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Caso Naja: PCDF conclui inquérito e indicia 11 por crimes ambientais

De acordo com investigações, um deles é o estudante de veterinária Pedro Henrique Santos Krambeck Lehmkuhl, picado pela cobra

atualizado

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Ivan Mattos/ Zoológico de Brasília
Naja no Zoo de Brasília
1 de 1 Naja no Zoo de Brasília - Foto: Ivan Mattos/ Zoológico de Brasília

Em uma coletiva na manhã desta quinta-feira (13/8), a Polícia Civil do DF (PCDF) divulgou os resultados das investigações que apuram o suposto tráfico de animais exóticos na capital do país. Segundo os policiais, diálogos comprovam as suspeitas. Onze pessoas foram indiciadas por crimes ambientais.

O inquérito conduzido pela 14ª Delegacia de Polícia (Gama) teve como principal alvo o estudante de veterinária Pedro Henrique Santos Krambeck Lehmkuhl, 22 anos, picado por uma cobra Naja kaouthia criada clandestinamente em sua casa, no Guará. Ele foi indiciado por tráfico animais silvestres, associação criminosa e exercício ilegal da medicina veterinária.

A mãe de Pedro, Rose Meire dos Santos Lehmkuhl, e o padrasto dele, o coronel da PMDF Eduardo Condi, também foram indiciados, assim como o major Joaquim Elias Costa Paulino, comandante do Batalhão Ambiental da Polícia Militar do DF.

“Foi elucidado um esquema de tráfico de animais a partir desse rapaz, onde se comprovou que ele trafica animais. Ele traz cobras de outros estados. Temos registros de viagens, vendas, diálogos a partir de aplicativos de conversa. Compra, venda, valores. Pessoas que compareceram à delegacia e que confirmaram o valor, modo de entrega”, afirmou o delegado Willian Ricardo, da 14ª DP.

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Ele é suspeito de fazer parte de uma organização criminosa que trazia animais exóticos ilegalmente para o país. O jovem chegou a ser preso, mas solto após seus advogados conseguirem um habeas corpus.

Segundo a PCDF, a partir dos elementos colhidos, foi possível verificar, pela grande quantidade de animais apreendidos, que “Pedro Henrique é traficante de animais silvestres e não mero colecionador”.

Confira todos os indiciados:

    • Pedro Henrique: tráfico de animais, associação criminosa e exercício ilegal da medicina.
    • Rose: fraude processual, corrupção de menores, tráfico de animais, maus-tratos e associação criminosa.
    • Clovis Eduardo condi: tráfico de animais, fraude processual, maus-tratos e associação criminosa.
    • Gabriel Ribeiro: posse ilegal de animal silvestre, maus-tratos, fraude processual e corrupção de menores
    • Julia Vieira: posse ilegal de animal silvestre e corrupção de menores
    • Fabiana Sperb Volkweis: fraude processual
    • Raynner Leyf: posse ilegal, fraude processual e associação criminosa
    • Major Joaquim Elias: prevaricação, fraude processual, associação criminosa, coação no curso do processo.
    • Silvia Queiroz: fraude processual
    • Luiz Gabriel: favorecimento real
    • Gabriel Moraes: associação criminosa e maus-tratos

Preços

Pedro entrou no mundo do tráfico de animais em 2017, segundo os investigadores. Passou a reproduzir as serpentes e vender os filhotes. Cada filhote custava cerca de R$ 500. “Deixamos claro que não se trata de um colecionador. Nessa investigação, tratamos de separar os criadores de quem compra, vende”, esclarece o delegado.

A afirmação é corroborada por mensagens de texto trocadas entre o jovem e a mãe dele, Rose. Em uma delas, o universitário passava pela cidade de Ibotirama (BA) e trazia consigo uma cobra. Ele também mantinha contatos de outros traficantes de animais.

