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Covid-19: DF ultrapassa 2 mil casos, mas 60% da população ignora isolamento

Mesmo com o avanço da pandemia em Brasília, o Metrópoles flagrou aglomeração em comércio, ruas cheias e até pagode

atualizado

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Hugo Barreto/Metrópoles
Homens se aglomeram em ponto de jogos no centro de Ceilândia
1 de 1 Homens se aglomeram em ponto de jogos no centro de Ceilândia - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

O congestionamento no centro de Ceilândia, a maior e mais populosa cidade do Distrito Federal, reflete uma perigosa mudança de comportamento dos moradores do DF nos últimos dias: o desrespeito à quarentena. Apontado por especialistas como a forma mais eficiente de evitar a propagação do novo coronavírus, o distanciamento entre pessoas tem sido cada vez menor.

Os números confirmam o termômetro das ruas: na capital do país, na última segunda-feira (04/05), apenas 43% da população cumpria o isolamento social. Nessa quarta-feira (06/05), o percentual baixou ainda mais, para 42,2%, colocando o DF na 13ª posição no ranking. Para se ter uma ideia, esse índice chegou a 65,5% em 22 de março, perto do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de 70%.

Não raro, é possível ver situações que justificam o índice de quase 60% dos que ignoram as medidas de combate ao avanço da doença no Distrito Federal.

A equipe do Metrópoles percorreu diversas regiões administrativas a fim de verificar se as medidas dos órgãos de saúde estão sendo adotadas. A reportagem flagrou dezenas de ambulantes expondo seus produtos em calçadas da Ceilândia, clientes se espremendo em estabelecimentos comerciais de Taguatinga e até festas privadas no Guará.

Em Ceilândia, vários grupos de pessoas jogavam dominó e baralho em pracinhas de uso coletivo.

Embora muitas pessoas estivessem usando máscara, poucas respeitavam a orientação da OMS de manter o distanciamento de pelo menos 1,5 metro uma das outras.

Veja imagens de Ceilândia:

No Guará II, até pagode regado a cerveja teve de ser desmontado pela Polícia Civil do DF (PCDF). O evento era realizado na Quadra 44. Os organizadores foram conduzidos à delegacia e os convidados obrigados a voltar para suas casas.

Durante o fim de semana, como mostrou o Metrópoles, jovens bebiam e fumavam maconha no Deck Sul, o que resultou em abertura de investigação pela Polícia Civil do DF (PCDF). Enquanto isso, o Itapoã servia de palco para a festa batizada de Sexta-feira Maldita da Xereca, também desmobilizada pela PMDF.

Polícia fecha pagode no Guará II:

Imagens do DF:

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Perturbação

A aparente falta de preocupação com a Covid-19 por parte dos moradores do DF ajuda a compreender os boletins diários da Secretaria de Saúde: após 62 dias do 1º caso registrado em solo candango, Brasília ultrapassou a barreira de 2 mil pessoas infectadas. Os números fechados dessa quarta-feira (06/05) indicavam 2.078 contaminados e 35 mortes.

Até mesmo a Fercal, que se mantinha ilesa ao coronavírus, passou a computar o primeiro morador com a Covid-19.

 

A queda na taxa de isolamento coincide, ainda, com o aumento de ocorrências de perturbação da paz. Durante o mês de abril de 2020, a PMDF foi acionada 495 vezes. Em abril de 2019, foram 190 registros. Ou seja, neste ano, o incremento foi de 160%.

A corporação também teve de atuar em 1.315 ocorrências por queixa de som alto neste mês. No mesmo período de 2019, foram 1.048.

Isolamento em risco

O motorista Enes Costa, 51 anos, reside em Ceilândia. A volta do movimento intenso de pessoas nas ruas da cidade causa preocupação para o baiano radicado no DF. “Na minha visão, sinceramente, a gente deveria continuar com o isolamento”, resume.

Veja o depoimento de Enes:

A autônoma Sonia Maria Teixeira, 46, também percebeu a volta das aglomerações na cidade que tem a maior quantidade de mortos por Covid-19: 5 no total. “Tem gente aqui em Ceilândia que não está respeitando o isolamento social”, conta. Para ela, é difícil se manter em quarentena, mas considera um sacrifício necessário. “Às vezes, a gente sente necessidade de se aproximar de alguém querido, mas não tem jeito agora”.

Confira o depoimento de Sonia:

 

Alerta dos especialistas

Ao Metrópoles, o infectologista Alexandre Cunha, do Hospital Sírio-Libanês de Brasília, reforçou a importância dos brasilienses continuarem reclusos durante a pandemia. “As medidas de distanciamento, neste momento, são as únicas que se mostraram eficazes para conter a disseminação rápida do vírus”, explica.

O médico ressaltou que o isolamento faz-se necessário, uma vez que estudos em busca da cura para a Covid-19 ainda não estão finalizados. “Uma vacina não estará disponível entre 1 ou 2 anos e os tratamentos que são alardeados como cura são experimentais”, pontua.

Avaliação de Alexandre Cunha: 

Cunha defende a quarentena por enxergar nela a única forma de se evitar o colapso no sistema de saúde do DF. “Se o número de infectados simultaneamente for muito grande, pode gerar uma sobrecarga no sistema; e essa sobrecarga pode fazer com que haja óbitos evitáveis, inclusive entre jovens. É o que ocorre, por exemplo, nos Estados Unidos”, compara.

Atividades não essenciais

O profissional de saúde comentou a possibilidade de reabertura de atividades não essenciais durante a pandemia. “Essas decisões têm de ser tomadas por organismos técnicos, baseados em dados estatísticos epidemiológicos, sempre pensando que a economia é importante para o país. Mas, também, pensando que, se a gente deixar todos circularem livremente, corre-se o risco de o nosso sistema de saúde não suportar”, analisa.

A infectologista Ana Helena Germóglio, do Hospital Águas Claras, atribui o crescimento recente no número de casos confirmados na capital ao não cumprimento das medidas impostas pela OMS. “As pessoas estão aderindo às máscaras, mas apenas isso não resolve o grave problema que se apresenta”, completa.

Movimento de pessoas no Taguacenter:

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Ela destaca que a população precisa se esforçar para conter o avanço da Covid-19. “Todas as ações não farmacológicas de contenção da disseminação só funcionam se forem usadas em conjunto. Mas está comprovado que a melhor medida ainda é o isolamento social”.

Do ponto de vista da infectologista Joana D’arc Gonçalves, o DF dificilmente conseguirá novamente atingir os altos índices de isolamento social, como em 22 de março, quando marcou 65,5%. “Infelizmente, teremos que pagar esse preço”, lamenta.

 Ouça o alerta feito pela infectologista Joana D’arc Gonçalves:

O que diz o GDF

Segundo o GDF, a PMDF e a Secretaria DF Legal continuam a fechar estabelecimentos abertos sem autorização, incluindo festas.

“Em caso de festas e outras aglomerações, a PMDF tem orientado a população quanto à permanência em casa e às medidas de proteção individual para evitar contaminação. Portanto, em caso de denúncias, os interessados devem ligar no número 162”, afirmou o governo em nota enviada ao Metrópoles.

A Secretaria de Saúde do DF também reforçou a importância do isolamento social. Para a pasta, a quarentena é necessária a fim de achatar a curva de crescimento epidemiológica na cidade.

“Outras providências para reforçar no combate ao coronavírus e conter o avanço da Covid-19 podem ser adotadas a qualquer momento pelo Governo do Distrito Federal a partir da publicação de decreto do governador Ibaneis Rocha”, conclui a nota.

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