no Hospital Regional de Samambaia (HRSam), a Secretaria de Saúde instaurou uma Comissão de Sindicância para apurar pelo menos 15 episódios graves relatados por pacientes.

Casos que levaram pelo menos 11 mulheres a registrarem ocorrência na 26ª Delegacia de Polícia (Samambaia). As investigações eram sobre curetagem malfeita, destrato com pacientes e diagnósticos errados. Houve ainda suspeita da morte de bebês por negligência.

Em uma das ocorrências, “uma criança teve a clavícula quebrada durante o parto, o médico deixou restos de placenta no útero da mãe e ainda a chamou de sebosa e porca”, disse o delegado que conduziu as investigações à época, Guilherme Sousa Melo.

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