“Para alimentar essas cobras, são necessários ratos, que são oferecidos vivos ou mortos. Mortos, eles precisam estar congelados. Quem tem esses animais em casa geralmente mantém no congelador e depois descongela em banho-maria. Na residência desse rapaz tinha uma série de camundongos congelados no freezer”, explica Willian Ricardo.

A rede

Pedro passou a ter mais de 20 serpentes. O local em que ele criava, no Guará, ficou pequeno e os amigos passaram a ajudar. A mãe era responsável por alimentar as cobras e cuidar: há fotos e vídeos em que ela alimenta os animais e cuida dos camundongos.

“O material colhido é extenso. Ela (a mãe de Pedro) forneceu o cativeiro e ajudou nos cuidados dessas cobras”, diz o delegado. E Rose foi indiciada por tráfico de animais, associação criminosa e maus-tratos. Os indiciados foram indiciados 22 vezes, uma vez para cada animal.

Em relação ao padrasto, o coronel da PMDF Eduardo Condi, ele foi indiciado pelos mesmos crimes do rapaz e da mãe por ter permitido “que a residência virasse cativeiro”, nas palavras de Willian Ricardo.

Eles afirma que todos tinham ciência do crime e fizeram registros. A atividade era liderada é capitaneada pelo rapaz com o suporte da mãe e do padrasto. A criação de camundongos ficava na área de serviço. “A cobra transitou por alguns locais de Brasília. Em uma das representações, eu avisei ao Judiciário que uma tragédia era questão de dias”, disse o delegado.

Na quarta-feira (12/8), uma pessoa que comprou um filhote foi ouvida na delegacia. “Dentro do curso de veterinária surgiu uma associação criminosa desses rapazes”, aponta o policial, contando que foi encontrada a rifa de um gecko (espécie de lagarto) entre os estudantes.

De acordo com Willian Ricardo, os envolvidos achavam completamente normal esse tipo de criação. E um deles chegou a definir como pet, como um gato e cachorro. “Os professores tinham ciência do caso. Uma orientou para soltar os animais”, lembra o delegado.

“É importante frisar que a soltura dos animais é crime. A entrega voluntária, não. Temos informação de cobras que estão sendo soltas na natureza. A corn snake é a porta de entrada para esse crime”, cita o policial. Uma das descobertas da investigação foi o registro de uma cirurgia feita em um estabelecimento comercial da família de Pedro. Por isso, o rapaz foi autuado por exercício ilegal da medicina veterinária.

No Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), os policiais também encontraram o que chamaram de “verdadeira lavagem de animal”. Os bichos entravam ilegais e saíam com a documentação.

Depois da picada

De acordo com as investigações, Gabriel Ribeiro, amigo principal de Pedro Henrique, foi acionado pela família quando o caso da Naja estourou várias vezes. Em uma dessas oportunidades, o padrasto de Pedro Henrique teria ajudado a tirar cobras do apartamento. “O delito caracteriza fraude processual. Todos também foram indiciados por fraude por essa conduta”, diz Willian Ricardo.

A Naja e outras serpentes foram escondidas em um haras. Ao fim no dia, o Batalhão de Polícia Militar Ambiental foi avisado para recolher o animal atrás de um shopping. Então, entra o major Joaquim Elias Costa Paulino, comandante do BPMA, que chegou ao local para pegar a Naja. O policial também foi indiciado por fraude processual, prevaricação e coação no curso do processo.

“O rapaz afirmou à polícia que fez um acordo com o BPMA para entregar o animal e não ser preso. Em razão disso, o então comandante foi indiciado por prevaricação”, detalha o delegado. “A conduta dos PMs atrapalhou as investigações”.

A professora de veterinária veterinária Fabiana Sperb Volkweis também foi indiciada por fraude processual porque incentivou o aluno a soltar a cobra. “Todos fizeram questão de ocultar e atrapalhar as investigações. Não há outra consequência senão a responsabilização penal”, diz o delegado.

A polícia ainda não sabe quanto eles movimentaram em dinheiro, mas todos os indiciamentos serão multiplicados 22 vezes, que é o número de animais envolvidos no tráfico.

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