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Após espancamento na Papuda, Justiça determina instalação de câmeras

A Saúde também foi oficiada para que avalie a possibilidade de oferecer imediatamente serviço de atendimento em saúde mental para policiais

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Homem sendo espancado
1 de 1 Homem sendo espancado - Foto: Reprodução

A Vara de Execuções Penais (VEP) intimou o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), determinando a instalação de câmeras de segurança nas alas, acessos e pátios de todas as unidades prisionais do Distrito Federal. A decisão foi dada após três policiais penais terem sido flagrados espancando dois encarcerados no Presídio do Distrito Federal I (PDF I).

Conforme o Metrópoles revelou com exclusividade nesta quinta-feira (3/6), três policiais penais lotados no Complexo Penitenciário da Papuda foram afastados preventivamente pela VEP, a pedido do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). Os servidores ainda usaram uma escopeta municiada com balas de borracha e atiraram em detentos que estavam dentro de uma cela. Os dois fatos, registrados por câmeras de segurança, ocorreram na noite de 16 de abril deste ano.

A Justiça também intimou o secretário de Administração Penitenciária, Geraldo Luiz Nugoli Costa, para que adote as providências necessárias em relação à formação continuada de policiais penais para o adequado uso dos procedimentos de intervenção em situações de crise.

A Gerência de Saúde Prisional, da Secretaria de Estado de Saúde, também foi oficiada a fim de que informe, no prazo de 30 dias, sobre a possibilidade de instalar imediatamente um serviço de atendimento em saúde mental para policiais penais lotados em unidades prisionais.

Assista:

 

As sessões de violência teriam contribuído para a exoneração do ex-secretário de Administração Penitenciária (Seape) Agnaldo Curado, em 25 de maio. O caso foi considerado gravíssimo pelas autoridades após câmeras instaladas nas galerias do Bloco D da PDF I terem flagrado cenas nas quais um detento é espancado por nove policiais penais armados com tonfas – espécie de cassetete.

O caso é apurado pelo Núcleo de Controle e Fiscalização do Sistema Prisional (Nupri), do MPDFT, e acompanhado de perto pela Comissão de Defesa dos Direitos Humanos, Cidadania, Ética e Decoro Parlamentar da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF).

Sem defesa

Os dois presos alvos das agressões teriam brigado no interior de uma cela que abrigava 23 internos, por volta de 18h40. Os policiais penais integrantes da equipe de plantão correram até o local e teriam dado ordens para a confusão cessar. Em seguida, um dos servidores apontou uma escopeta calibre .12 por dentro de uma das passagens de ar usadas para ventilar a cela e abriu fogo. No vídeo, é possível identificar o momento em que faíscas provocadas pela combustão do disparo saem pelo cano da arma longa.

Veja:

 

Um dos apenados recebeu a ordem de abrir a porta da cela onde ocorria a briga e ficar com o rosto voltado para a parede. Em seguida, outro interno envolvido na confusão deixa o interior do local, senta no corredor e cruza os dedos das mãos atrás da cabeça. Posteriormente, o detento se levanta, tira o short e fica apenas de cueca. O grupo formado por nove policiais chega logo depois, e o espancamento começa.

Sem apresentar qualquer reação, o interno é cercado e golpeado com tonfas, enforcado e jogado no chão, onde recebe chutes e pisões. As imagens não mostram o outro detento apanhando, embora ele também conste como agredido na investigação conduzida pelo MPDFT. Após o episódio, os dois foram levados para o “castigo”, tipo de solitária onde os presidiários ficam afastados da massa carcerária sem direito a banho de sol.

Denúncias graves

Denúncias sobre as agressões foram feitas tanto no Ministério Público quanto na Câmara Legislativa. Poucos dias após os espancamentos, promotores do Nupri tomaram conhecimento de que um dos internos, mesmo com suspeita de fratura, não havia recebido assistência médica.

A denúncia acrescentou, ainda, que atendimentos jurídicos por videoconferência estariam sendo cancelados quando os custodiados apresentavam lesões corporais, a fim de evitar que esses ferimentos fossem vistos. Nessas hipóteses, aponta o documento, a justificativa era de que o cancelamento seria em razão do isolamento por suspeita de contaminação por Covid-19.

