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Coronavírus ameaça emprego de 200 mil domésticas no DF

Mensalistas, diaristas e patrões refazem contratos durante a crise, mas, em muitos casos, as trabalhadoras perderam o emprego e a renda

atualizado

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Igo Estrela/Metrópoles
Patroas e trabalhadoras mudam relações de trabalho para manter empregos durante pandemia
1 de 1 Patroas e trabalhadoras mudam relações de trabalho para manter empregos durante pandemia - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

O novo coronavírus atingiu em cheio a vida de 200 mil trabalhadores domésticos no Distrito Federal, segundo a associação da categoria. Parte perdeu o emprego. Outra parcela teve sorte, pois os patrões flexibilizaram os contratos de trabalho.

No DF, a família da trabalhadora doméstica Claudiane de Vasconcelos Oliveira, de 36 anos, está no grupo que conseguiu manter a renda. Nos últimos sete anos, ela trabalhou cinco dias por semana na casa da servidora aposentada Maria das Graças Falcão Jucá Alencar, 68, no Condomínio Quintas da Alvorada, no Lago Sul.

Agora, com a política de isolamento social para impedir a transmissão do coronavírus, Maria das Graças sugeriu a redução dos dias de trabalho de Claudiane, mas sem corte do salário. “Foi maravilhoso. Como ia pagar meu aluguel? Foi uma decisão muito humana”, comemora a trabalhadora.

Mãe solteira de um menino de 12 anos, a moradora de São Sebastião passou a trabalhar três vezes por semana. Com álcool em gel nas mãos e máscara, Claudiane sai de casa para trabalhar. Cada cuidado é vital para evitar a disseminação da Covid-19.

No ônibus, ela tenta viajar em cadeiras mais isoladas. “Não passo a mão no rosto nem na boca”, ressaltou. Ao chegar ao emprego, tira as roupas, toma banho e passa álcool para reforçar a desinfecção.

Claudiane começa o trabalho com outras roupas, sempre mantendo distância das demais pessoas. Como um mantra, ela repete os mesmos passos quando volta para casa, inclusive o banho e a nova troca de roupas. É um gesto de carinho e proteção com o filho.

Outros caminhos

Duas irmãs de Claudiane também ganhavam a vida com serviço doméstico. “Uma delas perdeu o emprego, foi mandada embora. Ela não tem renda nenhuma. Nós da família estamos tentando ajudar comprando cestas básicas”, lamentou.

A segunda irmã teve outro caminho. Os patrões negociaram para ela permanecer em casa recebendo salário. No caso das diaristas, que se enquadram na categoria de trabalhadores informais, o governo federal lançou auxílio emergencial de R$ 600. Veja o passo a passo de como solicitar o benefício.

Maria das Graças não preservou apenas o emprego de Claudiane: manteve os contratos do jardineiro e do piscineiro. “É uma questão de humanidade”, justificou a servidora aposentada.

A pandemia não afetou a renda de Maria das Graças. Além do gesto de solidariedade, ela também precisa do serviço doméstico, pois vive um quadro de saúde delicado. Independentemente dessas questões, ela faz campanha para que amigos não demitam seus funcionários durante a crise.

Renda mantida

A diarista Aldenice dos Santos Pereira, de 55 anos, moradora do Riacho Fundo 1, trabalhava em seis casas antes da crise do novo coronavírus. Para sua surpresa, os seis patrões pediram, por segurança, para que ela ficasse na própria residência durante o isolamento social. Os seis continuaram pagando diárias.

A consideração deixou Aldenice encantada. “A gente não está dentro de casa por que quer, está por que o mundo todo enfrenta uma pandemia”, afirmou.

Veja fotos das adaptações das relações de trabalho doméstico:

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Já a servidora pública Larissa Santos Araújo, 35 anos, moradora do Noroeste, manteve o pagamento das diárias da profissional que trabalha na residência dela. “Tenho um compromisso social. Foi por força maior. É importante preservar a vida e a renda dela”, resumiu.

Sindicato

Segundo a presidente da Associação Brasiliense das Empregadas Domésticas do DF e Entorno e diretora de comunicação do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos do DF, Samara Nunes, de 51 anos, infelizmente, os gestos de boa-fé não estão freando o desemprego.

A sindicalista ainda não conseguiu calcular a quantidade de demissões, mas destaca que tem recebido inúmeros relatos. “Vamos tentar negociar com as patroas a readmissão dessas pessoas”, disse.

A maior parte da mão de obra é composta por mulheres, chefes de família, que vivem no Entorno e nos bairros mais humildes do DF.

Pelas contas da associação, entre as 200 mil empregadas do setor no DF, 81 mil são formais, com carteira assinada. Além de mensalistas e diaristas, o trabalho doméstico inclui outras atividades, como jardinagem.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem 6,3 milhões de trabalhadoras e trabalhadores domésticos. Desse total, 2,5 milhões são diaristas, autônomas. Mas entre os mensalistas, só 1,5 milhão possui carteira assinada.

Higienização

O presidente do Instituto Doméstica Legal, Mário Avelino, aplaude os empregadores que não demitiram trabalhadoras durante a crise. Para esclarecer dúvidas de patrões e empregados, a instituição publicou uma cartilha com regras atualizadas. Veja neste link.

Segundo o especialista, no caso das mensalistas, as patroas podem suspender os contratos por dois meses, dentro do programa federal para a manutenção de empregos. Nesse período, os salários são pagos pelo governo federal.

“Quem contrata doméstica mensalista em grupo de risco deve aderir”, aconselhou. Para Avelino, quando não for possível, o ideal é reduzir a jornada por escalas, trabalhando um dia e ficando em casa no seguinte, para evitar a exposição diária ao transporte público.

Outras ferramentas

Avelino lembrou que existem outras ferramentas, como antecipação de férias. “Tem várias opções para o empregador se proteger, proteger a funcionária, e combater o coronavírus, mantendo o emprego e a renda da trabalhadora” argumentou.

Especialista dá dicas para patrões e domésticas. Veja no vídeo:

No caso dos diaristas, o Doméstica Legal recomenda a antecipação das diárias. “Quando voltar à normalidade, peça a compensação”, disse Avelino. O especialista destacou que todo acordo deve ser assinado por ambas as partes.

O Doméstica Legal defende que os empregadores tenham os mesmos benefícios financeiros e fiscais concedidos para as micro e pequenas empresas durante a crise.

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