As gravações foram entregues ao Ministério Público pelo então diretor da PDF I, delegado Mário Lúcio de Menezes do Amaral. Cerca de um mês depois, no entanto, Mário Lúcio foi exonerado do cargo e substituído pelo policial penal Helton José Meireles Júnior, chefe do plantão responsável pelas agressões cometidas contra os presos.

Lesões confirmadas

Logo após as agressões, os policiais penais se viram obrigados a confeccionar uma ocorrência administrativa, e os presos precisaram ser levados ao Instituto Médico Legal (IML), onde passaram por exame de corpo de delito.

Apenas em um dos detentos, conforme mostra o laudo, foram constatadas as seguintes lesões: “Ferida contusa medindo cerca de 2 centímetros em região palpebral superior esquerda com edema leve local. Edema leve da mucosa interna do lábio superior; ferida contusa superficial de cerca de 1 centímetro em região occipital direita da cabeça; escoriação de cerca de 3 centímetros de diâmetro em região anterior do joelho direito e escoriação de cerca de 5x2cm em região posterior do ombro direito”.

O segundo detento a passar pelo IML apresentou machucados em decorrência do suposto espancamento, como um dente quebrado e lesões em um dos punhos.

Versões contraditórias

O Ministério Público também apura o conteúdo da ocorrência administrativa confeccionada na Papuda. Quando confrontadas com imagens registradas nas câmeras de segurança, as alegações dos policiais penais seriam contraditórias.

Os fatos não teriam ocorrido exatamente como descritos na ocorrência administrativa. As declarações iniciais dos sentenciados aos médicos legistas e aos representantes da direção da PDF I também não condiziam com o descrito pelos policias penais.

Em 28 de maio, um promotor de Justiça e sua equipe passaram o dia realizando oitivas de pessoas presas na PDF I. As investigações estão em andamento.

Direitos humanos

O presidente da Comissão de Direitos Humanos da CLDF, Fábio Felix, encaminhou à Seap um pedido de investigação sobre o episódio. No documento, o distrital pediu “a análise dos fatos relatados e das solicitações elencadas, e a tomada das providências que garantam a dignidade dos internos do Sistema Penitenciário do DF”.

Veja o ofício abaixo:

 

Já o MPFDT, em nota, confirmou a investigação e ressaltou que a intenção é identificar outros envolvidos nas agressões. Veja o texto, na íntegra:

“Poucos dias após os fatos, o Ministério Público recebeu denúncia sobre as agressões e de imediato iniciou investigação interna sigilosa, requisitando à direção do presídio o resguardo da integridade física dos presos e o envio das filmagens sobre os fatos. Em seguida, o MPDFT realizou diligências, identificou policiais envolvidos e pediu que fossem afastados, o que foi prontamente atendido pela VEP. No dia 11 de março de 2021, foi editada a Recomendação Conjunta º 01/2021 – Nupri/MPDFT – NEP/DPDF que, dentre outras providências, indica que a SEAPE deve enviar ao MPDFT, no prazo de 48h, as imagens relativas a eventos envolvendo violência contra custodiados. O MPDFT prossegue com as investigações para apurar os fatos e identificar os demais envolvidos, a fim de que sejam devidamente responsabilizados. Também analisa a possibilidade de investigar possíveis vazamentos, uma vez que a investigação é sigilosa”.

O que diz a Seap

A  Secretaria de Administração Penitenciária também se manifestou e destacou ter afastado os envolvidos em cumprimento à decisão expedida pela VEP. A pasta ainda ressaltou que a atitude dos servidores não faz parte dos protocolos da unidade. Leia a nota abaixo:

Ainda no âmbito da investigação administrativa, a Seape/DF determinou a abertura de sindicância para apurar todas as circunstâncias acerca da denúncia ora apurada pelo Núcleo de Controle e Fiscalização do Sistema Prisional (Nupri) do MPDFT. Em relação aos presos envolvidos, a pasta determinou a transferência deles para outra unidade prisional. A medida visa assegurar a integridade física dos detentos. Ressalte-se que a Seape/DF não coaduna com qualquer desvio de conduta por parte de seus servidores e adotará todas as medidas cabíveis para averiguação dos fatos informados e, caso se confirmem, promoverá a devida responsabilização dos envolvidos“.

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